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Lemos, gostamos (ou não) e indicamos (ou não). Aqui, colocamos nossas impressões sobre livros que, de alguma forma, nos marcaram. Tem opinião, mas não tem spoiler!

[Resenha / Review] A Vida Pela Frente / The Life Before Us

O afeto improvável entre um garoto árabe órfão e uma senhora judia, ex-prostituta e sobrevivente do nazismo é o fio condutor do romance A Vida Pela Frente, de Émile Ajar (pseudônimo do escritório francês Romain Gary).

Momo cresceu na casa de Madame Rosa e, embora saiba bem pouco de sua história, desconfia que ela não seja tão diferente das origens das outras crianças que chegam àquele lar. Madame Rosa é conhecida no bairro por acolher, mediante um pagamento mensal para o custeio dos gastos, os filhos das prostitutas que, por lei, são impedidas de criá-los. Ela mesma, outrora prostituta, viu nesse modelo uma forma de se manter na sua velhice e apoiar as mulheres cuja situação ela entende bem.

No entanto, diferente da maioria das outras crianças, Momo nunca recebe a visita de sua mãe e logo os pagamentos que lhe correspondem começam a falhar. Apesar disso, Madame Rosa o mantém sob seus cuidados, e eles constroem juntos um forte laço que desafia todas as probabilidades e diferenças culturais.

Momo não sabe ao certo qual é a sua idade, mas aprende cedo o bastante que a vida nem sempre é justa e que as pessoas queridas se vão, às vezes de maneira lenta e dolorosa. Madame Rosa não chega bem à velhice, e os seis lances de escada até seu apartamento são um lembrete diário de que seu corpo já se cansou dos golpes da vida.

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[Resenha / Review] Garota, Mulher, Outras / Girl, Woman, Other

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Garota, Mulher, Outras (Companhia das Letras, 496 páginas), de Bernardine Evaristo, reúne várias histórias curtas de personagens fortes, com trajetórias marcadas por desafios relacionados à raça, sexualidade e classe. À primeira vista, essas narrativas parecem histórias independentes, mas à medida que a trama avança, elas acabam se cruzando de alguma maneira.

Mais do que um estilo narrativo, essa intersecção entre breves relatos se revela uma harmonia perfeita entre forma e conteúdo. Afinal, uma das principais mensagens que ecoam da escrita de Evaristo é a de que todos os seres humanos se conectam de alguma forma, seja por suas afinidades, suas trajetórias ou, o mais evidente, por seus laços sanguíneos.

Apesar das muitas oportunidades de conexão, a realidade da vida em sociedade se mostra bem menos tolerante. As personagens criadas por Evaristo, em sua maioria mulheres negras imigrantes ou filhas de imigrantes, experimentam, cada uma sob uma perspectiva de tempo e espaço, a injustiça da opressão contra minorias.

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[Resenha / Review ] Para o meu coração num domingo / To My Heart, on Sunday

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Para o meu coração num domingo (Companhia das Letras, 344 páginas) é a mais recente coletânea de poemas de Wisława Szymborska, autora polonesa que ganhou o Nobel de Literatura em 1996, lançada no Brasil. Ela reúne poesias publicadas entre 1957 e 2001.

Nesse livro, a beleza da escrita de Szymborska se evidencia mais uma vez em sua habilidade para enxergar poesia nos momentos simples e fortuitos da vida. Seus poemas são um lembrete constante de como somos pequenos diante da grandeza do universo.

Se nas outras duas coletâneas publicadas no Brasil (Poemas e Um Amor Feliz), a guerra, a natureza e o cotidiano ocupam a maior parte dos versos de Szymborska, neste terceiro volume, a finitude da vida é o tema mais recorrente.

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[Resenha / Review ] Notre-Dame de Paris / The Hunchback of Notre Dame

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Notre-Dame de Paris (Estação Liberdade, 584 páginas), de Victor Hugo, é um clássico da literatura que eternizou não só a cidade de Paris, mas também a icônica catedral francesa, certamente uma das mais conhecidas no mundo.

Comprei o livro, um tanto por impulso, em 2018, depois de fazer o passeio turístico que levava ao topo da catedral e cujo percurso trazia várias referências ao romance de Hugo, especialmente no local onde ficavam os sinos. Já havia visitado a catedral em outras oportunidades, mas nunca tinha subido as escadarias. Sem dúvida, foi uma das vistas mais impressionantes que já tive de Paris. Alguns meses depois, em abril, boa parte do que eu vira ruiria no dramático incêndio que tomou conta da catedral e chocou o mundo todo.

Ler o romance de Victor Hugo foi, então, uma forma de reviver as belezas que eu havia visto naquela tarde de outono. Descrições minuciosas da cidade e, especialmente, da catedral, são parte importante da obra. Quem já leu outros livros do autor francês, como Os Miseráveis, está habituado a esse estilo, característico do romantismo francês. A proposta do movimento era revisitar o passado a partir de um enredo ficcional, guardando, no entanto, o estilo realista na descrição de lugares e grandes marcos históricos.

Paris é um magnífico e encantador espetáculo; e a Paris de então também era, sobretudo vista do alto das torres da Notre-Dame, a fresca claridade de uma aurora de verão.

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[Resenha] A Vida Mentirosa dos Adultos, por Elena Ferrante

Em A Vida Mentirosa dos Adultos (Intrínseca, 431 páginas), o tão aguardado novo romance de Elena Ferrante, a autora volta à Nápoles, na Itália, dessa vez para acompanhar a passagem da infância para a adolescência de Giovanna, uma garota de classe média que questiona seu passado, sua beleza, suas amizades e sua família depois de entreouvir uma inesperada declaração de seu pai. 

E, ainda que A Vida Mentirosa dos Adultos não tenha a mesma qualidade da Tetralogia Napolitana (cujas resenhas você encontra aqui), há nele uma espécie de força magnética que mantém o leitor preso às suas páginas até o fim. O poder de Elena Ferrante de causar frisson continua intacto. 

De certa forma, isso ocorre porque Ferrante mostra como é frágil o equilíbrio que mantém as peças da nossa vida encaixadas. Neste quebra-cabeça, qualquer breve movimento, tão sutil quanto uma frase impensada em meio a uma briga de casal, pode desarranjar tudo de forma irreversível. E assim é com Giovanna.

“Foi assim que, aos doze anos, soube pela voz do meu pai, sufocada pelo esforço de mantê-la baixa, que eu estava ficando igual à sua irmã, uma mulher na qual – eu o ouvira dizer desde sempre – feiura e maldade coincidiam perfeitamente”. 

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