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[Divã] Fenômenos literários

Como vocês sabem, estamos super animadas com o livro escolhido para o 11º Clube do Livro do Achados e Lidos. O título selecionado foi Canção de Ninar, da franco-marroquinha Leïla Slimani (quer saber mais sobre a autora e a obra? Clique aqui!). Um daqueles fenômenos literários raros – sucesso de público e crítica – o livro já vendeu mais de 600 mil exemplares e, ao mesmo tempo, levou o Prix Goncourt, mais prestigioso prêmio literário francês.

Reunir esses dois atributos é, sem dúvida, um grande feito. No mercado, não faltam best-sellers, como a trilogia Cinquenta Tons de Cinza, ou praticamente todo livro lançado por Jojo Moyes, que atraem milhares de  leitores, mas são solenemente esnobados pela crítica especializada. O que será necessário, então, para fazer nascer um fenômeno como Slimani?

A autora parece reunir, em sua obra, várias qualidades que a aproximam do público, como uma linguagem fácil e acessível e um romance que se inicia em clima de suspense, com atributos literários consideráveis, como sua capacidade de fazer o leitor enxergar outras realidades e nuances do cotidiano por meio de personagens bem construídos. Os temas que ela levanta também são socialmente relevantes. De origem marroquina, Slimani viveu a maior parte da vida na França, o que faz dela uma ótima porta-voz sobre imigração, capaz de escrever com autoridade sobre as sutilezas do preconceito com que estrangeiros são tratados em um país pouco tolerante com quem vem de fora.

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[Resenha] O Conto Zero e Outras Histórias

Contos são, no geral, narrativas bastante lineares. A concisão se faz necessária, e a adoção de uma estrutura narrativa mais simples, em que um personagem domina a ação até seu desfecho, é a construção que comumente funciona no gênero.

Sergio Sant’Anna, um dos maiores contistas brasileiros em atividade, subverte esse padrão em O Conto Zero e Outras Histórias (Companhia das Letras, 173  páginas, três estrelas), lançado em 2016. Logo no primeiro texto, o autor usa da metalinguagem para nos colocar de frente para a página em branco e a decisão de escrever ou não uma história, “que ficaria dias e mais dias rondando a  sua cabeça”.

O conto, que aos poucos ganha forma por meio de viagens consecutivas – de ônibus no Rio de Janeiro, de metrô em Londres -, é repleto de autorreferências sobre a infância e juventude de Sant’Anna e sua formação sentimental ao lado do irmão mais velho. Os constantes deslocamentos dos personagens parecem simbolizar a viagem no tempo em que mergulha o autor, pois também as memórias parecem vagar em nossa alma, para de repente chegar ao seu destino.

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