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“Mudo, contemplei longamente esse milagre de vigor e de doçura. Compreendi com você que o prazer não é algo que se tome ou que se dê. Ele é um jeito de dar-se e de pedir ao outro a doação de si. Nós nos doamos inteiramente um ao outro.”

 

André Gorz em Carta a D.

[Canção de Ninar] Semana #10

Para fechar mais uma edição do nosso Clube do Livro, nada melhor do que ouvir as opiniões dos nossos leitores. Agradecemos a todos que acompanharam conosco e esperamos vocês no próximo clube, que traz o clássico russo O Mestre e Margarida, de Mikhail Bulgákov! Leia mais

[Resenha] Bel-Ami

Bel-Ami (Estação Liberdade, 368 páginas), obra mais conhecida do escritor francês Guy de Maupassant, tem tudo que um bom romance exige. O enredo é envolvente, os personagens passam longe da superficialidade e o estilo é fiel à sofisticação da literatura francesa. Não é difícil entender por que o livro continua conquistando leitores 133 anos após a sua publicação.

A história é centrada no sedutor George Duroy, cujo apelido, especialmente entre as mulheres, é Bel-Ami (“belo amigo”). Filho de camponeses e suboficial devolvido à vida civil, Duroy é mais um rapaz pobre tentando a vida em Paris no final do século XIX.

Depois de reencontrar um camarada de regimento, sua sorte começa a mudar. Charles Forestier, redator no jornal La Vie Française, é o responsável por tirar Duroy de um emprego mal remunerado em uma companhia férrea e introduzi-lo no meio jornalístico.

Dono de uma beleza incontestável, bem representada em seu bigode característico e sedutor, Duroy se dá conta, assim que começa a frequentar o círculo de amigos de Forestier, do quanto seu charme pode acelerar seus planos de ascensão social:

Então Forestier começa a rir: – Diga então, meu amigo, você sabe que realmente faz sucesso entre as mulheres? É preciso cuidar disso. Isso pode levá-lo longe. – Ele se cala um segundo, depois retoma, com um tom sonhador de quem pensa em voz alta: – Ainda é por elas que se chega lá mais rápido.  

Duroy não hesita em seguir esses conselhos. Sua primeira vítima é uma amiga da esposa de Forestier, Clotilde de Marelle. As ausências frequentes do marido, por causa do trabalho, facilitam o envolvimento amoroso da Sra. de Marelle com Duroy. Nesse período, o Bel-Ami ainda está se firmando no jornal e seus rendimentos não são suficientes para bancar as extravagâncias da nova vida. Não são poucas as vezes que Clotilde o socorre financeiramente. Embora se faça de rogado, Duroy sempre acaba aceitando a ajuda da amante.

As personagens femininas do romance de Maupassant desempenham um papel tão central quanto o de Duroy na história. Se, por um lado, elas são vistas como pouco confiáveis, interesseiras e tolas, como a Sra. de Marelle, que não hesita em trair o marido e cair na conversa do Bel-Ami, por outro lado, a invisibilidade social da mulher também é abordada.

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[Divã] Philip Roth e as premiações injustas

No último dia 22, o mundo perdeu um de seus maiores escritores em língua inglesa: aos 85 anos, morreu Philip Roth. Com mais de 30 romances publicados e grande reconhecimento da crítica, tendo inclusive levado um Pulitzer por A Pastoral Americana, Roth passou a fazer parte de uma célebre, ainda que infame, lista: a de autores consagrados que não receberam a maior láurea da literatura mundial, o prêmio Nobel.

Nos últimos anos, Roth foi figura frequente entre os mais cotados a levar o prêmio, mas acabou sendo passado à frente por Svetlana Aleksiévitch (até então desconhecida do público em geral), por um cantor (Bob Dylan) e por um autor mais jovem e menos consagrado (Kazuo Ishiguro). Ainda que sejam escritores de talento inegável, é difícil entender como Roth foi preterido.

É claro que ele não é o único injustiçado – já até fizemos uma lista por aqui sobre grandes autores que não figuram no rol dos homenageados, no qual estão nada menos do que Tolstói e Joyce. Mas a reticência da Academia Sueca, nos últimos anos, em homenagear autores já amplamente reconhecidos é intrigante, quando não amplamente polêmica, como foi com Bob Dylan. Em 2018, vale lembrar, não teremos combustível para animar essa discussão: por causa de escândalos envolvendo acusações de abuso sexual por parte do marido de uma autora membro da academia, o prêmio não será entregue neste ano – havia algo de pobre no reino da Noruega, como brincou o tradutor Jorio Dauster.

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“Para transformar um terrível drama pessoal numa coisa ridícula, uma boa fórmula é ouvi-lo narrado por outra pessoa.”

 

Javier Cercas em O Ventre da Baleia

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