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[Resenha] O Melhor Tempo é o Presente

Uma união proibida: Jabulile Gumede é negra, Steven Reed é branco. Na África do Sul segregada pelo apartheid, essa relação só podia ser vivida na clandestinidade. É a partir dessa tensão que se desenrola O Melhor Tempo é o Presente (Companhia das Letras, 499 páginas), da ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura Nadine Gordimer.

Jabulile e Steven vêm de contextos diferentes, mas encontram um destino comum no sonho da liberdade para todos. Jabulile é filha do diretor da escola local e pastor da igreja metodista da província de KwaZulu, uma região dominada pelas mineradoras. Seu pai lutou por sua educação e apostou na continuidade dos seus estudos mesmo quando isso envolveu a mudança de país, para a Suazilândia, diferentemente do contexto da época, em que a prioridade era dada para a educação dos filhos homens.

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[Resenha] Fugitiva

Não espere finais felizes dos oito contos reunidos em Fugitiva, uma das coletâneas de textos de Alice Munro. Em suas histórias, a canadense, ganhadora do Prêmio Nobel em 2013, não procura desfechos grandiosos, arrebatadores. A vida, ela nos ensina, é o cotidiano e o banal, e fugir nem sempre é possível.

Embora adore o gênero – enquanto estava lendo Munro, escrevi uma lista com cinco contos que considero imperdíveis -, acho particularmente difícil resenhá-lo. Há nessas coletâneas uma multiplicidade de vozes e temas que nem sempre permitem generalizações.

Os contos em Fugitiva, porém, têm, além das mulheres como protagonistas, alguns pontos de convergência. A inescapabilidade do destino – ou até mais do que isso, a força do acaso, que por vezes assume até um ar místico – é algo recorrente em suas histórias.

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[Divã] Philip Roth e as premiações injustas

No último dia 22, o mundo perdeu um de seus maiores escritores em língua inglesa: aos 85 anos, morreu Philip Roth. Com mais de 30 romances publicados e grande reconhecimento da crítica, tendo inclusive levado um Pulitzer por A Pastoral Americana, Roth passou a fazer parte de uma célebre, ainda que infame, lista: a de autores consagrados que não receberam a maior láurea da literatura mundial, o prêmio Nobel.

Nos últimos anos, Roth foi figura frequente entre os mais cotados a levar o prêmio, mas acabou sendo passado à frente por Svetlana Aleksiévitch (até então desconhecida do público em geral), por um cantor (Bob Dylan) e por um autor mais jovem e menos consagrado (Kazuo Ishiguro). Ainda que sejam escritores de talento inegável, é difícil entender como Roth foi preterido.

É claro que ele não é o único injustiçado – já até fizemos uma lista por aqui sobre grandes autores que não figuram no rol dos homenageados, no qual estão nada menos do que Tolstói e Joyce. Mas a reticência da Academia Sueca, nos últimos anos, em homenagear autores já amplamente reconhecidos é intrigante, quando não amplamente polêmica, como foi com Bob Dylan. Em 2018, vale lembrar, não teremos combustível para animar essa discussão: por causa de escândalos envolvendo acusações de abuso sexual por parte do marido de uma autora membro da academia, o prêmio não será entregue neste ano – havia algo de pobre no reino da Noruega, como brincou o tradutor Jorio Dauster.

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[Lista] 5 autores que foram esnobados pelo Prêmio Nobel

O Prêmio Nobel é, provavelmente, o reconhecimento mais importante que um autor pode receber em vida. Mas, convenhamos, não é todo escritor merecedor da honraria que entra para o rol de homenageados. Algumas ausências na lista da academia sueca são especialmente sentidas. Aqui, listamos cinco, entre eles um brasileiro que bem merecia ter sido contemplado!

1. Liev Tolstói: Em 1901, a Academia Sueca deu inicio à sua premiação literária com uma escolha polêmica (que novidade!). O agraciado foi o poeta francês Sully Prudhomme, o que deixou parte dos intelectuais da época escandalizados. Isso porque para a maioria era certo que a premiação ficaria com ninguém menos do que Liev Tolstói. O escritor russo, autor de clássicos como Anna Kariênina e Guerra e Paz, morreria em 1910, sem nunca ter tido um Nobel para chamar de seu. 

