Para Você Não se Perder no Bairro, do francês Patrick Modiano, é um livro curto, de menos de 140 páginas, mas isso está longe de significar uma leitura fácil. O oposto é mais verdadeiro. Essa é uma obra intrincada, repleta de idas e vindas, como se Modiano estivesse montando um quebra-cabeças a partir de fragmentos de memórias, em que cada peça puxa a próxima, até que a tela se complete. Mas, até o desfecho, muitos elos parecerão desencaixados.

A história começa com uma ligação um tanto sinistra. Um homem encontrou uma caderneta de telefones e pretende devolvê-la a seu dono, o escritor Jean Dagarane. Já sexagenário e com pouco contato com o mundo exterior, Dagarane se arrepende do descuido que foi ter colocado seu endereço e nome no pequeno caderno de telefones.

Com medo de ser seguido pelo autor do telefonema, ou encontrá-lo à espreita em sua porta, aceita comparecer ao encontro. Até então, ele vivia num limbo sem lembranças:

Se o sujeito desconhecido não tivesse telefonado, acabaria por esquecer para sempre a perda daquela caderneta. Tentou se lembrar dos nomes registrados nela. Na semana anterior, buscara resgatá-los da memória e começou a fazer uma lista numa folha em branco. A certa altura, rasgou a folha.

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