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[Lista] 5 autores para celebrar a literatura francófona

Em 20 de março, celebrou-se o Dia Internacional da Francofonia, a comunidade linguística formada por todos os povos que têm em comum o idioma francês. 57 Estados fazem parte da Organização Internacional da Francofonia – prova de quem diz que estudar francês não é muito prático está redondamente enganado!

Sou uma entusiasta da língua francesa e comecei a estudá-la por uma identificação cultural, em especial com a literatura. Nada melhor, portanto, do que celebrar essa data com uma lista de nomes brilhantes da literatura francesa. On y va! (Vamos lá!)

1. Albert Camus: francês nascido na costa argelina, em uma família pied-noir – termo que designa os cidadãos franceses que viveram no norte africano dominado pela França –, Camus ganhou o Prêmio Nobel em 1957.

A profundidade de suas narrativas curtas, como O Estrangeiro e A Queda, são provas de que boa literatura também se faz em poucas páginas. Sem perder o chão da realidade cotidiana, os romances filosóficos de Camus levam ao extremo a reflexão sobre o sentido da existência humana.

O que é o livre-arbítrio? O destino pode ser controlado? Onde nasce a consciência? Essas são apenas algumas das “perguntas fáceis” propostas em sua escrita, que, nem por isso, é pesada ou incompreensível. Camus sabe equilibrar com maestria, às vezes em uma mesma frase, o banal e o extraordinário, o concreto e o abstrato:

Assaltaram-me as lembranças de uma vida que já não me pertencia, mas onde encontrara as mais pobres e as mais tenazes das minhas alegrias: cheiros de verão, o bairro que eu amava, um certo céu de entardecer, o riso e os vestidos de Marie.

Genial, não?

2. Marcel Proust: como deixá-lo de fora de qualquer lista que celebre a literatura, ainda mais a francesa? Apesar do pouco contato que tive com a obra de Proust (foram apenas dois volumes de Em Busca do Tempo Perdido e a coletânea de crônicas Salões de Paris), não hesito em afirmar que sua habilidade com as palavras é inigualável. A narrativa proustiana é sinônimo de beleza e elegância:

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[Lista] 15 escritoras que você precisa ler

Um blog escrito por duas mulheres não poderia passar a semana do Dia Internacional da Mulher sem uma lista como esta, não é mesmo? Como disse Rebecca Solnit, em um dos ensaios da coletânea A Mãe de Todas as Perguntas, “a história do silêncio é central na história das mulheres”. Acreditamos que a literatura, enquanto espaço de fala, tem um papel fundamental na virada desse jogo. Vamos, então, ler mais mulheres e contribuir para um futuro com menos vozes femininas silenciadas? O que não faltam são opções!

1. Alice Munro: a canadense, Nobel de Literatura, é considerada a “mestra do conto contemporâneo”. Os personagens fortes, quase sempre mulheres, e a linguagem precisa de Munro garantem que seus textos, mesmo que breves, tenham a profundidade de um romance. Por aqui, já publicamos a resenha de Fugitiva.

2. Chimamanda Ngozi Adichie: quem acompanha o blog há um tempo dispensa a apresentação dessa autora nigeriana, de quem tanto falamos por aqui. Nosso primeiro Clube do Livro foi com um título dela, Hibisco Roxo, e a Tatá também já escreveu um pots bastante esclarecedor do porquê essa escritora tem que fazer parte da sua lista de leituras: 5 razões para ler e amar Chimamanda Ngozi Adichie.

3. Clarice Lispector: dona de uma prosa poderosíssima, que escancara a alma humana e desafia os limites da linguagem, Lispector é um dos maiores nomes da literatura mundial. Nós, brasileiros, ainda temos a sorte de poder lê-la no original e captar toda beleza e profundidade da sua escrita. Aqui no Achados, já resenhamos A Paixão Segundo G.H.

4. Margaret Atwood: descobri a literatura de Atwood no ano passado, quando lemos Dicas da Imensidão, sua coletânea de contos, em nosso Clube do Livro. Nessa mesma época, foi lançada a série baseada em seu romance O Conto da Aia. Com uma linguagem precisa e cortante, Atwood se destaca por colocar em pauta fortes embates e dilemas morais sob uma narrativa fluida e bem construída.

5. Maria Valéria Rezende: uma das melhores descobertas que a Flip 2017 me proporcionou! Talento da literatura brasileira contemporânea, bem-humorada e sem papas na língua, essa freira missionária de 76 anos, que vive em João Pessoa e dedicou grande parte da sua vida à educação e aos direitos humanos, tem uma literatura que expressa as cores do nosso país, sem perder de vista nossos problemas mais urgentes e a condição da mulher na sociedade. Veja a resenha do seu romance Quarenta Dias.

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[Lista] 5 livros para se emocionar

Se vocês me perguntarem quantos filmes me fizeram chorar, certamente lembrarei dois ou três, no máximo. Com livros, no entanto, a história é outra. A literatura me emociona mais frequentemente e intensamente que o cinema. Resolvi, então, listar cinco livros emblemáticos que, além de ótimas leituras, me renderam muitas lágrimas.

1. A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe: a prosa poética do escritor português já é, por si só, um convite às lágrimas. Quando o enredo trata da solidão e da saudade, sua escrita fica ainda mais poderosa.

Em A Máquina de Fazer Espanhóis, que lemos na quarta edição do nosso Clube do Livro, acompanhamos a história de António, que é abandonado pelos filhos em um asilo, depois de perder a esposa, companheira de tantos anos. O trecho em que o personagem recebe a notícia da morte de Laura, logo no primeiro capítulo, já é de cortar o coração:

só depois gritei, imediatamente sem fôlego, porque aquela teoria de que existe oxigénio e usamos os pulmões e fica feito também não é cem por cento verdade. entrei em convulsões no chão e as mãos do homem e da mulher que ali me assistiam eram exactamente iguais às bocas dentadas de um bicho que me vinha devorar e que entrava por todos os lados do meu ser. fui atacado pelo horror como se o horror fosse material e ali tivesse vindo exclusivamente para mim.

