Terminamos o nosso décimo Clube do Livro com a leitura deste clássico de Oscar Wilde! E aí, o que acharam? Obrigada a todos que participaram conosco desta edição. Na próxima semana, vamos publicar as impressões dos nossos leitores. Para ter sua opinião publicada aqui no Achados, basta enviá-la para o e-mail blogachadoselidos@gmail.com.

Ah, em breve, divulgamos o título do próximo Clube. Fique ligado!

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

O embate final deste romance não poderia ser diferente. Dorian Gray e sua consciência, representada pelo retrato sombrio, se encontram para o acerto de contas.

Em um acesso de fúria, Gray se arma com uma faca e desfere golpes contra o quadro. O resultado da luta é revelado apenas quando os empregados da casa ouvem gritos, se dirigem ao cômodo abandonado e se deparam com esta cena:

Quando entraram, encontraram pendurado na parede um retrato esplêndido do patrão, como o viram pela última vez, em toda a maravilha de sua extraordinária juventude e beleza. No chão jazia um homem morto. Em traje de gala, com uma faca no coração. Estava definhado, enrugado e com o rosto repugnante. Somente depois de examinarem os anéis reconheceram quem era.

Várias leituras podem ser feitas desse desfecho. Uma delas é a de que Gray finalmente foi vencido pelo peso da sua consciência. A máscara que ele portava publicamente caiu e, no momento da sua morte, a podridão de sua alma veio à tona.

A oposição entre essência e aparência é o mote central desse romance de Oscar Wilde. Não à toa, a obra continua a ser lida depois de mais de um século de sua publicação. Trata-se de um tema universal, que, em tempos de superexposição, como os que vivemos hoje, é mais atual que nunca.

A obsessão pelo prazer é a matéria-prima do personagem de Dorian Gray. Sua existência pautada pelo individualismo vai das situações mais cotidianas de egoísmo a extremos, como o aniquilamento impiedoso de tudo e todos que atravessam seu caminho.

Wilde conduz essa narrativa em um ritmo crescente, acompanhando a degradação do retrato, ou seja, da alma de Dorian Gray. Das conversas filosóficas com o amigo Lorde Henry até a prática de um assassinato, o leitor acompanha a decadência moral do personagem.

É interessante notar como Wilde posiciona a sociedade inglesa como espectadora hipócrita dessa degradação. O autor não perde a oportunidade de ressaltar a superficialidade de seu povo.

A princípio, Dorian, com sua aparência inabalável, é um modelo de vaidade a ser seguido. Depois, sua obsessão pelo prazer começa a incomodar o puritanismo da sociedade e a suscitar julgamentos, embora, secretamente, muitos desejem levar a vida que ele tem. Todos estão prontos a proferir julgamentos morais, mas pouco fazem para conter os ímpetos de Gray. Nem mesmo lhe aplicam o ostracismo social – o jovem continua a frequentar os círculos mais altos da sociedade, nos lembrando que dinheiro e poder são capitais sociais muito mais poderosos que o caráter.

Ao circular pela alta sociedade, Lord Henry é uma figura central. O personagem, ainda que coadjuvante no livro, é a figura de maior influência sobre Dorian Gray, que logo nas primeiras páginas do livro o desperta para a beleza de uma vida sem culpa e sem arrependimentos, dominada exclusivamente pela busca do prazer.

O personagem que fez contraponto a esse ímpeto, Basil Hallward, teve uma morte horrível, assassinado pelo amigo, com o corpo desmembrado por um conhecido de Dorian Gray para que nunca ninguém descobrisse o que se passou.

Em alguns momentos, Gray flerta com a verdade, que de algum modo ele parece achar atrativa. No entanto, ele não chega a contar os acontecimentos a Lord Henry, que continua a disparar seu veneno pela alta sociedade.

A última conversa entre os dois segue a toada de boa parte do livro, uma mistura de diálogos cortantes com reflexões filosóficas de mais fôlego.

A arte não tem influência sobre a ação. Ela aniquila o desejo de agir. Ela é soberanamente estéril. Os livros que o mundo chama de imorais são livros que mostram ao mundo sua própria vergonha.

A frase, dita por Harry, é uma clara referência de Wilde a sua própria obra, muito criticada pela sociedade puritana da época. Wilde parece tentar revestir a discussão de teoria e filosofia para reforçar suas críticas à Inglaterra vitoriana, alternando esses pensamentos com passagens em que predomina a ação, para garantir o ritmo de leitura da obra.

Ainda assim, o desfecho deixou um pouco a desejar. Algumas pontas ficaram soltas e outros recursos narrativos pouco criativos são usados para dar fim ao livro, como a morte acidental do irmão de Sybil Vane e o assassinato de Basil. Harry poderia ter tido um desfecho mais condizente com a grande influência que ele tem sobre o destino de Dorian, já  que esta é o tema central na obra.

E você, o  que achou da leitura? Não deixe de enviar seu comentário!

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