[Lista] 5 razões para ler e amar Chimamanda Ngozi Adichie

Quem acompanha o Achados & Lidos há algum tempo já sabe: uma das nossas grandes paixões literárias é a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. A autora completou 40 anos na semana passada e, para celebrar essa data, decidimos listar alguns motivos pelos quais acreditamos que todo mundo deveria ler pelo menos um livro dela!

Ao todo, Adichie escreveu três romances (Hibisco Roxo, Meio Sol Amarelo e Americanah) e um livro de contos (No Seu Pescoço), além de dois pequenos manifestos, todos editados no Brasil pela Companhia das Letras. Venha conhecer mais – e se apaixonar – por uma das vozes femininas mais brilhantes da nossa geração.

1. Suas personagens femininas são inesquecíveis

As personagens de Chimamanda Ngozi Adichie cometem erros de julgamento, falham, seguem caminhos tortuosos e, nessa trajetória, aprendem – e nos ensinam – muito. Como não poderia deixar de ser, as protagonistas dos livros da autora são personagens que, em meio ao caos, conseguem moldar o seu entorno, equilibrando os diversos papéis que as mulheres acumulam na sociedade. Facilmente relacionáveis, elas são também inesquecíveis.

Em Hibisco Roxo, por exemplo, acompanhamos a história de Kambili, uma jovem que, vivendo uma rígida rotina em casa, numa situação de abuso psicológico e físico, encontra um respiro nos jardins de hibiscos de sua tia Ifeoma. O espírito leve da tia, mesmo diante da situação familiar complexa, contribui para a mudanças de percepção tanto da garota quanto de seu irmão, Jaja, sobre religião, tradições e relacionamento.

Tia Ifeoma, contudo, não é a única mulher forte, pela qual logo nos afeiçoamos, nos livros de Adichie. Americanah, por exemplo, é centrada na história de Ifemelu, uma jovem que migra para os Estados Unidos após concluir colégio e lá descobre o racismo e a discriminação. Acaba escrevendo, então, um blog sobre raça que logo se populariza. Ifemelu é uma jovem que está desenvolvendo sua identidade, suas responsabilidades e encontrando seu espaço no mundo, sujeita a erros e trombadas nesse caminho. Isso a torna tão humana, tão próximas de nossas experiências, que parece que fizemos uma amiga lendo o livro.

2. Seus livros são impossíveis de largar

Adichie é uma mulher de múltiplos papéis, mas, acima de tudo, ela é uma excelente contadora de histórias. Seus livros são construídos de tal forma que há sempre um acontecimento à espreita, uma tensão que precisa se dissipar.. As histórias são bem amarradas, os personagens, como dito acima, são cativantes e o enredo nos leva a um passeio por assuntos por vezes distantes, como a Guerra da Biafra, mas que aguçam a curiosidade.

A qualidade da literatura produzida pela escritora faz com que seja praticamente impossível largar seus livros. E isso vale para os seus contos, romances ou mesmo seus manifestos, mais curtos. Acabei lendo No Seu Pescoço, último livro da autora a ser lançado no Brasil, de contos, em praticamente duas tardes. A tentação de virar a próxima página era sempre mais forte do que qualquer demanda do cotidiano.

Hibisco Roxo, o título escolhido para o primeiro Clube do Livro do Achados & Lidos, foi um grande desafio de autodisciplina. Esperar a próxima semana para a leitura ficava cada vez mais difícil à medida que mergulhávamos na história de Kambili e Jaja. É quase como se a autora tivesse o poder de nos enfeitiçar. Da força dos personagens ao fato de que a narrativa está sempre engatilhada, com ritmo da primeira à última página, tudo contribui para que o mergulho na obra da autora seja rápido e prazeroso.

3. Ela tem contribuído para popularizar a literatura africana

Uma das palestras mais conhecidas de Chimamanda Ngozi Adichie fala do risco de cairmos em uma história única, uma narrativa com a qual não nos identificamos, mas que é imposta pelos padrões culturais ocidentais.

A autora procura, por sua obra e seu ativismo, lutar contra isso. Não existe uma “África”, mas um continente com uma história rica e complexa, repleta de diversidade. Por meio de seus livros, Adichie busca nos apresentar a Nigéria e sua cultura, sua comida, a mistura de crenças “pagãs” e católicas que formam a vida religiosa da população. Adichie não faz concessões para facilitar a digestão de suas obras e recheia os livros de nomes tipicamente nigerianos, de expressões em igbo, de nomes de comidas locais. E isso que torna seus livros tão ricos.

