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Lemos, gostamos (ou não) e indicamos (ou não). Aqui, colocamos nossas impressões sobre livros que, de alguma forma, nos marcaram. Tem opinião, mas não tem spoiler!

[Resenha | Review] A Trilogia de Nova York / The New York Trilogy

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A Trilogia de Nova York (Companhia das Letras, 344 páginas) é o tipo de livro que surpreende. À primeira vista, parece um romance policial, mas, à medida que as tramas evoluem, percebemos que as empreitadas detetivescas são apenas a superfície de questionamentos que vão muito além de um mistério policial. São três histórias que se passam na cidade de Nova York e que compartilham muito mais que o cenário agitado de uma grande metrópole e o tom noir.

Na primeira narrativa, Cidade de Vidro, um escritor de romances policiais cheio de problemas em sua vida pessoal acaba se tornando, por acaso, detetive de uma investigação particular. O que era, até então, para ele, apenas objeto de ficção se torna sua realidade. E, para deixar a trama ainda mais intrincada, um dos personagens leva um nome pra lá de familiar: Paul Auster. Você já pode imaginar quantas conexões malucas essa leitura permite!

Fantasmas, a segunda história do livro, segue a linha de detetives, perseguições e mistérios. São quatro personagens, todos eles com nomes de cores, cujos caminhos se cruzam por uma investigação. Um deles é contratado como detetive particular para vigiar o outro, sem saber os motivos. Sua tarefa é apenas observar e relatar. No entanto, essa busca, por si só cheia de mistérios, acaba virando uma obsessão perigosa.

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[Resenha] Pessoas Normais, de Sally Rooney

Pessoas Normais (Companhia das Letras, 264 páginas) é, a princípio, um romance adolescente. Connell e Marianne se conhecem na escola de ensino médio em que os dois estudam, em uma cidade do interior da Irlanda, e se apaixonam. Poderia ser só isso, mas Sally Rooney encontra na força do primeiro amor, com seus desencontros, desencantos e dificuldades, o caminho para escrever um livro muito saboroso, daqueles que fazem a gente querer voltar a viver as angústias e dramas da adolescência.

O romance é improvável. Marianne é uma garota reclusa na escola, com dificuldade de se relacionar com os colegas e com a família. Já Connell é o astro do time de futebol, popular e sempre rodeado de amigos. O encontro dos dois, embora convivam nas salas de aula, se dá na casa de Marianne: a mãe de Connell é funcionária da mansão em que ela vive, o que também logo evidencia a distância social entre os dois.

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[Resenha / Review] Complô contra a América / The Plot Against America

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A leitura de Complô Contra a América (Companhia de Bolso, 440 páginas), é uma mistura de sentimentos contraditórios. De um lado, o prazer da boa literatura na escrita envolvente de Philip Roth, quase impossível de largar. Do outro, o gosto amargo de se enxergar em uma realidade não muito distante da ficção distópica apresentada pelo romance.

Philip, o protagonista, é um garoto estadunidense nos anos 40, nascido no seio de uma família judia. Sua infância tinha tudo para se passar na mais tranquila normalidade, não fosse por um acontecimento: a eleição de um simpatizante do nazismo de Hitler, o aviador Charles A. Lindbergh, como presidente dos Estados Unidos.

Roth narra, a partir da visão do garoto, a conjuntura social e política que levou à derrota do então presidente Franklin D. Roosevelt para um candidato novato que, ainda em campanha, demonstrava afinidades com as ideias extremistas que chegavam da Europa. Essa perspectiva infantil dos fatos é um dos grandes destaques do romance. A inocência com que, por vezes, o protagonista interpreta os sinais da tormenta que viria, deixa o leitor angustiado, com vontade de entrar na trama para mudar o curso da história.

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[Resenha] A Canção de Solomon, de Toni Morrison / [Review] Song of Solomon

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A Canção de Solomon (1977) foi publicado dez anos antes da obra-prima de Toni Morrison, Beloved (1987). Em dez anos, a autora ganhadora do prêmio Nobel não apenas aperfeiçoa sua linguagem poética, que se alimenta, principalmente, dos ritmos da fala e da canção afro-americana, mas também reforça a escrita vanguardista e poderosa que a estabeleceu como a principal voz da identidade negra na América no século XX.

O romance conta a história de Macon “Milkman” Dead III, filho de um bem-sucedido empresário negro da região Norte dos Estados Unidos. Milkman nasceu exatamente no mesmo dia em que um vizinho excêntrico se atirou do telhado em uma tentativa fracassada de voar. Além desse fato peculiar em sua data de nascimento, Macon também carrega um apelido esquisito, Milkman, que surgiu do fato de ele ter sido amamentado por sua mãe até uma idade bastante avançada.

Embora esse rápido resumo não cubra todos os meandros da narrativa de Morrison, ele evidencia dois elementos fundamentais que se entrelaçam no romance: o ato de voar como um símbolo da liberdade e o nome de uma pessoa como um ponto de partida para a busca da identidade.

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[Resenha] Se a Rua Beale Falasse, de James Baldwin

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James Baldwin escreveu este clássico da literatura americana em 1974, mas a trama de Se a Rua Beale Falasse (Companhia das Letras, 224 páginas) ainda é uma realidade incômoda: Fonny é um jovem negro preso em função de uma falsa acusação de estupro, o que leva sua namorada, Tish, a engajar toda sua família na luta pela liberdade do noivo, ao mesmo tempo em que tem que reunir forças para levar adiante sua gravidez. 

O racismo institucionalizado na sociedade americana, mesmo em uma cidade cosmopolita como  Nova York, é o pano de fundo desse romance, do qual emergem muitas de suas qualidades. Baldwin trata, em sua narrativa, das muitas injustiças a que são submetidas as populações mais vulneráveis de uma cidade com a qual tinha uma relação de amor e ódio. Sobre algumas, ele não se aprofunda, mas nos faz entrever um buraco fundo. Um exemplo é o sistema prisional. Sabemos pelas visitas de Tish que a prisão terá efeitos indeléveis sobre Fonny, mas nunca ultrapassamos as barreiras de vidro interpostas entre o casal.

Ao tangenciar injustiças sistêmicas, Baldwin escancara um abismo muito mais profundo, o que distancia os jovens de seus sonhos e de seu potencial. O sonho americano é um privilégio de poucos – certamente não ao alcance de Tish e Fonny. Os dois se conheceram ainda bastante jovens, vizinhos no Harlem, um bairro habitado majoritariamente pela população negra. Enquanto a família de Tish é bem estruturada, Fonny tem que lidar com a aversão da mãe, que prefere as duas filhas mais novas, de pele mais clara. A desigualdade, na experiência pessoal de Baldwin, começa em casa e dali se prolonga para a rua. 

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