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[Resenha] Seda

Diziam que era um embusteiro. Diziam que era um santo. Alguém dizia: paira alguma coisa sobre ele, como uma espécie de infelicidade.

Uma viagem da França até o Japão em busca de ovos do bicho-da-seda é um tema tão amplo que poderíamos imaginar essa saga recontada por vários autores. Uma aventura de Júlio Verne, um drama histórico de Tolstoi, um relato no melhor estilo Robinson Crusoe de Defoe.  Nada disso, porém, chega perto de resumir Seda, do italiano Alessandro Baricco.

Neste livro, a travessia para o outro lado do mundo é a origem a um romance tão delicado quanto o tecido que dá nome à obra. Sutileza é, aliás, o principal traço de Baricco. Seda narra quase toda a vida de um homem, com suas diversas viagens ao Japão, mas não há detalhes supérfluos, diálogos excessivos, descrições detalhadas. A história segue um ritmo suave, se apoia em repetições para marcar a passagem do tempo e parece exigir calma do leitor. Como na vida, a impressão que temos é que qualquer virada de página mais brusca poderia alterar de forma irrevogável essa história.

O personagem principal, Hervé Joncour, era um homem comum. Morava em uma pequena vila no sul da França. Esperava atender aos desígnios do pai e seguir carreira militar. Casado com Hélène, uma jovem de voz bonita, ainda não tinha filhos. Não era um homem ambicioso.

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[Lista] 5 destinos que conheci pelos livros

Julho está chegando e é mês de férias para muita gente (inclusive para mim \o/), por isso resolvi falar de duas das coisas que mais gosto na vida: leitura e viagem. Pode até ser clichê, mas é a mais pura verdade que ler é viajar sem sair do lugar. Preparei, então, uma lista com cinco destinos que a literatura me apresentou.

1. Islândia: o romance A Desumanização, do escritor Valter Hugo Mãe, se passa na Islândia – uma terra de beleza exótica e de uma espiritualidade intrínseca à natureza. A história é narrada por Halla, uma menina que enfrenta, ainda na infância, o significado da morte. Ela perde sua irmã gêmea, Sigridur, e se vê obrigada a encarar o inevitável – o amadurecimento. O livro traz, por meio da escrita delicada de Mãe, um retrato poético da região e de sua cultura:

O meu pai também dizia que a Islândia era deus e era a beleza de deus. E achava que, um dia, deus ia ficar feio. Quando deus ficar feio, disse ele, as coisas mudarão de lugar. As de cima para baixo, as de baixo para cima e as do meio para dentro. Até, talvez, vir para fora aquilo que está agora escondido. As coisas boas e as más.

O escritor sempre teve um fascínio pela Islândia. No posfácio, ele até agradece artistas como Björk, pela influência que tiveram no seu imaginário encantado sobre aquelas terras: “Sei que este livro é uma declaração de amor esquisita, mas é a mais sincera declaração de amor aos fiordes do oeste islandês”. Mãe passou uma temporada na Islândia para escrever esse romance e quem o acompanha nas redes sociais sabe que ele já se tornou um habitué da região!

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“ENTREVISTADORA: Algumas pessoas dizem que não conseguem entender o que o senhor escreve, nem mesmo depois de ler duas ou três vezes. O que o senhor poderia lhes sugerir?

FAULKNER: Que leiam quatro vezes.”

 

Entrevista com William Faulkner,
em As Entrevistas da Paris Review – vol. 1

[Vozes de Tchernóbil] Semana #8

Acabou! Depois de dois meses de uma leitura intensa, chegamos ao final de Vozes de Tchernóbil. E você, o que achou do livro? Mande sua opinião para o e-mail blogachadoselidos@gmail.com. Na próxima semana, publicaremos por aqui as impressões dos nossos leitores.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Nos últimos posts sobre Vozes de Tchernóbil, destacamos o excelente trabalho de edição de Svetlana Aleksiévitch. O seu discurso na cerimônia do prêmio Nobel de Literatura, em dezembro do ano passado, é significativo para a narrativa, porque amarra alguns temas presentes nos diversos relatos, agora sob o seu ponto de vista.

Fechar o livro com essa fala da escritora também foi um grande acerto de edição, dessa vez da Companhia das Letras. O discurso é belo e tem o tom pessoal de Aleksiévitch que, por vezes, sentimos falta ao longo do livro. O capítulo final parece nos aproximar ainda mais da autora do que aquele início, em que ela entrevista a si mesma. Talvez seja porque depois de ouvir tantas vozes estejamos mais preparados para entender as inquietações que mobilizaram Aleksiévitch.

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[Resenha] Voltar Para Casa

Voltar para casa. Essa frase simples, cheia de significado e tão cara à literatura, ganhou contornos dignos de nota nas mãos da premiada escritora norte-americana Toni Morrison.

Não são raras as narrativas que partem da ideia lírica do retorno ao lar. A parábola bíblica do filho pródigo e a odisseia de Ulisses em seu regresso a Ítaca estão aí para confirmar o flerte antigo da literatura com essa temática. No livro Voltar para Casa (no original, Home), lançado neste ano no Brasil, Morrison se destaca por questionar a visão romântica de lar. Já na epígrafe da obra, uma canção escrita pela autora muitos anos antes, percebemos essa intenção:

De quem é esta casa?
De quem é a noite que não deixa entrar a luz
aqui?
Me diga, quem é dono desta casa?
Não é minha.
Sonhei com outra, mais doce, mais clara
com uma vista de lagos que barcos pintados atravessam;
de campos largos como braços abertos para mim.
Esta casa é estranha.
Suas sombras mentem.
Olhe, me diga, por que minha chave encaixa na fechadura?

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