Hoje, mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: “Mãe morta. Enterro amanhã. Sinceros sentimentos.” Isso não esclarece nada. Talvez tenha sido ontem.

Esse trecho, um dos mais famosos começos da literatura mundial, é um aperitivo da leitura de O Estrangeiro – romance de Albert Camus que surpreende pela naturalidade com que os acontecimentos mais bizarros e improváveis são conduzidos.

A história se passa na Argélia, quando o território ainda era colônia francesa. O narrador e personagem principal é Mersault, um homem de poucas palavras e cuja objetividade se confunde com seu comportamento frio.

O início é um relato minucioso do enterro de sua mãe, na cidade de Marengo, onde ela estava internada há tempos em um asilo. Ao contrário do que se espera em uma situação de luto, as descrições de Mersault são muito mais resultado de suas experiências sensoriais, sobretudo com o clima cálido da região, do que de seus sentimentos:

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