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[A Máquina de Fazer Espanhóis] Semana #6

Transcorrido um ano desde que António está no Lar da Feliz Idade, a dor da perda de Laura vai, aos poucos, se transformando em saudade e permitindo que nosso casmurro narrador volte a se sentir aquecido sob o sol. Para a próxima semana, avançamos mais dois capítulos na leitura de A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe – até a página 154, se você tem a edição da Biblioteca Azul, ou até a página 140, se você tem a edição da Cosac Naify.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

O cemitério, quase um personagem de A Máquina de Fazer Espanhóis, volta a aparecer no nono capítulo.  Dessa vez, ao contrário da outra visita descrita no livro, em que António não conseguiu nem chegar perto do lugar, o que lhe chama atenção é a mesmice das paisagens, das placas, das fotografias já apagadas: a igualdade de todos perante a morte.

tanta cultura e tanta fartura e ao pé da morte a igualdade frustrante e a mesma ciência. sabemos todos rigorosamente uma ignorância semelhante.

O lugar em que Laura está enterrada, como não poderia deixar de ser, também é exatamente igual aos outros, sem nada que a diferenciasse da última morada dos demais naquele cemitério. Para António, aquilo não deixa de ser um choque, mais uma constatação da perda da esposa, que sempre havia se diferenciado dos demais e se fazia notar ao entrar em uma sala, pela força de sua beleza interior e de seus gestos.

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[A Máquina de Fazer Espanhóis] Semana #5

[A Máquina de Fazer Espanhóis] Semana #5

Nesta última leitura, conhecemos um pouco o passado de António e as experiências que formaram, ao longo de mais de oito décadas de vida, a personalidade que vemos aflorar no Lar da Feliz Idade. Para a próxima semana, avançamos mais dois capítulos na leitura de A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe – até a página 131, se você tem a edição da Biblioteca Azul, ou até a página 118, se você tem a edição da Cosac Naify.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

A ditadura de António Salazar, que governou Portugal por mais de 40 anos, chegou ao romance A Máquina de Fazer Espanhóis. As memórias de António reconstroem esse período obscuro da nação portuguesa.

O narrador relembra a época de seu matrimônio com Laura. A ingenuidade do casal é, aos poucos, minada por uma realidade que em nada parecia com a propaganda de progresso distribuída pelo governo. O espírito de solidariedade em prol do coletivo era apenas um eufemismo para incentivar a resignação dos menos favorecidos. Um povo quieto era, então, mais conveniente:

havia uma decência, com um tanto de massacre, sem dúvida. Mas uma decência que criava um porreirismo fiável que incutia em todos um respeito inegável pelo colectivo, porque estávamos comprometidos em sociedade, por todos os lados cercados pela ideia de sacrifício, pela crença de que o sacrifício nos levaria à candura e de que a pureza era possível.

António, a princípio, não acreditava que as diretrizes políticas afetassem seu dia a dia. No entanto, começa a sentir em sua vida adulta, ao lado de Laura, os efeitos da miséria de oportunidades em uma sociedade desigual. A lembrança da perda do primeiro filho, por falta de recursos, é marcante: Leia mais

[A Máquina de Fazer Espanhóis] Semana #4

Embora ainda dominado pela tristeza do luto, António começa a ver, aqui e ali, algum sinal de graça na vida. Nos últimos dois capítulos, também começamos a acompanhar uma investigação que pode resultar em eventos macabros no Lar da Feliz Idade. Continua tão curioso quanto a gente com o desfecho de A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe? Então nos acompanhe pelos próximos dois capítulos – até a página 111, se você tem a edição da Biblioteca Azul, ou até a página 97, se você tem a edição da Cosac Naify.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Ainda no quarto capítulo de A Máquina de Fazer Espanhóis, conhecemos Esteves sem metafísica. Sua história extraordinária – ele teria inspirado o famoso poema de Fernando Pessoa – acende a primeira fagulha de entusiasmo em António desde que ele chegou ao lar de idosos depois de ficar viúvo.

sorri verdadeiramente como nunca até ali naquele lar.

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[A Máquina de Fazer Espanhóis] Semana #3

Acompanhar os dias de António no Lar da Feliz Idade não é tarefa fácil para os mais sensíveis. :’( Nesta próxima semana, avançamos mais dois capítulos na leitura de A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe – até a página 91, se você tem a edição da Biblioteca Azul, ou até a página 77, se você tem a edição da Cosac Naify.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Depois de um começo arrebatador em que a dor da perda é seguida pelo trauma da internação em um lar para idosos, a cena mais emblemática do terceiro capítulo de A Máquina de Fazer Espanhóis é aquela em que António descreve o pesadelo que o assola.

A figura onírica dos pássaros devoradores, que invadiam o quarto para bicar seu corpo adormecido, é assustadora e, ao mesmo tempo, uma tradução clara do estado de espírito de António:

subitamente debicavam-me o corpo e eu ia permanecendo vivo e, até não ter corpo nenhum, a consciência não abandonava. eu agoniava por achar que a morte não dependia do corpo, condenando-me a padecer daquela espera para todo o sempre. o estupor do corpo já desfeito e a morte sem o perceber, sem fazer o que lhe competia por uma crueldade perversa que eu nunca previra.

“o estupor do corpo já desfeito e a morte sem o perceber” – essa é a vida de António desde a partida de Laura e a chegada ao lar. Ele passa os dias à espera de um golpe de misericórdia da morte. Leia mais

[A Máquina de Fazer Espanhóis] Semana #2

A leveza da escrita de Valter Hugo Mãe já nos capturou! Embora seja difícil interromper a leitura de A Máquina de Fazer Espanhóis, vamos avançar apenas mais dois capítulos nesta semana, até a página 71, se você tem a edição da foto, ou até a página 55, se você tem a edição da Cosac Naify.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

A primeira página de A Máquina de Fazer Espanhóis é um misto de surpresa e apreensão. Se este foi seu primeiro contato com a obra de Valter Hugo Mãe, é provável que tenha se assustado com o texto todo em letra minúscula e com a ausência de exclamações, interrogações e travessões. A Tainara, uma novata quando falamos do autor português, logo se questionou: “será mais um livro a entrar na lista de longas tentativas e quase nenhum avanço?”

Passadas mais duas ou três folhas, porém, esse sentimento desvanece. O temor de a leitura não fluir é substituído por um encanto com a sua prosa quase lírica, por uma  vontade repentina de não parar mais de ler A Máquina de Fazer Espanhóis. Hugo Mãe tem a admirável capacidade de conquistar o leitor com uma escrita sofisticada e nada óbvia.

A estrutura de sua narrativa é inventiva. Aos poucos, somos apresentados a António, um senhor de 84 anos que está na sala de espera de um hospital, ouvindo a conversa interminável de Cristiano, um falante funcionário do local. Laura, a esposa de António, havia dado entrada na emergência depois de um mal estar, a princípio nada alarmante, dada a sua idade já avançada.

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