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[Resenha] De Amor e Trevas

De Amor e Trevas, romance autobiográfico do escritor israelense Amós Oz, é um passeio memorável pela Jerusalém dos anos 40 e 50, com um olhar profundo sobre o lar de sua infância, que, assim como a conturbada cidade, guardava belezas e tensões dignas de nota. Em uma narrativa que abre mão da ordem cronológica para acompanhar os caprichos da memória, Oz revisita o passado e resgata a construção de sua própria identidade e a do seu país.

Filho de imigrantes do Leste Europeu, que fugiam do antissemitismo crescente no Velho Continente, Oz nasceu em Jerusalém, em uma família de intelectuais. Seu pai, Árie Klausner, era sobrinho do grande estudioso da história e literatura hebraica Yossef Klausner. Apesar de toda sua erudição, o pai de Oz não conseguiu seguir os passos do tio e jamais ocupou um lugar de destaque na elite intelectual de Israel. Avesso ao silêncio e sempre em busca do gracejo perfeito, Árie era uma pessoa brilhante que nunca soube mostrar seu brilho.

Como ele conquistou Fânia Klausner, mãe de Oz, era um verdadeiro mistério. Dona de uma beleza contagiante e de uma retórica incomum, ela tinha a habilidade de se colocar, com extrema naturalidade, no centro das conversas mais eruditas. A luz que Fânia irradiava no convívio social disfarçava a escuridão que ela carregava em seu íntimo. O abandono da terra natal para viver em um lugar desconhecido e ermo, um casamento infeliz, uma alma sensível demais para crueza do mundo – essas são apenas algumas das especulações que pululam na narrativa de Oz, em uma tentativa de compreender, ou ao menos apaziguar, o fim trágico da mãe. Fânia se suicidou quando o filho tinha 12 anos.

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[Resenha] O Inferno dos Outros

O anúncio recente da premiação do escritor israelense David Grossman no Man Booker International Prize 2017, pelo romance O Inferno dos Outros, me fez tirar esse livro da prateleira, onde ele estava, um tanto esquecido, desde uma daquelas compras impulsivas, movidas a descontos imperdíveis.

A trama tem uma ambientação inusitada. Ela se desenrola durante um show de stand-up do humorista Dovale, em Netanya, uma pequena cidade israelense. Se você, como eu, não é grande fã desse tipo de espetáculo, irá avançar pelas primeiras páginas com desconfiança.

O início é um pouco pesado, por causa das piadas não muito engraçadas, das descrições minuciosas da aparência e dos movimentos de Dovale e também pelos momentos constrangedores, tanto para plateia quanto para o humorista, típicos desse tipo de show. Mas antes que eu sentisse vontade de desistir, Grossman joga a primeira isca: o narrador que parecia ser onisciente é, na verdade, um narrador em primeira pessoa. É alguém que está na plateia e que conhece Dovale.

À medida que a leitura avança, descobrimos que se trata de seu amigo de infância, o juiz aposentado Avishai Lazar. Ele havia recebido uma ligação do humorista, com quem não tinha nenhum contato há décadas, pedindo que ele assistisse à sua apresentação e, depois, contasse-lhe o que havia enxergado. De início, Lazar sequer lembra quem era Dovale. Na verdade, ele só irá recordar totalmente durante o espetáculo.

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