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[Dicas da Imensidão] Semana #6

No quinto conto da coletânea, Morte por Paisagem, Margaret Atwood usa alguns elementos narrativos que já vimos nos contos anteriores, mas também trabalha temáticas novas, como a ausência e o mistério. Mais uma narrativa que se destaca pela sutileza do texto e pelas metáforas bem construídas. Para a próxima semana, leremos Tios, que vai até a página 154.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Em Morte por Paisagem, notamos, mais uma vez, uma fórmula que parece cara à Atwood: uma personagem relembrando, já na fase adulta, um episódio de sua juventude. O cenário – um acampamento de férias – também remete ao primeiro conto da coletânea e comprova outra inclinação da escritora canadense: as descrições detalhadas de paisagens naturais. Essa tendência, provavelmente, tem relação com a experiência pessoal da autora, que passou boa parte de sua infância nas florestas canadenses (comentamos um pouco sobre isso neste post).

Mais do que um cenário, nessa última leitura, a natureza tem um papel importante. No começo, ela marca presença nos quadros de paisagens que Lois coleciona. Algo nas pinturas a chama, embora ela não saiba explicar bem o quê. Ao revirar suas memórias, essa conexão fica clara.

Os devaneios da Lois já adulta, recentemente enviuvada, nos leva à colônia de férias que era o destino dela e de tantas outras garotas de classe média alta durante os verões. É lá que ela conhece Lucy, uma americana que logo se torna sua amiga. Nem mesmo os longos intervalos entre as temporadas de férias abalam a relação.

Nos breves e espaçados encontros narrados por Lois, notamos o amadurecimento das meninas e como Lucy parecia se adiantar nesse quesito. Talvez o ambiente familiar complexo e um tanto desestruturado fizesse com que a garota acelerasse seu desenvolvimento, de uma maneira nada saudável.

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[Resenha] O Inferno dos Outros

O anúncio recente da premiação do escritor israelense David Grossman no Man Booker International Prize 2017, pelo romance O Inferno dos Outros, me fez tirar esse livro da prateleira, onde ele estava, um tanto esquecido, desde uma daquelas compras impulsivas, movidas a descontos imperdíveis.

A trama tem uma ambientação inusitada. Ela se desenrola durante um show de stand-up do humorista Dovale, em Netanya, uma pequena cidade israelense. Se você, como eu, não é grande fã desse tipo de espetáculo, irá avançar pelas primeiras páginas com desconfiança.

O início é um pouco pesado, por causa das piadas não muito engraçadas, das descrições minuciosas da aparência e dos movimentos de Dovale e também pelos momentos constrangedores, tanto para plateia quanto para o humorista, típicos desse tipo de show. Mas antes que eu sentisse vontade de desistir, Grossman joga a primeira isca: o narrador que parecia ser onisciente é, na verdade, um narrador em primeira pessoa. É alguém que está na plateia e que conhece Dovale.

À medida que a leitura avança, descobrimos que se trata de seu amigo de infância, o juiz aposentado Avishai Lazar. Ele havia recebido uma ligação do humorista, com quem não tinha nenhum contato há décadas, pedindo que ele assistisse à sua apresentação e, depois, contasse-lhe o que havia enxergado. De início, Lazar sequer lembra quem era Dovale. Na verdade, ele só irá recordar totalmente durante o espetáculo.

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[Divã] O fim da privacidade

Na semana passada, fomos convidadas pela Companhia das Letras para assistir à pré-estreia de O Círculo, filme baseado no romance de David Eggers, recém-lançado no Brasil (o texto contém algumas informações sobre a sinopse do filme, para quem não gosta de spoilers!)

O filme começa com Mae, interpretada por Emma Watson, voltando do trabalho em um carro bem velho, que quebra no meio da estrada e a obriga a chamar um amigo para ajudá-la. Ao poucos, vamos nos ambientado em sua vida: um dia a dia tedioso em um trabalho mal pago, que mal lhe permite dar suporte financeiro para sua família. Para complicar mais a situação, a saúde do pai vai se deteriorando e, claro, o convênio não cobre os custos do tratamento. A vida simples da personagem é visível de seu vestuário até seu carro caindo aos pedaços.

As coisas começam a mudar quando sua amiga Annie lhe consegue uma entrevista em uma empresa chamada Círculo, situada em um “campus” semelhante ao do Google ou Facebook. Aceita na empresa depois de uma entrevista um tanto atípica (e superficial), Mae passa a mergulhar no mundo das empresas de tecnologia.

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“Cedo ou tarde, na vida, cada um de nós se dá conta de que a felicidade completa é irrealizável; poucos, porém, atentam para a reflexão oposta: que também é irrealizável a infelicidade completa. Os motivos que se opõem à realização de ambos os estados-limite são da mesma natureza; eles vêm de nossa condição humana, que é contra qualquer ‘infinito’.”

 

Primo Levi em É isto um homem?

[Dicas da Imensidão] Semana #5

Quão transformadora é a passagem do tempo em relação a coisas, pensamentos e, principalmente, sentimentos? Esse é o tema central de O Homem do Brejo, quarto conto de Dicas da Imensidão, de Margaret Atwood. Para a próxima semana, leremos Morte por Paisagem, que vai até a página 128.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

O pano de fundo da narrativa de O Homem do Brejo é uma expedição arqueológica para investigar os restos, quase intactos, de um homem de mais de dois mil anos. Embora simbólico, não é nesse episódio da trama em que o tempo se faz protagonista da história, mas sim nas décadas, aparentemente banais, que se passam na vida de Julie.

Julie é uma jovem que obedece a todos os estereótipos de uma aluna universitária liberal – está na fase de descobertas, sem muitos compromissos e pouco empática com tudo que é mais velho e, em sua opinião, ultrapassado. Ela se envolve com seu professor casado, que é mais um clichê da classe – na crise de meia-idade, busca aventuras com as jovens alunas, enquanto a mulher e os filhos o aguardam em casa e conservam sua boa imagem na sociedade.

O começo da paixão é avassaladora, ao menos para Julie. Connor é tudo que ela jamais havia conhecido em um homem. Ela o vê como um super-homem, cuja vida além do seu papel como amante é irrelevante. A maneira como ela vê a esposa de Connor é sintomática do seu desdém pela outra vida do professor:

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