“Eu me debatia entre a esperança e o desespero. Principalmente desespero: a esperança era cada vez mais remota.”
Mo Yan em Mudança
“Eu me debatia entre a esperança e o desespero. Principalmente desespero: a esperança era cada vez mais remota.”
Mo Yan em Mudança
Chegamos ao fim de Hibisco Roxo! Foram oito semanas de leitura prazerosa e de um debate interessante. Agora, queremos saber: o que vocês mais e menos gostaram no livro da Chimamanda Ngozi Adichie? Mande sua opinião para nosso e-mail blogachadoselidos@gmail.com. Vamos publicar as impressões por aqui na semana que vem!
Por Mariane Domingos e Tainara Machado
Eu ri. Rir parecia muito fácil agora. Muitas coisas pareciam fáceis agora.
Esta frase de Kambili representa muito bem a narrativa de Hibisco Roxo. Como comentamos por aqui na semana passada, este é um livro sobre liberdade. Ou melhor, sobre a descoberta da liberdade.
Kambili percorreu um longo e delicado caminho de reconhecimento do que é o mundo longe da intolerância do pai. Chimamanda, com sua escrita sensível e próxima, posiciona o leitor ao lado da jovem narradora e nos faz perceber o mundo pelos seus olhos.
A princípio, sentimos estranhamento. Em que século vive esta garota? Será uma criança? De onde surgiu uma figura como Papa? Mas à medida que a leitura avança, a empatia pela menina e seu contexto familiar, social e político só aumenta. Chimamanda consegue isso, porque questiona nossos preconceitos e nos tira da posição de julgar a situação pelas nossas verdades e cultura. Com sutileza e uma habilidade admirável para usar metáforas, a escritora nos apresenta a cultura nigeriana (com direito a detalhes sobre o idioma igbo, a culinária e a moda local) e também nos conta a história de opressão daquele povo, que sofre as heranças de um processo de colonização. Nos sentimos próximas de Kambili, porque, assim como ela, também estamos mergulhando no desconhecido. É tempo de descoberta para a jovem e para nós, leitores.
Até onde somos capazes de chegar em busca da verdade? Essa é a grande saga de Juan de Vere, narrador-personagem de Assim começa o mal, romance de Javier Marías, lançado no segundo semestre de 2015 aqui no Brasil.
Na Madri pós-ditadura franquista, o jovem De Vere se vê envolvido em uma história pautada por desejos, rumores e segredos. Juan trabalha como assistente de Eduardo Muriel, cineasta que já viveu seu auge e tem um casamento conturbado, cheio de mistérios. Por conta de suas funções, Juan fica hospedado durante longos períodos na casa dos patrões e, aos poucos, passa de testemunha a ator coadjuvante da jornada dessa família.
Além da história íntima dos Muriel e de De Vere, o livro traz a cena política da Espanha dos anos 80 – um país imerso no dilema de como enfrentar as recordações dos anos truculentos da ditadura. Silenciar e deixar pra trás? Reescrever as cenas mais tristes? Amenizar os fatos em nome da boa convivência? Julgar e nomear vilões e heróis?
Eu tenho manias pequenas de organização. Digo pequenas porque elas não se estendem a um leque muito amplo de assuntos. Não tenho TOC com sapato virado para baixo, armário desarrumado, caixa de entrada de emails lotada. Não fico paranoica se não guardar minhas contas exatamente em ordem cronológica.
Feito esse parênteses, preciso dizer que sofro de transtorno obsessivo por catalogar e arrumar livros. Começou cedo. Quando eu era pequena, lembro do meu pai catalogando revistas de letra e música (sim, foi no século passado que isso aconteceu), que ele usava para poder tocar violão. Não sei exatamente quais eram seus critérios, mas me recordo que cada revista tinha uma etiquetinha com um número, cada número recebia um título em uma planilha, que ficava em uma pasta e, posteriormente, no computador, e esse sistema permitia que ele achasse facilmente o que queria.
Eu não devia ter mais do que dez anos de idade e achei aquilo incrível. Decidi, então, catalogar meus gibis da Turma da Mônica, que formavam praticamente todo meu acervo literário da época. Era fácil. Como eu não perdia quase nenhuma edição, só precisava seguir a ordem da banca. Mesmo assim, às vezes achava um exemplar perdido pela casa e ficava muito frustrada em ter que incluí-lo no lugar errado, atrapalhando toda a numeração.
“Aquele que, em certa altura da vida, deseja realizar os sonhos e as esperanças da juventude, sempre se equivoca, pois cada decênio da vida de um homem traz consigo sua própria felicidade, suas próprias esperanças e expectativas.”
Johann Wolfgang von Goethe
em As Afinidades Eletivas
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