Chegamos ao fim de mais um clube do livro! O saldo da leitura? Muito mais que positivo! Nós, que já somos fãs de literatura russa, nos surpreendemos com essa obra prima de Bulgákov. Com uma escrita que mistura, com maestria, realidade e fantasia, ele construiu um enredo repleto de referências históricas e permeado de ironias inteligentes.

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Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Chegou a hora do Juízo Final em O Mestre e Margarida. Korôviev e Behemoth continuam a perambular por Moscou, em suas últimas aventuras na cidade. Os destinos são, claro, escolhidos a dedo: uma loja exclusiva para estrangeiros e o lar de escritores, a casa de Griboiêdov.

As duas visitas terminam da mesma forma, com incêndios de grandes proporções. É bem pouco sutil à crítica que Bulgákov faz a esses dois perfis da sociedade moscovita, o funcionário do Estado com acesso a regalias permitidas apenas para quem vem de fora da Rússia e os homens que consomem do bom e do e melhor por serem tido como literatos.

Como sempre, a veia cômica de Bulgákov rende ótimas passagens, como quando os dois membros da trupe do diabo chegam à Griboiêdov para almoçar. Detidos por uma “cidadã pálida” que exige os certificados de escritores dos dois personagens, desenrola-se então um dos muitos deliciosos diálogos desse livro:

– Oh, que pena – disse Korôviev, decepcionado, e prosseguiu: – Bem, que fazer, se não  lhe apraz ser um encanto, o que seria bastante agradável, pois não seja. Então para se assegurar de que Dostoiévski é escritor é preciso pedir seu certificado? Pois tome cinco páginas quaisquer de qualquer de seus romances e, sem nenhum certificado, a senhora vai se convencer de que está lidando com um escritor. E ainda suponho que ele não tinha certificado algum! (…)

– O senhor não é Dostoiévski – disse a cidadã, desnorteada por Korôviev.

– Bem, sabe-se lá, sabe-se lá – respondeu este.

– Dostoiévski está morto – respondeu a cidadã, mas sem muita segurança.

– Protesto! – exclamou Behemoth, inflamado. – Dostoiévski é imortal!

Salvos por um mâitre bastante astucioso, que logo compreende de onde veio aquela dupla misteriosa, Behemoth e Korôviev enfim são servidos de uma bela refeição, apenas para em seguida acidentalmente incendiarem o local, fazendo arder os egos inflamados da comunidade literária moscovita.

O encontro mais marcante desse trecho final, no entanto, certamente está na decisão do destino de mestre e Margarida. Woland recebe ninguém menos do que o apóstolo Matheus Levi para entregar uma mensagem daquele de quem é discípulo: a de que o mestre e Margarida merecem o descanso, se não a luz.

O diabo concorda prontamente, em uma passagem que permite uma reflexão interessante. Com seus inúmeros truques de “magia negra”, o diabo é capaz de tentar a raça humana, mas é o livre arbítrio que decidirá o destino de nós, humanos. O mestre fez por merecer por causa de seus manuscritos, Margarida conseguiu demonstrar habilidade tática ao negociar com as forças das trevas, e assim os dois serão salvos de um destino como o de Behemoth ou Korôviev, por exemplo, transformados em cavaleiros do apocalipse.

Em Moscou, os incêndios e episódios inesquecíveis protagonizados pela trupe diabólica foram categorizados como trabalho de uma quadrilha de hipnotizadores e ventríloquos pelas pessoas mais evoluídas e cultivadas. Aqui, talvez, esteja uma das passagens mais brilhantes do livro, quando Bulgákov faz referência velada aos expurgos cometidos por Stálin. Os sumiços são atribuídos à magia, até que as pessoas começassem a esquecer os episódios nefastos transcorridos nesta semana de maio. Se um fato é sempre um fato, há também a possibilidade de se livrar dele com explicações aparentemente ilógicas, mas engolidas a seco pela população.

Nós, que já éramos fãs de literatura russa, nos surpreendemos ainda mais com essa obra prima de Bulgákov. Com uma escrita que mistura, com maestria, realidade e fantasia, ele construiu um enredo repleto de referências históricas e literárias e permeado de ironias inteligentes.

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