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[Resenha] Pessoas Normais, de Sally Rooney

Pessoas Normais (Companhia das Letras, 264 páginas) é, a princípio, um romance adolescente. Connell e Marianne se conhecem na escola de ensino médio em que os dois estudam, em uma cidade do interior da Irlanda, e se apaixonam. Poderia ser só isso, mas Sally Rooney encontra na força do primeiro amor, com seus desencontros, desencantos e dificuldades, o caminho para escrever um livro muito saboroso, daqueles que fazem a gente querer voltar a viver as angústias e dramas da adolescência.

O romance é improvável. Marianne é uma garota reclusa na escola, com dificuldade de se relacionar com os colegas e com a família. Já Connell é o astro do time de futebol, popular e sempre rodeado de amigos. O encontro dos dois, embora convivam nas salas de aula, se dá na casa de Marianne: a mãe de Connell é funcionária da mansão em que ela vive, o que também logo evidencia a distância social entre os dois.

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[Resenha / Review] Complô contra a América / The Plot Against America

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A leitura de Complô Contra a América (Companhia de Bolso, 440 páginas), é uma mistura de sentimentos contraditórios. De um lado, o prazer da boa literatura na escrita envolvente de Philip Roth, quase impossível de largar. Do outro, o gosto amargo de se enxergar em uma realidade não muito distante da ficção distópica apresentada pelo romance.

Philip, o protagonista, é um garoto estadunidense nos anos 40, nascido no seio de uma família judia. Sua infância tinha tudo para se passar na mais tranquila normalidade, não fosse por um acontecimento: a eleição de um simpatizante do nazismo de Hitler, o aviador Charles A. Lindbergh, como presidente dos Estados Unidos.

Roth narra, a partir da visão do garoto, a conjuntura social e política que levou à derrota do então presidente Franklin D. Roosevelt para um candidato novato que, ainda em campanha, demonstrava afinidades com as ideias extremistas que chegavam da Europa. Essa perspectiva infantil dos fatos é um dos grandes destaques do romance. A inocência com que, por vezes, o protagonista interpreta os sinais da tormenta que viria, deixa o leitor angustiado, com vontade de entrar na trama para mudar o curso da história.

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“O poder é a habilidade não apenas de contar a história de outra pessoa, mas de fazer que ela seja sua história definitiva. O poeta palestino Mourid Barghouti escreveu que, se você quiser espoliar um povo, a maneira mais simples é contar a história dele e começar com ‘em segundo lugar’. Comece a história com a flecha dos indígenas americanos, e não com a chegada dos britânicos, e a história será completamente diferente.”

O Perigo de uma História Única, de Chimamanda Ngozi Adichie


“Power is the ability not just to tell the story of another person, but to make it the definitive story of that person. The Palestinian poet Mourid Barghouti writes that if you want to dispossess a people, the simplest way to do it is to tell their story and to start with ‘secondly’. Start the story with the arrows of the Native Americans, and not with the arrival of the British, and you have an entirely different story.”

The Danger of a Single Story, by Chimamanda Ngozi Adichie

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