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[Divã] Leitores solitários?!

Ler é a expressão da solidão ou uma forma de escapar dela? Desde que começamos o Achados & Lidos, há mais de um ano, venho pensando sobre isso. A comunidade de leitores que encontramos nessa jornada me faz, cada vez mais, achar que a leitura é uma atividade menos solitária do que parece.

Abrir um livro em público pode causar diversos efeitos. O mais comum, infelizmente, ainda são os olhares reprobatórios quanto às habilidades sociais do “solitário leitor”. Quem já experimentou negar um convite para sair porque prefere ficar em casa lendo ou sentou à mesa de um café apenas na companhia de um livro sabe do que falo. Somos vistos como seres antissociais que se escondem atrás das páginas para evitar contato, como este personagem de Alan Pauls, no romance História do Dinheiro:

Levou algo para ler. Gosta desse escudo de arrogante indiferença que os livros interpõem entre ele e o mundo, em especial quando detecta por perto um desses agitadores de filas que bufam, levantam os olhos cansados para o céu, queixam-se buscando cumplicidade (…).

Livros se tornaram sinais de uma solidão requerida. Curioso pensar nisso em tempos em que as pessoas, mesmo acompanhadas, se afundam nas telas de seus smartphones. A experiência proporcionada por um livro me parece bem menos indiferente e arrogante do que a troca vazia proposta pelo mundo virtual. Ainda assim, uma pessoa sozinha com um celular é mais bem aceita socialmente do que um leitor solitário.

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[Lista] 5 ótimos livros de ensaios

Ensaios não estão entre as categorias mais populares da literatura. Há quem diga que são muito teóricos e difíceis de entender. Para mim, é justamente o contrário. Ler um ensaio é a oportunidade de decifrar um autor e chegar mais perto de compreender toda sua obra. Nesse gênero, os escritores abdicam das máscaras atenuantes da ficção e expõem suas opiniões e experiências da forma mais sincera e direta, nos fazendo refletir sobre nossas próprias posições. Confira, abaixo, uma seleção com meus cinco livros de ensaios favoritos.

1. A Vida Descalço, de Alan Pauls: a escrita do autor argentino não poderia encontrar melhor morada que no gênero de ensaios. Mesmo em seus romances, Pauls é capaz de conduzir longas digressões até esgotar um assunto, sem perder a linha de raciocínio nem a atenção do leitor.

Em A Vida Descalço, o tema é a praia. Misturando memórias de infância às da vida adulta, inclusive sua primeira viagem ao Rio de Janeiro, o escritor desenvolve um ensaio sobre a praia como um ambiente imaginário, em que desejo, ilusão e novos códigos sociais são estabelecidos:

Só uma familiaridade muito precoce com os usos e costumes da praia pode, de fato, embaçar o brilho de uma obviedade que ainda hoje deveria nos deslumbrar: a praia é o único espaço público onde a nudez quase completa não é uma exceção nem uma infração provocadora, e sim um princípio de existência, uma forma de vida, a lei – tácita e unânime, mas não coercitiva – que rege a convivência humana.

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A importância dos livros ruins

Na semana passada, com a divulgação da quarta edição dos Retratos da Leitura no país, nos deparamos mais uma vez com a triste, mas não muito surpreendente, notícia de que o Brasil é um país que lê pouco e que esse pouco é de uma qualidade bastante duvidosa.

Segundo o levantamento, 44% dos brasileiros simplesmente não leram nenhum livro nos últimos três meses. O livro mais citado, não tem concorrência, é a Bíblia. Entre as obras mais marcantes, temos o onipresente O Pequeno Príncipe e também alguns títulos juvenis, como Cidade de Papel. Em quinto lugar, não muito longe da Bíblia, apareceu Cinquenta Tons de Cinza, como bem reparou uma amiga. Brasil, o país dos contrastes.

Definitivamente, não são o que o romancista americano Jonathan Franzen chama de “livros sérios”. No entanto, acredito fortemente que os livros não tão bons assim – e até mesmo os ruins – tem um importante papel na formação de leitores. Afinal, ninguém começa a vida lendo Flaubert. 

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“A necessidade de vestir uma máscara pública é tão básica quanto desejar a privacidade na qual possamos retirá-la. Precisamos tanto de um lar que não seja um espaço público quanto de um espaço público que não seja um lar.”

 

Jonathan Franzen em Como ficar sozinho

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