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“Por que me atrai a voz que fraqueja, por que me encantam as pálpebras cheias, os olhos marejados, se toda a minha vida batalhei contra esse transbordamento inevitável, contra o excesso dos afetos, contra a fragilidade. Mas um adulto que chora não é frágil, isso aprendi com convicção, essa lição já não me escapa: o adulto que chora sem se envergonhar é de uma transparência invejável.”

 

Julián Fuks em A Resistência

[Dicas da Imensidão] Semana #9

Até o momento, Peso foi o conto que mais escancarou a questão feminina, ao abordar  um tema bastante sério e urgente: a violência doméstica contra mulheres. Mantendo o estilo que já conhecemos, de revelar a história aos poucos em relatos que oscilam entre passado e presente, Margaret Atwood nos presenteia com mais uma narrativa de altíssima qualidade. Para a próxima semana, vamos até a página 214, com a leitura do conto que intitula o livro – Dicas da Imensidão.      

Mariane Domingos e Tainara Machado

A narradora do conto Peso é marcada pelo cansaço. Uma fadiga em relação à vida, às pessoas e à crueldade humana. Logo nas primeiras frases, ela deixa isso claro:

Estou ganhando peso. Não estou ficando maior, apenas mais pesada. (…) O peso que sinto está na energia que consumo para me locomover: andar pela calçada, subir a escada, ao longo do dia. Está na pressão em meus pés. É uma densidade nas células, como se eu bebesse metais pesados. Nada que se possa medir, embora existam as pequenas protuberâncias de carne habituais que precisam ser tornadas mais firmes, mais musculosas, mais trabalhadas com malhação. Trabalhada. Tudo está se tornando trabalhoso demais.

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[Resenha] Como se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas

Na semana passada, a literatura brasileira perdeu uma de suas vozes contemporâneas mais importantes. Elvira Vigna morreu aos 69 anos, depois de uma longa e secreta luta contra o câncer. Em meio a essa árdua batalha, Elvira publicou Como se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas pela Companhia das Letras. Se um título forte como esse já desperta a curiosidade dos leitores, as páginas seguintes atiçam ainda mais a mente de quem mergulha nesse livro.

Elvira Vigna, se percebe pelas primeiras linhas, não é uma autora qualquer. Suas frases são curtas, duras. Compreender seu significado exige do leitor entrega que é quase um processo de escrita, no esforço de buscar o não dito nas entrelinhas.

Está escuro e tenho frio nas pernas. No entanto, é verão. Outra vez. Deve ser psicológico. Perna psicológica.
Faço hora, o que pode ser dito de muitos outros momentos da minha vida.
Mas nessa hora que faço, vou contar uma história que não sei bem como é. Não vivi, não vi. Mal ouvi. Mas acho que foi assim mesmo.

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[Lista] 5 leituras para Flip 2017

O Achados & Lidos já está de malas prontas para a 15a Festa Literária Internacional de Paraty! \o/ Mais do que um evento para celebrar a literatura, a Flip é uma ótima oportunidade para (re)descobrir escritores. Do autor homenageado aos participantes das mesas, a lista de hoje traz cinco livros que já estão na nossa bagagem!

1. A Mulher de Pés Descalços, de Scholastique Mukasonga: desde que começaram a ser anunciados os convidados da Flip deste ano, esse foi o nome que mais chamou minha atenção. Nascida em Ruanda e sobrevivente das lutas fratricidas entre as etnias Tutsi e Hutu, Mukasonga é uma das principais escritoras e ativistas da diáspora negra.

Em A Mulher de Pés Descalços, a escritora revira suas memórias e dá voz à dor e à perda em uma comovente homenagem à mãe, Stefania. Li pouco mais de 30 páginas do livro e já senti um nó na garganta em diversos trechos.

Logo no início, Mukasonga explica que o livro foi a forma que ela encontrou de cumprir com um pedido da mãe: após sua morte, ter seu corpo coberto para que ninguém o visse, pois “não se deve deixar ver o corpo de uma mãe”. Mukasonga não pôde atender esse desejo, pois Stefania foi brutalmente assassinada no genocídio que devastou seu país:

Mamãe, eu não estava lá para cobrir seu corpo e não tenho nada além de palavras – palavras de uma língua que você não entenderia – para cumprir o que você pediu. E estou só com minhas pobres palavras e minhas frases, sobre a página do caderno, tecendo a mortalha de seu corpo ausente.

Alguém duvida que a participação de Mukasonga na Flip será marcante?

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“No mundo existem pessoas que montam a maquete de um navio dentro de uma garrafa usando uma longa pinça, e demoram quase um ano nessa tarefa. Escrever romances talvez seja parecido.”

 

Haruki Murakami em
Romancista como Vocação

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