Cheguei atrasada. As luzes já estavam apagadas e não conseguia enxergar se havia lugares mais à frente. Senti um desânimo. Não era hoje que eu veria tão de perto um Nobel de Literatura.

Mas tudo bem, na minha lista “Indicadores de Sucesso na Vida”, eu havia sido modesta na meta. Tinha estipulado apenas “conhecer um prêmio Nobel de Literatura”. Não havia nenhuma cláusula sobre proximidade ou interação. Podia dar um check.

O mediador fez uma breve apresentação do evento e do escritor. Chuva de aplausos, iluminação no púlpito, uma voz serena e firme (até demais para seus 80 anos) retomou o silêncio. Mario Vargas Llosa estava ali, a alguns metros de distância, falando um espanhol tranquilo e muito agradável.

No início, confesso que me distraí e perdi alguns momentos. Primeiro, porque as luzes se acenderam e eu consegui um lugar mais para frente. Encolhe pernas, pede licença, esbarra nas pessoas. Odeio fazer isso, mas foi por uma boa causa. Agora, já podia dar um check na minha lista com mais convicção. O segundo motivo da minha distração foi alguém, ao meu lado, que escutava no volume mais alto a tradução simultânea (e desnecessária) da palestra.

Passada essa confusão inicial, embarquei na narrativa de Llosa. O tema deste ano do Fronteiras do Pensamento, evento que trouxe o escritor peruano, é “A Grande Virada”. A abordagem escolhida por Llosa foi a virada que marcou sua formação política. Ele narrou por mais de uma hora sua trajetória nesse campo, que começou aos 14 anos, época em que o Peru atravessava a ditadura do general Odría.

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