2. James Joyce: Outro dos grandes autores que ficaram de fora da lista de mais de cem premiados até hoje com o Nobel foi o inglês James Joyce. Considerado o fundador do romance moderno ao explorar o tempo psicológico na literatura, Joyce escreveu Ulysses, obra fundamental do século XX (e daquelas que pouca gente leu, inclusive eu!). Apesar de seu brilhantismo – e de todas as suas obras terem sido publicadas já depois da criação do prêmio -, Joyce sequer chegou a constar na lista de indicados.  

3. Guimarães Rosa: Se até pouco tempo poderíamos considerar que o autor de Sagarana não tinha levado o Nobel porque sua obra é considerada de difícil tradução, essa desculpa caiu por terra quando Bob Dylan foi agraciado com o prêmio. Sejamos honestos: letras de música não são exatamente as obras mais fáceis de verter para outra língua. Rosa é tido por muitos como o maior autor brasileiro do século XX. Sua prosa recheada de regionalismos e neologias pode exigir certa dedicação do leitor de primeira viagem, mas depois do embarque nessa aventura, é difícil não admirar a genialidade do autor. Com certeza, a Academia Sueca perdeu a oportunidade de ampliar o acesso global a um escritor único e, de quebra, colocar o Brasil na lista de países já agraciados com o prêmio.

4. Jorge Luiz Borges: O escritor argentino, com toda a sua genialidade, não figura ao lado de outros latino-americanos que receberam (merecidamente) o prêmio, como Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez. E não dá para alegar que ele morreu cedo demais para que a Academia, que tradicionalmente não premia autores jovens, pudesse ter tempo de reconhecer seu talento, como aconteceu com o chileno Roberto Bolaño. Jorge Luis Borges viveu até os 86 anos, tempo mais do que suficiente para que o pessoal do outro lado do Atlântico tivesse notado seu talento. Muitos atribuem o fato de ter sido ignorado pela premiação às suas posições políticas, mas a verdade é que é impossível saber o que move a seleção dos prestigiados. Há mais coisas entre a literatura e a Academia Sueca do que sonha nossa vã filosofia.

5. Philip Roth: Tudo bem, Philip Roth ainda está vivo e, portanto, tem grandes chances de acabar levando um Nobel para casa. O autor americano, contudo, está há tanto tempo na fila de apostas que seu nome já cabe nessa lista (assim como o de Haruki Murakami, mas para ser honesta, não acredito que sua obra mereça tal honraria). Roth é um dos grandes autores em língua inglesa do último século, capaz de escrever romances verdadeiramente incômodos e mexer em assuntos tabus para a comunidade judaica. Talvez ele tenha anunciado sua aposentadoria  para ver se acelera a decisão. Mas, por enquanto, a Academia ainda acha que pode esperar um pouco mais.

[Resenha] Doze Contos Peregrinos

Um dos problemas de se apaixonar por um escritor é ter que encarar que sua obra é finita. O sentimento de orfandade quando acreditamos que já desbravamos tudo o que havia para conhecer dos nossos autores favoritos é difícil de explicar, mas aposto que muitos vão se solidarizar com a minha história.

Há anos, me sentia órfã de Gabriel García Márquez. Depois dos clássicos, como Cem Anos de Solidão e O Amor nos Tempos do Cólera, passei por muitos livros tentando encontrar a genialidade da escrita que nos faz abrir um sorriso no meio de uma frase e que, de tão marcante, deu origem a um movimento literário próprio, o realismo fantástico.

De livros muito especiais, como o primeiro volume de sua biografia inacabada, Viver para Contar, ao ótimo Crônica de Uma Morte Anunciada, passando pelo não tão bom Memórias de Minhas Putas Tristes, há muito tempo não encontrava uma obra do colombiano que me deixasse tão empolgada quanto Doze Contos Peregrinos (recomendação da Mari, a quem agradeço muito pela dica).

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