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[Resenha] Os Homens Explicam Tudo Para Mim

Recentemente, estava almoçando com um grupo de amigos e um deles, uma mulher, nos contava sobre um duro e competitivo processo seletivo que ela participou no mês passado. A última etapa consistia em painéis com mais três competidores e uma banca formada por nomes de peso da área de negócios. Uma das concorrentes então começou a falar de seu tema e apresentou dados consistentes em sua argumentação, baseados em uma matéria do jornal inglês The Guardian. Um dos figurões contestou os números de forma constrangedora, sem permitir que a garota seguisse com seu raciocínio a partir das informações que ela tinha frescas na memória. Ao fim do debate, ela checou o celular e, como esperava, os dados que havia citado para embasar sua apresentação estavam certos.

A situação é bastante familiar para a maior parte das mulheres: em uma discussão, um dos homens do grupo assume o protagonismo no debate e impede, ou invalida, a argumentação feita por uma mulher. Mesmo quando elas eram as palestrantes. Mesmo quando elas eram as convidadas. Mesmo quando elas estavam se apresentando para conseguir uma bolsa de estudos.

Em Os Homens Explicam Tudo Para Mim, um ensaio sobre o silêncio como (mais uma) uma forma de opressão das mulheres, Rebecca Solnit narra várias experiências desse tipo. A que a levou a escrever esse texto e, posteriormente, publicá-lo ao lado de outros ensaios como um livro, é emblemática: certa vez, com uma amiga em um evento em Aspen, ela se sentou para conversar com um “homem importante que já havia ganhado muito dinheiro”.

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[Divã] Leitores solitários?!

Ler é a expressão da solidão ou uma forma de escapar dela? Desde que começamos o Achados & Lidos, há mais de um ano, venho pensando sobre isso. A comunidade de leitores que encontramos nessa jornada me faz, cada vez mais, achar que a leitura é uma atividade menos solitária do que parece.

Abrir um livro em público pode causar diversos efeitos. O mais comum, infelizmente, ainda são os olhares reprobatórios quanto às habilidades sociais do “solitário leitor”. Quem já experimentou negar um convite para sair porque prefere ficar em casa lendo ou sentou à mesa de um café apenas na companhia de um livro sabe do que falo. Somos vistos como seres antissociais que se escondem atrás das páginas para evitar contato, como este personagem de Alan Pauls, no romance História do Dinheiro:

Levou algo para ler. Gosta desse escudo de arrogante indiferença que os livros interpõem entre ele e o mundo, em especial quando detecta por perto um desses agitadores de filas que bufam, levantam os olhos cansados para o céu, queixam-se buscando cumplicidade (…).

Livros se tornaram sinais de uma solidão requerida. Curioso pensar nisso em tempos em que as pessoas, mesmo acompanhadas, se afundam nas telas de seus smartphones. A experiência proporcionada por um livro me parece bem menos indiferente e arrogante do que a troca vazia proposta pelo mundo virtual. Ainda assim, uma pessoa sozinha com um celular é mais bem aceita socialmente do que um leitor solitário.

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“Estou convencido de que uma sociedade sem literatura, ou em que a literatura tenha sido relegada, como certos vícios inconfessáveis, às margens da vida social e convertida em pouco menos do que um culto sectário, está condenada a barbarizar-se espiritualmente e a comprometer sua liberdade.”

 

Mario Vargas Llosa em A Verdade das Mentiras

[Nossa Senhora do Nilo] Semana #2

Os dois primeiros capítulos de Nossa Senhora do Nilo, de Scholastique Mukasonga, nos deram uma ideia do contexto da narrativa. Conhecemos a história do liceu que dá título ao livro e, por meio dela, vislumbramos a história social e política do povo ruandês. Para a próxima semana, avançamos até a página 67.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Antes de introduzir de maneira mais detalhada os personagens, Mukasonga trabalha na descrição dos ambientes. A partir de algumas histórias como a da santa que nomeia o liceu e a da construção do colégio , entendemos a configuração da sociedade ruandesa de então.

Já notamos a sutileza da escrita de Mukasonga. Ela é uma exímia contadora de histórias e os fatos que envolvem sua ficção dificilmente aparecerão diretamente, sem ter uma anedota que os embale.

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[Resenha] Ragtime

A América se encontrava no limiar do século XX, era uma nação de engrenagens a vapor, locomotivas, naus aéreas, motores a combustão, telefones e prédios de 25 pavimentos.

E o que se escondia por trás de todo esse progresso? É isso que nos mostra o escritor americano E. L. Doctorow no ótimo romance Ragtime. Dois núcleos de personagens sem nomes conduzem essa narrativa que poderia ser a de qualquer americano que viveu o período.

A família de classe média alta de Papai, Mamãe, Vovô, Irmão Mais Novo e Menino – sim, é dessa maneira genérica que eles são identificados – representa a parcela que se beneficiou financeiramente do progresso capitalista, embora não se possa dizer o mesmo do seu equilíbrio psicológico.

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