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[Resenha] A Trégua

Prestes a se aposentar, Martín Santomé não sabe bem o que fará com seu tempo ocioso. Em um diário, ele faz planos para a sua liberdade permanente, que ao mesmo tempo parece uma espécie de prisão: entre a jardinagem, o violão e a escrita, Santomé sabe, intuitivamente, que estará confinado à solidão dos dias.

Viúvo e pai de três filhos com os quais mantém um relacionamento distante, apesar de habitarem o mesmo teto, Santomé é o personagem central de A Trégua, (Alfaguara, 180 páginas), do uruguaio Mario Benedetti. Prestes a completar 50 anos, a vida maçante de Santomé é transcrita em um diário que reúne impressões, reflexões e a observações do cotidiano, de um jeito tão direto quanto cativante, pela franqueza de seu relato.

Se um dia eu me suicidar, será num domingo. É o dia mais desalentador, mais sem graça, Quem me dera ficar na cama até tarde, pelo menos até as nove ou as dez, mas às seis e meia acordo sozinho e já não consigo pregar o olho. Às vezes penso o que farei quando toda a minha vida for domingo.

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[Resenha] Noites de Alface

Nada é banal quando se observa com atenção. Até a rotina mais morna de uma pacata vizinhança pode esconder fatos dignos de um romance. Vanessa Barbara provou isso em Noites de Alface, um livro que corrobora a presença da autora na lista dos 20 melhores jovens escritores brasileiros da revista literária Granta.

Otto é um viúvo solitário e ranzinza, que sofre de insônia e leva os dias em uma profunda apatia desde a morte repentina da esposa, Ada. As singelas recordações dos hábitos simples que cultivou com a companheira, em mais de cinquenta anos de casamento, fazem com que nós, leitores, relevemos toda sua casmurrice. A ligação entre Ada e Otto é cativante.

Nada no ar parado o fazia lembrar-se de Ada; era o vento que a trazia de volta, agitada, puxando-a pela mão nos dias de chuva. Otto levantou-se e abriu a janela da sala. A corrente de ar ficou mais forte. Achava desconcertante a esposa ter desaparecido assim, de uma hora pra outra, pois ela vivia na segunda-feira, e na terça já não existia mais. Assim, de repente. (…) O sofá estava espaçoso demais, não havia mais vestidos ou pentes nem creme hidratante com aroma de pepino.

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