[Lista] 5 escritoras para ler mais mulheres

Ler mais mulheres é sempre um objetivo aqui no Achados e Lidos. Para incentivar nossos leitores na semana em que o mundo celebra o Dia da Mulher, listamos cinco escritoras que, em suas obras, contam histórias de personagens femininas fortes e interessantes, seja com base em relatos reais ou fictícios!

1. Xinran: A chinesa Xinran nasceu em Beijing em 1958 e escolheu uma profissão particularmente difícil em um país controlado por um partido pouco afeito à liberdade de expressão: o jornalismo. Em seus livros, entre os quais os mais conhecidos são Testemunhas da China e As Boas Mulheres da China, Xinran parte dos relatos de pessoas comuns para contar a história de um país que passou por transformações traumáticas nos últimos 50 anos, que trouxeram desenvolvimento ao mesmo tempo em que deixaram uma parte dos cidadãos à margem do progresso. 

A escritora, que passou pelo Brasil em 2009, se preocupou, especialmente, em dar voz às mulheres esquecidas nesse processo. Grande parte desses relatos foram colhidos durante o período em que Xinran apresentou um programa de rádio muito popular, Palavras na Brisa Noturna, no qual entrevistava mulheres de diferentes condições sociais para tentar entender como viviam essas personagens em um ambiente opressivo, humilhante e miserável.

A maioria das pessoas que me escreviam na rádio eram mulheres. Geralmente eram cartas anônimas ou assinadas com um nome fictício. Muito do que diziam me causava um choque profundo. Eu achava que compreendia as chinesas. Lendo as cartas, percebi como estava enganada. Elas viviam uma vida e enfrentavam problemas com que eu nem sequer sonhava.

O livro é de uma sensibilidade aguçada e mostra, além das agruras do mundo material, a falta de convívio sentimental que prevalecia na China. 

2. Svetlana Aleksiévitch: Outra escritora que se preocupou em dar voz ao seu povo, Aleksiévitch dedicou um livro inteiro aos relatos de mulheres que participaram ativamente da Segunda Guerra Mundial, mas cujo papel ficou ofuscado por uma narrativa da história que costuma ser, essencialmente, masculina.

São relatos que representam as mais de um milhão de mulheres que lutaram pelo Exército Vermelho, mas nunca foram ouvidas.

Não aceitaram meu pai no front. Ele teimava em ir ao centro de alistamento. Depois, conseguiu. E isso com sua saúde, seus cabelos brancos, seus pulmões: ele tinha uma tuberculose crônica. Mal curada. E a idade? Mas ele foi. Se alistou na Divisão de Aço, ou, como a chamavam, Divisão de Stálin; tinha muitos siberianos ali. Também achávamos que sem nós a guerra não era guerra, que devíamos lutar. Vamos, agora mesmo, às armas! Todos os meus colegas correram para o centro de alistamento. E no dia 10 de fevereiro fui para o front. Minha madrasta chorou muito: ‘Vália, não vá. O que você está fazendo? Você é tão fraca, tão magra, como vai ser um soldado?’. Eu fui raquítica por muito, muito tempo. Foi depois que mataram minha mãe. Até os cinco anos eu não andava… Sabe-se lá de onde tirei forças!

Na oralidade que marca a narrativa da bielorrussa, ganhadora do Prêmio Nobel em 2015, conhecemos histórias assombrosas de violência, crueldade e, ao mesmo tempo, presenciamos a descoberta de uma força interna potente, capaz de superar as mais insuportáveos adversidades.

3. Jane Austen: É clichê, mas é praticamente impossível deixar Jane Austen de fora de uma lista como essa. A inglesa, uma das principais vozes do romantismo na literatura, se destacava também por colocar as mulheres como personagens centrais de seus romances.

