Autor: Tainara Machado (página 1 de 38)

5 melhores leituras de 2020

Começo esse post fazendo uma confissão: ao contrário das pessoas que se mostraram altamente produtivas durante a quarentena, eu tive grande dificuldade de concentração nos meses confinada em casa. Como quase todo mundo, fui consumida pela ansiedade diante de uma doença desconhecida e do modo como ela foi e continuar a ser enfrentada pelas autoridades, em um desgoverno que parece não esbarrar em nenhum limite. Soma-se a isso algumas outras dificuldades pessoais (afinal, 2020 não foi fácil pra ninguém) e o fato de uqe o ano passado foi provavelmente o período  em que mais trabalhei na vida e a lista de leituras ao fim do ano deixou um pouco a desejar: foram 21 livros (segundo meu acompanhamento no Goodreads. Me siga por lá!), nenhum clássico, poucos calhamaços e a promessa de finalmente acabar Grande Sertão: Veredas empurrada para 2021. 

Isso não quer dizer que não tenha esbarrado com algumas grandes leituras no ano passado. Vamos à lista!

Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior: A história deste livro é um pouco insólita. Antes mesmo de ser editado no Brasil, o romance ganhou o Premio Leya, em Portugal, tendo sido escrito por conta própria pelo autor, que ainda não contava com uma editora. Depois, quem se interessou pela obra aqui foi a Todavia. Eu acabei conhecendo o livro e o autor por uma indicação de uma colega que participa de um clube de leitura do qual faço parte. Depois disso, ele virou uma espécie de febre – quase um culto, presente nas conversas e indicações de muitos amigos e conhecidos virtuais devoradores de novidades literárias. Acabou por levar também o Prêmio Jabuti de melhor Romance Literário e o Prêmio Oceanos de Literatura. 

Fiquei tão fissurada por autor e obra que participei de um curso online dado por Itamar, sobre antropologia e literatura. Ao longo das aulas, o autor contou um pouco sobre sua formação, a inspiração para alguns personagens e como ele encontrou as vozes tão potentes das duas personagens principais do livro: duas irmãs no sertão da Bahia, ligadas entre si de forma indelével por  um acidente na infância e assombradas por um passado escravagista do qual estamos longe de superar. Em entrevista ao El País, em dezembro, ele também falou um pouco sobre essa história. 

A leitura me fez pensar muito sobre nossa ligação com a terra e nosso senso de comunidade (foi até inspiração para um post sobre o tema, que você pode ler aqui), sobre formação e história do Brasil e sobre racismo. O livro ainda é muito bem escrito, com uma das aberturas mais surpreendentes que eu já encontrei. 

Como comentou outro amigo participante do mesmo clube do livro, é um romance que já nasceu clássico, que deveria ser leitura obrigatória nas escolas e no vestibular. Quem não foi arrebatado por Torto Arado em 2020, aproveite a chance. 

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[Resenha] A Vida Mentirosa dos Adultos, por Elena Ferrante

Em A Vida Mentirosa dos Adultos (Intrínseca, 431 páginas), o tão aguardado novo romance de Elena Ferrante, a autora volta à Nápoles, na Itália, dessa vez para acompanhar a passagem da infância para a adolescência de Giovanna, uma garota de classe média que questiona seu passado, sua beleza, suas amizades e sua família depois de entreouvir uma inesperada declaração de seu pai. 

E, ainda que A Vida Mentirosa dos Adultos não tenha a mesma qualidade da Tetralogia Napolitana (cujas resenhas você encontra aqui), há nele uma espécie de força magnética que mantém o leitor preso às suas páginas até o fim. O poder de Elena Ferrante de causar frisson continua intacto. 

De certa forma, isso ocorre porque Ferrante mostra como é frágil o equilíbrio que mantém as peças da nossa vida encaixadas. Neste quebra-cabeça, qualquer breve movimento, tão sutil quanto uma frase impensada em meio a uma briga de casal, pode desarranjar tudo de forma irreversível. E assim é com Giovanna.

“Foi assim que, aos doze anos, soube pela voz do meu pai, sufocada pelo esforço de mantê-la baixa, que eu estava ficando igual à sua irmã, uma mulher na qual – eu o ouvira dizer desde sempre – feiura e maldade coincidiam perfeitamente”. 

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Vamos falar sobre a Amazônia?

Nas últimas semanas, a Amazônia esteve no centro do debate no Brasil. Seguindo tendência já observada em 2019, o desmatamento continua a aumentar na região com uma rapidez alarmante, ameaçando a biodiversidade de um dos biomas mais importante do planeta. A questão se tornou tão urgente que tem mobilizado grandes empresas, sociedade civil e ONGs na articulação de políticas que poderiam ser adotadas imediatamente para conter a devastação. O debate, ainda assim, continua repleto de desinformação e notícias falsas, muitas vezes espalhadas por representantes do próprio governo. Para lidar com alguns desses mitos e achismos fáceis, listamos três ótimas leituras para aumentar seu grau de informação sobre Amazônia e, principalmente, sobre a relação que nós, seres humanos, temos hoje com a natureza. E, claro, como podemos mudá-la. Tem outras dicas? Compartilhe com a gente aqui nos comentários!

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“A violência é a única alavanca grande o suficiente para mover o mundo.”

O Reformatório Nickel, de Colson Whitehead


“Violence is the only lever big enough to move the world.”

The Nickel Boys, by Colson Whitehead

[Resenha] Pessoas Normais, de Sally Rooney

Pessoas Normais (Companhia das Letras, 264 páginas) é, a princípio, um romance adolescente. Connell e Marianne se conhecem na escola de ensino médio em que os dois estudam, em uma cidade do interior da Irlanda, e se apaixonam. Poderia ser só isso, mas Sally Rooney encontra na força do primeiro amor, com seus desencontros, desencantos e dificuldades, o caminho para escrever um livro muito saboroso, daqueles que fazem a gente querer voltar a viver as angústias e dramas da adolescência.

O romance é improvável. Marianne é uma garota reclusa na escola, com dificuldade de se relacionar com os colegas e com a família. Já Connell é o astro do time de futebol, popular e sempre rodeado de amigos. O encontro dos dois, embora convivam nas salas de aula, se dá na casa de Marianne: a mãe de Connell é funcionária da mansão em que ela vive, o que também logo evidencia a distância social entre os dois.

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