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[Entrevista] Scholastique Mukasonga

“Minha mãe era uma contadora de histórias reconhecida. Ela não sabia nem ler nem escrever e desconhecia o francês. Mas se eu tenho qualquer talento para escrita, é a ela que eu devo essa habilidade. Mais do que o título de escritora, reivindicarei o de contadora de histórias.”

Todos nós que acompanhamos a leitura de Nossa Senhora do Nilo não hesitamos em dar esse título a Scholastique Mukasonga. A desenvoltura para narrar uma grande história a partir de curtos episódios e personagens emblemáticos é marcante em sua obra.

Por essas qualidades, sua obra tem recebido grande reconhecimento. O primeiro título de Scholastique Mukasonga, Inyenzi ou les Cafards, obteve o reconhecimento da crítica e alcançou grande público na França. O segundo, A Mulher de Pés Descalços, levou o prêmio Seligmann 2008 “contra o racismo, a injustiça e a intolerância”. O terceiro, L’Iguifou, foi coroado pelo prêmio Renaissance, e o quarto, Nossa Senhora do Nilo, pelo prêmio Renaudot 2012.

Nascida em Ruanda, a escritora vive hoje na região da Baixa Normandia, na França. Comunicamo-nos com ela por e-mail e fomos extremamente bem acolhidas. Desde o primeiro contato, a autora se mostrou saudosa do sol do Brasil e dos brasileiros. A todo momento, ressaltou o quanto se sentia grata pelo tempo que dedicamos à leitura atenta de Nossa Senhora do Nilo e se mostrou interessada em conhecer as opiniões de seus leitores.

Estamos muito felizes de encerrar nosso oitavo Clube do Livro com uma participação tão especial!

Confiram, abaixo, a entrevista na íntegra.

Achados & Lidos: O que mais nos impressionou em Nossa Senhora do Nilo foi a sua habilidade para contar histórias. A grande narrativa se forma a partir do conjunto de pequenas histórias, com muita sutileza. Em A Mulher de Pés Descalços, você comenta que sua mãe era uma grande contadora de histórias. Ouvi-la era um momento especial em família. A oralidade que marca sua literatura é uma influência e, ao mesmo tempo, uma homenagem à sua mãe? Você acredita que a arte de contar histórias é a base da literatura?

Scholastique Mukasonga: Os povos que, como os ruandeses, não conheciam a escrita, não tinham uma verdadeira literatura. Diferentes gêneros (poesias de guerra, pastorais, narrativas históricas etc.) eram praticados na corte real. Os contos populares reservavam-se, sobretudo, às mulheres. Eu fiz uma espécie de patchwork de temas no capítulo IX de A Mulher de Pés Descalços [O País dos Contos].

Minha mãe era uma contadora de histórias reconhecida. Ela não sabia nem ler nem escrever e desconhecia o francês. Mas se eu tenho qualquer talento de escritora, é a ela que eu devo essa habilidade. Mais do que o título de escritora, reivindicarei o de contadora de histórias.

Achados & Lidos: O que acontecia no liceu Nossa Senhora do Nilo era apenas uma amostra do que se passava em Ruanda na época. Por que você escolheu o liceu para ambientar essa narrativa, com personagens tão jovens?

Mukasonga: Se o romance não fosse autobiográfico, o liceu Nossa Senhora do Nilo jamais teria existido. Eu me servi do liceu que frequentei, Notre-Dame de Citeaux, em Kigali. O liceu é um microcosmo da Ruanda dos anos 70, onde se desenhavam as premissas do genocídio de 1994. Ele me permitiu conservar a unidade de lugar (o liceu) e a unidade de tempo (um ano escolar correspondente à longa temporada de chuvas).

Achados & Lidos: Assim como em A Mulher de Pés Descalços, em que as mulheres têm um papel central na narrativa, em Nossa Senhora do Nilo, a questão feminina também é bastante presente. O episódio da primeira menstruação, todas nós, leitoras, sentimos o peso que carregamos por sermos mulheres. Você acredita que as escritoras têm um papel importante em relatar essa situação e contribuir para mudá-la?

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[Nossa Senhora do Nilo] Semana #9

O final de Nossa Senhora do Nilo escancara o ódio que ficou implícito ao longo de todo o romance. Terminamos a leitura com um nó na garganta, apreensivos principalmente porque sabemos o final dessa história, que em nada lembra a sutileza do texto de Scholastique Mukasonga. Agradecemos a companhia de todos por aqui e esperamos seus comentários sobre a leitura! Na próxima semana, publicaremos as impressões dos nossos leitores. Para participar é só escrever para blogachadoselidos@gmail.com ou deixar sua avaliação aqui embaixo!

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

A violência rondou toda narrativa de Nossa Senhora do Nilo. Ela estava ali, à espreita, em cada episódio relatado. As atitudes e falas cotidianas das garotas do liceu já anunciavam o desfecho trágico.

É interessante como Mukasonga retorna, no fim da narrativa, aos elementos que compuseram seu início. Os preparativos para a instalação da nova imagem da santa lembram o primeiro capítulo, em que outra configuração social, com os tutsis no poder, presencia o mesmo espetáculo. A santa muda, os espectadores mudam, mas a sede pelo poder, impregnada na cena que se repete, é a mesma. É um ciclo, em que os dominantes se alteram, mas a necessidade de subjugação permanece.

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