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[Resenha] De Amor e Trevas

De Amor e Trevas, romance autobiográfico do escritor israelense Amós Oz, é um passeio memorável pela Jerusalém dos anos 40 e 50, com um olhar profundo sobre o lar de sua infância, que, assim como a conturbada cidade, guardava belezas e tensões dignas de nota. Em uma narrativa que abre mão da ordem cronológica para acompanhar os caprichos da memória, Oz revisita o passado e resgata a construção de sua própria identidade e a do seu país.

Filho de imigrantes do Leste Europeu, que fugiam do antissemitismo crescente no Velho Continente, Oz nasceu em Jerusalém, em uma família de intelectuais. Seu pai, Árie Klausner, era sobrinho do grande estudioso da história e literatura hebraica Yossef Klausner. Apesar de toda sua erudição, o pai de Oz não conseguiu seguir os passos do tio e jamais ocupou um lugar de destaque na elite intelectual de Israel. Avesso ao silêncio e sempre em busca do gracejo perfeito, Árie era uma pessoa brilhante que nunca soube mostrar seu brilho.

Como ele conquistou Fânia Klausner, mãe de Oz, era um verdadeiro mistério. Dona de uma beleza contagiante e de uma retórica incomum, ela tinha a habilidade de se colocar, com extrema naturalidade, no centro das conversas mais eruditas. A luz que Fânia irradiava no convívio social disfarçava a escuridão que ela carregava em seu íntimo. O abandono da terra natal para viver em um lugar desconhecido e ermo, um casamento infeliz, uma alma sensível demais para crueza do mundo – essas são apenas algumas das especulações que pululam na narrativa de Oz, em uma tentativa de compreender, ou ao menos apaziguar, o fim trágico da mãe. Fânia se suicidou quando o filho tinha 12 anos.

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[Resenha] Mudança

Incitado por um editor indiano a escrever “sobre as grandes transformações ocorridas na China ao longo das últimas três décadas”, o autor chinês Mo Yan descartou o tema, em um primeiro momento, por ser abrangente demais. A insistência do editor, que chegou em um momento a lhe dizer que ele poderia então escrever o que quisesse, fez com que Mo não conseguisse mais abandonar a ideia.

De fato, a transição da China de um país essencialmente rural para uma economia de mercado, com as profundas transformações sociais que marcaram o país nas últimas décadas, é assunto que domina prateleiras e mais prateleiras das livrarias.

Mesmo assim, em apenas 125 páginas, Mo Yan deu conta do recado. Mudança é pequeno livro sobre grandes temas, abordados sutilmente. Por meio de episódios aparentemente banais de sua infância e adolescência, Mo fala da vida no campo, da transição das aldeias para as cidades, da influência cotidiana do Partido Comunista na vida social e de um país em ebulição.

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