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[Resenha] Breves Entrevistas Com Homens Hediondos

Ler a ficção de David Foster Wallace é conhecer uma nova literatura. O escritor americano, considerado um dos grandes autores contemporâneos, usa e abusa de experimentalismos de forma e linguagem para compor uma narrativa que parece exigir do leitor quase o mesmo esforço que o próprio Wallace empreendeu para escrevê-la.

No livro de contos Breves Entrevistas Com Homens Hediondos, há histórias curtas, outras mais longas, todas orbitando em torno do mesmo tema: a monstruosidade que pode existir dentro de uma pessoa.

Na série de textos que dá título ao livro, por exemplo, os personagens são homens que dão entrevistas a uma interlocutora mulher, que nunca aparece. Em seus depoimentos, eles expõem toda a imoralidade de seus pensamentos e atitudes.

O tom confessional das narrativas mostra, além dos fantasmas desses personagens hediondos, a necessidade que eles têm de compartilhar os desejos tortos que os habitam. Em alguns momentos, fica a impressão de que se trata apenas de um exibicionismo frio e perturbador. Em outros, os personagens aparecem como pessoas vulneráveis que encontraram na narrativa uma possibilidade de dividir o fardo que carregam e de buscar a redenção.

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[Lista] 5 ótimos livros de ensaios

Ensaios não estão entre as categorias mais populares da literatura. Há quem diga que são muito teóricos e difíceis de entender. Para mim, é justamente o contrário. Ler um ensaio é a oportunidade de decifrar um autor e chegar mais perto de compreender toda sua obra. Nesse gênero, os escritores abdicam das máscaras atenuantes da ficção e expõem suas opiniões e experiências da forma mais sincera e direta, nos fazendo refletir sobre nossas próprias posições. Confira, abaixo, uma seleção com meus cinco livros de ensaios favoritos.

1. A Vida Descalço, de Alan Pauls: a escrita do autor argentino não poderia encontrar melhor morada que no gênero de ensaios. Mesmo em seus romances, Pauls é capaz de conduzir longas digressões até esgotar um assunto, sem perder a linha de raciocínio nem a atenção do leitor.

Em A Vida Descalço, o tema é a praia. Misturando memórias de infância às da vida adulta, inclusive sua primeira viagem ao Rio de Janeiro, o escritor desenvolve um ensaio sobre a praia como um ambiente imaginário, em que desejo, ilusão e novos códigos sociais são estabelecidos:

Só uma familiaridade muito precoce com os usos e costumes da praia pode, de fato, embaçar o brilho de uma obviedade que ainda hoje deveria nos deslumbrar: a praia é o único espaço público onde a nudez quase completa não é uma exceção nem uma infração provocadora, e sim um princípio de existência, uma forma de vida, a lei – tácita e unânime, mas não coercitiva – que rege a convivência humana.

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“A beleza não é o objetivo dos esportes de competição, mas o esporte de alto nível é um palco privilegiado para a expressão da beleza humana. É a mesma relação existente, em termos gerais, entre a coragem e a guerra.”

David Foster Wallace

em Ficando Longe do Fato de já Estar Meio que Longe de Tudo

Leitores anônimos

No metrô, em cafés, no parque ou até mesmo andando. Se há uma cena cotidiana que me inspira é a de pessoas lendo em lugares públicos. Vamos ser francos: não vivemos em um país que tem a cultura do livro, menos ainda em situações como essas, em que os smartphones – e suas redes sociais que tudo e nada conectam – surgem como a distração mais cômoda.

Momentos literários desse tipo são cada vez mais raros, por isso não meço esforços para aproveitá-los. Sou do tipo que faz peripécias para ampliar meu campo de visão e, assim, descobrir, sem denunciar minha curiosidade, qual livro o desconhecido ao meu lado está lendo. Vale até fingir dores nas costas e simular alongamentos para virar o pescoço em direção à capa misteriosa. Nem preciso dizer o quanto as leituras em tablets têm impossibilitado essa tarefa. O maior pecado dos e-books foi ter tirado da capa do livro sua condição de vitrine.

Não é sempre que o esforço da investigação é recompensado. Além do inconveniente dos tablets, há certos leitores que dificultam esse intercâmbio literário. Dobrar o livro, por exemplo, é prática que nunca entendi bem, porque não só atrapalha a curiosidade alheia, como também impede a passagem rápida à página seguinte e, principalmente, cria vincos pavorosos!

Outro obstáculo, por sorte cada vez menos comum, são as capas protetoras. Usá-las pode ter justificativas bastante plausíveis, entre elas proteger a integridade do livro ou a imagem do leitor (nunca se sabe o gosto literário duvidoso que está por baixo da proteção), mas ainda assim não é nada gentil com os curiosos de plantão.

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