Tag: história do dinheiro

[Divã] Leitores solitários?!

Ler é a expressão da solidão ou uma forma de escapar dela? Desde que começamos o Achados & Lidos, há mais de um ano, venho pensando sobre isso. A comunidade de leitores que encontramos nessa jornada me faz, cada vez mais, achar que a leitura é uma atividade menos solitária do que parece.

Abrir um livro em público pode causar diversos efeitos. O mais comum, infelizmente, ainda são os olhares reprobatórios quanto às habilidades sociais do “solitário leitor”. Quem já experimentou negar um convite para sair porque prefere ficar em casa lendo ou sentou à mesa de um café apenas na companhia de um livro sabe do que falo. Somos vistos como seres antissociais que se escondem atrás das páginas para evitar contato, como este personagem de Alan Pauls, no romance História do Dinheiro:

Levou algo para ler. Gosta desse escudo de arrogante indiferença que os livros interpõem entre ele e o mundo, em especial quando detecta por perto um desses agitadores de filas que bufam, levantam os olhos cansados para o céu, queixam-se buscando cumplicidade (…).

Livros se tornaram sinais de uma solidão requerida. Curioso pensar nisso em tempos em que as pessoas, mesmo acompanhadas, se afundam nas telas de seus smartphones. A experiência proporcionada por um livro me parece bem menos indiferente e arrogante do que a troca vazia proposta pelo mundo virtual. Ainda assim, uma pessoa sozinha com um celular é mais bem aceita socialmente do que um leitor solitário.

Leia mais

[Divã] Memória e literatura

… evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesmo é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me a tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.

Esse é um trecho do prólogo de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Escolhi um representante emblemático para abrir esta reflexão que pretende adentrar os meandros de uma relação duradoura e prolífica: a da literatura com a memória.

Machado de Assis deu provas de sua genialidade ao conceber um romance narrado por um “defunto autor”. De sua própria cova, Brás Cubas relembra a história de sua vida, escrevendo-a com “a pena da galhofa e a tinta da melancolia”.

Embora Machado tenha alçado as narrativas que se apoiam na memória a um patamar talvez inalcançável, não são poucas as obras que se lançam nessa direção.

Leia mais

© 2024 Achados & Lidos

Desenvolvido por Stephany TiveronInício ↑