Mas, mais do que isso, Adichie também busca disseminar autores africanos, que nem sempre tem o devido reconhecimento fora de seus países. Recentemente, ela foi convidada para ser a curadora da edição de outubro da TAG, um clube de assinatura de livros.  Ao ser questionada sobre seu livro favorito, a autora respondeu que não seria possível escolher apenas um título, e nos trouxe cinco opções, que podem ser vistas neste post aqui. Na lista, nada de clássicos da literatura americana ou europeia, que costumam ser citados como as referências para os autores. São escritores desconhecidos no Brasil e Adichie luta para mudar esse cenário. Sua atuação não se dá só no discurso, mas na prática também. Já estou curiosíssima para conhecer suas indicações

4. Seus livros falam de temas difíceis, mas em linguagem acessível

Abuso físico, violência, guerras, feminismo, imigração, racismo. Todos esses temas difíceis, mas muito caros para a escritora, formam o pano de fundo de suas histórias e contos. Mas nada disso aparece de forma superficial ou em tom panfletário. Ao contar as histórias de gente comum, de qualquer um de nós, a escritora coloca essas questões em debate, nas entrelinhas, evidenciando como é na experiência individual que os temas universais se fazem presentes.

Como no conto A Historiadora Obstinada, parte da coletânea No Seu Pescoço. Nesse conto, um dos meus preferidos do livro, Nwagmba vê seu herdeiro ameaçado por dois primos do marido, já falecido. Para garantir que o menino não acabaria sem os recursos e o status que lhe eram devidos, ela o envia para ser educado pelos missionários, mas o garoto acaba doutrinado e deixa de compartilhar dos valores e da cultura da mãe. Esse resgate só seria feito por sua neta, em uma história com um arco narrativo de mais de 100 anos, até que ela se torne professora de uma faculdade e passe a ensinar e pesquisar sobre a história não contada da África, pré-colonização. A experimentação de forma e conteúdo, no entanto, seguem uma linguagem muito acessível, que tornam a leitura fluída, sem tropeços. O estilo direto, com repetições de construções, são alguns dos elementos que fazem a escrita de Adichie ser tão simples e, ao mesmo tempo, elegante.

Foi Grace quem começou a repensar tudo o que seu pai havia aprendido e que então correu para casa para vê-lo, ele que já tinha os olhos molhados dos velhos, dizendo-lhe que não recebera todas aquelas cartas que tinha ignorado, dizendo amém quando ele rezava, apertando os lábios contra sua testa. Foi Grace quem, passando de carro por Agueke ao voltar, começaria a ser assombrada pela imagem de uma aldeia destruída, e iria a Londres, Paris e Onicha, folheando pastas emboloradas em arquivos e reinventando as vidas e os cheiros do mundo de sua avó para o livro que escreveria, intitulado Pacificando com Balas: Uma História Recuperada do Sul da Nigéria.

5. Além de escritora, é uma grande ativista pelo direito das mulheres

Chimamanda Ngozi Adichie é uma grande ativista em prol dos direitos das mulheres e usa seus livros  como uma arma nesse combate. Além disso, Adichie concede palestras e faz discursos, sempre com o objetivo de disseminar sua campanha.

Sejamos Todos Feministas, uma palestra que deu em um TEDTalk, foi tão assistida e repercutiu tanto que acabou sendo editado como um pequeno livro. É o tipo da leitura essencial para homens e mulheres que acreditam na possibilidade de construir um mundo menos desigual. Dessa forma, Adichie contribui para pautar o debate e, mais do que tudo, transcender as fronteiras do mundo literário. De música da Beyoncé à frase estampada nas camisetas da Dior, Adichie ampliou o alcance do seu discurso, que é fortíssimo.

O mesmo vale para Como Educar uma Criança Feminista. Dessa vez, a gênese do livro foi uma carta que a autora escrever para uma amiga que tinha acabado de ter uma filha e tinha lhe feito justamente esse questionamento. Ao responder, Adichie escreveu uma linda carta, que deveria ser lida por todas as futuras mães.

E vocês? Também compartilham do nosso amor pela autora? Contem para gente quais outros motivos vocês dariam para recomendar a obra de Chimamanda Ngozi Adichie!

Tainara Machado

Tainara Machado

Acredita que a paz interior só pode ser alcançada depois do café da manhã, é refém de livros de capa bonita e não pode ter nas mãos cardápios traduzidos. Formou-se em jornalismo na ECA-USP.
Tainara Machado

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1 Comentário

  1. Adorei o post. Eu estou encantada por Chiamamanda, li HIBISCO ROXO em um curto espaço de tempo e ontem mesmo comecei a ler Meio Sol Amarelo. É impressionante como ela aborda assuntos importantes, pesados de uma forma tão fluída e leve.
    Apaixonada.

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