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[Resenha] Meu Livro Violeta

No último mês, o autor inglês Ian McEwan completou 70 anos. Para comemorar a data, a Companhia das Letras publicou, em edições primorosas, duas obras inéditas do autor.

Meu Livro Violeta (Companhia das Letras, 125 páginas) é uma dessas publicações. Ela reúne duas breves histórias que comprovam que o talento do britânico cabe tanto em narrativas curtas quanto longas. Para quem já conhece a escrita de McEwan, é leitura para aumentar a admiração pela versatilidade do autor. Quem ainda não teve contato com sua literatura, é uma ótima oportunidade para engatar os romances mais famosos, como Reparação e Enclausurado.

O primeiro conto, que intitula o livro, foi originalmente publicado na seção de ficção da revista The New Yorker, em 2016 (nesse post, há inclusive o áudio do autor lendo a história). A narrativa, conduzida em primeira pessoa pelo personagem Parker Sparrow, revela duas grandes marcas da escrita de McEwan: a ironia e o humor negro, tipicamente britânicos.

Logo no início, o narrador avisa que seu relato se trata de uma espécie de confissão de um crime, do qual, ao que parece, ele não se orgulha, tampouco se arrepende:

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[Resenha] Reparação

Quem nunca desejou decifrar os pensamentos de outra pessoa? Reparação, de Ian McEwan, é um deleite para leitores com esse perfil. A habilidade do escritor inglês em descrever os sentimentos de seus personagens é o ponto alto deste romance que ficou entre os finalistas do Man Booker Prize e ganhou versão para o cinema com direção de Joe Wright.

A maior parte da história se desenrola no verão de 1935. Briony Tallis, a personagem central, é uma garota de 13 anos, com uma mente bastante fantasiosa. A caçula temporã de uma família tradicional e abastada, ela não demora muito para revelar sua personalidade controladora.

A chegada dos primos, Lola e os gêmeos, e principalmente dos irmãos, Cecilia e Leon, agitam a rotina insípida da menina. Ela decide escrever e dirigir uma peça de teatro que seria encenada no primeiro jantar, como boas-vindas ao irmão. Mais do que agradá-lo, Briony queria estar no centro das atenções e exibir seu talento com a escrita.

A peça era um drama romântico fortemente influenciado pelos contos de fadas que povoavam suas leituras – finais felizes previsíveis e heróis que salvam mocinhas sofredoras. Embora tivesse a técnica, Briony não tinha como ir além, porque sua experiência de vida era muito rasa:

…não havia gaveta oculta, diário com cadeado nem sistema de criptografia que pudesse esconder de Briony a verdade pura e simples: ela não tinha segredos. Seu desejo de viver num mundo harmonioso, organizado, negava-lhe as possibilidades perigosas do mal. (…) Não havia nada em sua vida que fosse interessante ou vergonhoso que chegasse para merecer ser escondido…

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