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Lemos, gostamos (ou não) e indicamos (ou não). Aqui, colocamos nossas impressões sobre livros que, de alguma forma, nos marcaram. Tem opinião, mas não tem spoiler!

[Resenha] Thérèse Raquin, de Émile Zola

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Possuía um sangue-frio insuperável, uma tranquilidade aparente que mascarava terríveis exaltações.

Essa é Thérèse Raquin (Penguin Books, 240 páginas), protagonista do romance homônimo de Émile Zola. Uma jovem que sofre de uma existência monótona: divide seus dias entre um casamento infeliz com o primo doente, Camille, e o trabalho na loja da sogra, situada numa passagem obscura de Pont-Neuf, em Paris.

Os traços rígidos e o semblante impenetrável de Thérèse escondem um temperamento dominado pelos nervos. Quando seu destino se cruza com o do impulsivo Laurent, amigo do seu marido, o resultado é explosivo e trágico.

Os desejos carnais levam a dupla ao adultério. O desejo de liberdade leva-os ao assassinato de Camille. Nasce, então, um remorso corrosivo que, segundo Zola, no prefácio da segunda edição do romance, se relaciona mais com uma disfunção no sistema nervoso que com questões da alma:

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[Resenha] Operação Abafa / Catch and Kill

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Operação Abafa (Editora Todavia, 450 páginas) é o tipo de jornalismo que gostaríamos de ver mais frequentemente. Neste livro, o jornalista investigativo e vencedor do Prêmio Pulitzer, Ronan Farrow, expõe as mentiras, conspirações e jogos de poder que permitiram manter enterrado por tanto tempo um dos maiores escândalos da indústria do entretenimento.

Enquanto apurava o caso Weinstein (Harvey Weinstein é o poderoso produtor de Hollywood acusado de abuso e ataque sexual de mulheres por décadas), Farrow esbarrou em um história ainda maior, que revelou uma prática comum: certos veículos da mídia, agindo em nome de figuras eminentes, costumavam apurar escândalos apenas para comprar os direitos das histórias por meio de acordos de confidencialidade com as fontes e, então, enterrar essas reportagens, impedindo que se tornassem públicas.

À medida que Farrow entrava em contato com as fontes e conseguia que elas dessem seu depoimento em frente à câmera, ele se vê envolvido em uma trama repleta de conspirações que visavam acabar com qualquer tentativa de divulgar a história. Espiões, detetives particulares, dinheiro, mentiras, chantagens… Ironicamente, era como ver a vida real imitando Hollywood:

“Mais uma coisa”, ele disse, depois que agradeci pelo seu tempo. “Tome cuidado. Esse cara, as pessoas que o protegem. Eles têm muito a perder”. “Estou sendo cuidadoso”. “Você não está me entendendo. Esteja preparado para o caso de… Estou dizendo, consiga uma arma”. Eu ri. Ele não.

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[Resenha] Enquanto Os Dentes

Uma travessia de balsa até Niterói, no Rio de Janeiro, é o pano de fundo do belo romance de estreia de Carlos Eduardo Pereira, Enquanto os Dentes (Editora Todavia, 93 páginas). Nesta narrativa enxuta e ao mesmo tempo densa, acompanhamos Antônio em um momento bastante preciso: sua mudança da “antigo apartamento” de volta para a casa dos pais.

O grande trunfo do livro é sem dúvida a perspectiva adotada por Pereira. De um fôlego só, sem divisões de capítulos ou respiros entre parágrafos, acompanhamos não apenas o fluxo de pensamentos e as memórias de passagens decisivas na vida do narrador, mas também suas percepções visuais e sensoriais.

Antônio, que sofreu um acidente que o colocou em uma cadeira de rodas, enfrenta as ruas e calçadas do Rio de Janeiro, com seus inúmeros personagens e passantes: os funcionários do serviço das Barcas, excessivamente protocolares, a solicitude de um ou outro transeunte, a senhora religiosa que lhe recomenda fé.

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[Resenha] O Sol na Cabeça

Geovani Martins tem apenas 26 anos, mas seu romance de estreia, O Sol na Cabeça (Companhia das Letras, 119 páginas), teve ampla divulgação por sua editora, recebeu elogios de Chico Buarque e já teve direitos vendidos para mais de nove países. Embora poucos consigam realizar feito parecido, não é difícil entender esse magnetismo:  Martins nasceu em Bangu e foi criado no Vidigal. É filho de uma cozinheira com um jogador de futebol amador. Seu destino como escritor parecia improvável, mas é justamente a infância e a adolescência pobres do autor que formam a essência – e o apelo –  dos treze contos que compõem este livro, que partem de episódios cotidianos para expor as fraturas de uma sociedade que se divide entre morro e asfalto.

Essa primeira divisão está, muito claramente, na linguagem. As gírias, aqui, não estão entre aspas ou em itálico, como estamos tão acostumados a observar. A concordância deixa de ser perfeita. A oralidade tão literal que Martins exibe em alguns de seus contos, como Rolézim, que abre o livro, nos faz imergir na vida das favelas cariocas, a realmente escutar quem quase nunca tem voz.

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[Resenha] A Cor Púrpura

A Cor Púrpura, de Alice Walker (José Olympio, 336 páginas) é um livro violento. Logo nas primeiras páginas, Celie, a personagem principal, é abusada sexualmente pelo pai, engravida e é dada em casamento para um vizinho que a maltrata. É também um livro recheado de ternura, de amor e de personagens que demonstram sua capacidade de reinvenção e, sobretudo, de afeto.

A linguagem simplória, com erros de ortografia e concordância cometidos pela narradora, que escreve cartas para a irmã desaparecida para combater a solidão, em um primeiro momento causa estranheza. Mas essa sensação inicial é logo substituída por uma crescente empatia pela personagem, com a qual desenvolvemos uma relação de intimidade.

Celie é a mais velha entre vários irmãos e, na tentativa de proteger a irmã mais nova, ela sofre constantes abusos sexuais do pai. Suas duas gravidez não desejadas terminam com os bebês sendo retirados de seu convívio, entregues para outras famílias. Quando sua mãe morre, o pai decide tirá-la terminantemente de casa, na tentativa de afastá-la da irmã mais nova, Nessie, dando-a em casamento para Albert, um fazendeiro da região que também cortejava sua irmã, que decide fugir em busca de uma vida diferente.

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