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[Divã] Livros e memória afetiva

Tenho a impressão de que dentre as pessoas mais importantes da minha vida estão alguns livros.

O escritor português Valter Hugo Mãe disse essa frase durante uma palestra em São Paulo, no ano passado. Concordo totalmente. Os livros guardam mais do que a história dos seus personagens. Como bons amigos, eles carregam um pouco da nossa própria história.

Tenho o hábito de anotar na folha de rosto dos meus livros o mês e o ano em que concluí a leitura – além do registro, é uma forma de controlar minha pilha de não lidos, rs. De vez em quando, gosto de revirar minha estante olhando essas datas.

Apesar da decepção por ver que meu fôlego literário para calhamaços tem diminuído (saudade, vida de estudante), há outros sentimentos que me invadem. Alguns títulos me despertam memórias afetivas de certos períodos da minha vida.

Em março de 2011, terminei a leitura de 2666, de Roberto Bolaño. A obra-prima do escritor chileno é um livro denso, com uma narrativa violenta e perturbadora. Ainda assim é um dos meus romances favoritos. Provavelmente, porque era o que eu precisava naquele momento em que a espera por uma decisão me angustiava. A escrita de Bolaño me acompanhou por meses, preenchendo vazios e marcando minha memória sobre esse romance. Todos que me perguntam sobre 2666 recebem respostas entusiasmadas, seguidas de um “tem que ler!”.

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[Resenha] A Pista de Gelo

Uma mesma história conduzida por vários narradores desperta minha admiração. Quando o enredo tem mistério, fico mais encantada ainda, pois o escritor precisa ser muito habilidoso para não se contradizer ou deixar pontas soltas. Essa característica é o segundo motivo pelo qual amei o livro A pista de gelo. O primeiro, bem mais passional, é porque ele foi escrito por Roberto Bolaño, do qual sou fã desde 2011, quando fui arrebatada pela leitura, densa e incrível, de sua obra-prima, 2666.

O romance A pista de gelo é construído a partir de três versões de um mesmo crime, ocorrido em uma cidade da costa espanhola. Cada capítulo é narrado por um destes três personagens: Enric Rosquelles, um empreendedor catalão, arrogante e metido a político, capaz de tudo por uma bela patinadora; Gaspar Heredia, um mexicano que depois de tentar dar certo como poeta acaba como vigilante noturno em um camping; e Remo Morán, um chileno, também com pretensões de escritor, que já transitou por quase todas as profissões e negócios até conseguir estabilidade financeira.

O tom confessional dos capítulos nos aproxima da história. Ora temos a sensação de que estamos em uma daquelas salas de filme policial onde se tomam os depoimentos dos suspeitos, ora nos imaginamos em uma sessão de terapia, na qual os personagens, deitados no divã, nos contam sobre suas vidas. Enric, Gaspar e Remo relatam os fatos que testemunharam ou viveram e parecem, a todo momento, querer se justificar ou se livrar de alguma culpa.

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