Por trás das histórias de amor que atravessam séculos e ainda nos fazem suspirar, Austen também embutiu em suas obras críticas sociais ao ambiente opressivo e patriarcal reservado às mulheres na Inglaterra vitoriana. Orgulho e Preconceito, por exemplo, começa com uma frase conhecidíssima, em que esse olhar agudo sobre a sociedade inglesa já transparece:

É uma verdade universalmente conhecida que todo homem solteiro em posse de uma bela fortuna dever estar necessitando de uma esposa. Por menos que sejam conhecidos os sentimentos ou o modo de pensar de tal homem ao entrar pela primeira vez em uma localidade, essa verdade encontra-se de tal modo enraizada ao espírito das famílias vizinhas que ele é considerado como propriedade legítima de uma de suas filhas.

4. Alice Munro: Os contos escritos pela canadense Alice Munro quase sempre adotam o ponto de vista feminino, com uma sensibilidade ímpar ao descortinar a banalidade do cotidiano e do destino dessas personagens.

São mulheres que encontram respostas, anos depois, para desilusões amorosas que aconteceram por um golpe surdo do destino, ou crianças que entendem apenas parcialmente sua origem, e descobrem a verdade à força. São ainda mulheres que, com uma vida já traçada, decidem tomar a estrada vicinal que as leva, forçosamente, a outro caminho. Na banalidade com que as decisões são tomadas, no modo como verdades e mentiras são relevadas, Munro descortina seu poder magistral como narradora da alma feminina.

Quando a oferta de lecionar chegou, todo mundo insistiu para que ela aceitasse. Vai ser bom para você. Viver um pouco no mundo. Ver um pouco de vida real.

Juliet já está acostumada a esse tipo de conselho, embora se decepcionasse ao ouvi-lo da parte de homens que não tinham nem a aparência e nem a escolha de vocabulário de gente que mantivesse embates muito vigorosos com o mundo real.

5. Chimamanda Ngozi Adichie: Bastante ativa nas redes sociais e no mundo real na militância pelos direitos das mulheres, Adichie é uma escritora tão influente que o título de seu pequeno manifesto, Sejamos Todos Feministas, virou até estampa de camiseta da Dior (imagina só se não desejamos essa peça por aqui).

Nem sempre os narradores de seus livros são mulheres, mas sua narrativa conta sempre com personagens femininas fortes, que aprendem com dificuldade que a conquista da liberdade vem sempre a um custo muito alto. Em Hibisco Roxo, que lemos no primeiro Clube do Livro do Achados e Lidos, a adolescente Kambili precisa, antes de conquistar sua independência, entender a que grau de opressão estava submetida por seu pai. Ela só conseguirá respirar esse ar quando o contato com sua tia Ifeoma, um vento de esperança em um livro essencialmente triste, se aprofunda.

Tia Ifeoma apareceu no dia seguinte. (…) Sua risada flutuou até a sala de estar do segundo andar onde eu estava lendo. Eu não a ouvia fazia dois anos, mas teria reconhecido aquela risada gostosa em qualquer lugar.

Em Meio Sol Amarelo, o primeiro livro que li de Adichie, todos estão, homens e mulheres, cada um a seu modo, resistindo à guerra que dividiu a Nigéria, na tentativa de fundar o Estado da Biafra. Como sempre, a nigeriana foi capaz de narrar eventos políticos a partir de um panorama de vidas e de como elas foram moldadas pelo eventos históricos. Seus livros são todos imperdíveis, assim como os pequenos manifestos.

E você, qual seu livro favorito escrito por (e sobre) mulheres?

Tainara Machado

Tainara Machado

Acredita que a paz interior só pode ser alcançada depois do café da manhã, é refém de livros de capa bonita e não pode ter nas mãos cardápios traduzidos. Formou-se em jornalismo na ECA-USP.
Tainara Machado

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2 Comentários

  1. Olá, que post legal! Jane Austen é quase unanimidade, como escrevia bem, como seu texto nos prende. Tem uma autora brasileira que é uma das minhas preferidas, Zélia Gattai, excelente dica para quem gosta de uma escrita saudosista. Abraço!

    • Tainara Machado

      14 de março de 2017 at 14:46

      Olá, Maria, tudo bem?
      Que bom que você gostou do post! Em uma lista dessas não dá para deixar Jane Austen de fora, né? Sabe que nunca li nada da Zélia Gattai? Qual livro você indica para começar?
      Abraços!

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