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“Uma notícia não publicada não causa impacto. Poderia muito bem não ter acontecido. Assim, o jornalista é um aliado importante da ambição, é o acendedor de lampiões das estrelas. É convidado para festas, cortejado e cumprimentado, tem acesso a telefones que não constam da lista e a muitos estilos de vida. (…) Às vezes, o jornalista pode supor erroneamente que é seu charme, e não sua utilidade, que lhe rende esses privilégios; mas, em sua maioria, são homens realistas que não se deixam enganar pelo jogo. Eles o usam tanto quanto são usados. Ainda assim, são seres inquietos.”

 

Gay Talese em O Reino e o Poder

[Lista] 5 livros de não ficção

A literatura tem um papel importante na representação da realidade. Se a ficção já cumpre bem esse papel ao trazer tramas e personagens que refletem os dilemas do indivíduo e da sociedade, a não ficção consegue conectar o leitor com seu entorno de maneira ainda mais direta. Como nessa categoria cabem inúmeros gêneros literários e temáticas, a lista de hoje é bastante diversa – de memórias a livro-reportagens, de tragédias a arte.

17.09.11_lista_nao_ficcao_11. A Sangue Frio, de Truman Capote: nesse clássico contemporâneo, o escritor americano inaugurou um novo estilo literário – o romance de não ficção. Obra polêmica justamente por se estruturar sobre a linha tênue da realidade e da ficção, não há dúvida que Capote chacoalhou tanto os conceitos de literatura quanto de jornalismo.

Ele passou seis anos apurando o brutal assassinato da família Clutter, ocorrido em 1959 em uma pequena cidade no Kansas, Estados Unidos. Sem gravador ou bloco de notas, contando apenas com sua memória, Capote conversou com vizinhos da vítima, investigou as circunstâncias do crime e, principalmente, entrevistou os dois assassinos. Em anos de apuração, o autor acabou estabelecendo uma estranha relação de amizade e confiança com os criminosos – fato que, por diversas vezes, colocou em xeque a veracidade de sua narrativa.

A obra-prima de Capote não alcançou o sucesso apenas por essa polêmica. A linguagem irônica, os densos perfis psicológicos dos envolvidos e o exame exaustivo, ora neutro ora apaixonado, da realidade deram origem a um retrato cortante da violência nos Estados Unidos e do lado sombrio do sonho americano:

De que tinham medo? “Pode acontecer de novo.” Com algumas variações, era essa a resposta costumeira. No entanto, uma professora observou: “As pessoas não estariam tão alteradas se isso tivesse acontecido com outros que não os Clutter. Com uma família menos admirada. Menos próspera, menos segura. Mas eles representavam tudo o que as pessoas daqui valorizam e respeitam, e o fato de uma coisa dessas ter acontecido com eles – é o mesmo que alguém dizer que Deus não existe. Dá a impressão de que a vida não tem sentido. Acho que as pessoas não estão apenas assustadas; estão é profundamente deprimidas”.

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[Lista] 5 famílias inesquecíveis da literatura

Não são poucas as histórias famosas que nasceram da trajetória de clãs poderosos, de disputas entre herdeiros ou de rivalidades entre famílias. A Lista da Semana traz cinco parentelas da literatura que vão fazer a sua família parecer a mais normal do mundo, rs. Confira!

17.04.24_lista_familias_61. Bonanno, em Honra Teu Pai, de Gay Talese: Há um tipo de família que é objeto de fascínio de grande parte do público contemporâneo. Estou falando da máfia, uma das matérias-primas mais queridas pela ficção dos nossos tempos. De livros a produções de TV e cinema, não faltam exemplos de narrativas que foram beber nessa fonte.

A obra de Talese é ainda mais chamativa por trazer uma história real. Honra Teu Pai é um clássico do jornalismo literário e foi o primeiro livro de não ficção a revelar a vida secreta da máfia. Em quase sete anos de pesquisa, Gay Talese teve acesso irrestrito ao clã Bonanno, um dos grupos que controlava Nova York.

Em um relato despido de romantismo, o jornalista reconstrói a saga dessa família, a partir do sequestro do patriarca “Joe Bananas” Bonanno, em 1964. Nesse momento, seu filho Bill Bonanno começa um embate pelo controle da própria família, justamente quando o papel do crime organizado se transformava na sociedade norte-americana.

Vale ressaltar que, quando o assunto é máfia, a palavra “família” ganha um sentido bem mais abrangente. Nos Estados Unidos, na década de 30, a máfia, que é de origem siciliana, foi reestruturada de uma forma empresarial moderna. Havia uma fraternidade nacional, com cerca de 5 mil homens, divididos entre 24 organizações separadas (“famílias”). Em Nova York, onde vivia quase metade desse contingente, havia cinco “famílias”, uma delas a dos Bonanno. Cada organização tinha suas peculiaridades, mas devia seguir as regras da fraternidade e respeitar alguns valores que destoavam totalmente de suas práticas criminosas, como podemos notar nesta conversa emblemática de Joe com seu filho:

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[Divã] Jornalismo e literatura

O Dia do Jornalista, comemorado na última sexta-feira, 7 de abril, me fez pensar em grandes escritores que também atuam no jornalismo. Uma tentativa, talvez, de compreender por que, há dez anos, quando prestei vestibular, escolhi essa formação, rs. A lista, bem extensa, revelou uma variedade de épocas e estilos que mostram as nuances da relação entre as duas profissões.

O escritor francês Honoré de Balzac foi o primeiro que lembrei. Ele exerceu intensamente na juventude a atividade jornalística, com artigos sobre política, literatura, filosofia e mais duas outras áreas em que poucos o imaginam. Balzac foi crítico pioneiro de moda e de gastronomia na Paris dos anos 1820-30. O livro Tratado da Vida Elegante, publicado ano passado pela Penguin Companhia no Brasil, reúne esses textos.

O jornalismo era tão presente na realidade de Balzac que aparece quase como um personagem em um de seus romances mais famosos, Ilusões Perdidas. Nele, o jovem poeta Lucien abandona sua vida provinciana e vai para Paris, onde realiza o sonho de ser jornalista e é definitivamente corrompido pela vaidade social. Sua ascensão na profissão acompanha sua decadência moral:

Uma vez admitido no jornalismo e na literatura em pé de igualdade, Lucien percebeu as enormes dificuldades a serem vencidas no caso de querer se elevar: todos consentiam em tê-lo como igual, ninguém o queria como superior. Imperceptivelmente, ele renunciou, pois, à glória literária, acreditando que a fortuna política era mais fácil de ser obtida.

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“Sinatra estava doente. Padecia de uma doença tão comum que a maioria das pessoas a considera banal. Mas quando acontece com Sinatra, ela o mergulha num estado de angústia, de profunda depressão, pânico e até fúria. Frank Sinatra está resfriado.”

Gay Talese em Fama & Anonimato

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