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[Lista] 5 livros para viajar à Rússia

Estamos a quase 15 dias da Copa do Mundo da Rússia! Esse país de dimensões continentais estará, mais do que nunca, sob os holofotes. Embora a expectativa seja ver todo burburinho de perto, a realidade que nos resta é acompanhar tudo do sofá de casa mesmo, rs. Aos jogos, podemos assistir pela televisão. E o turismo?! Bem, esse podemos dar um jeitinho com a literatura! Separamos cinco livros, para você mergulhar na cultura russa e viajar sem sair de casa.

1. A Dama do Cachorrinho e outros contos: gosta de narrativas curtas? Então, vamos começar com um dos maiores contistas de todos os tempos: o russo Anton Pavlovitch Tchekhov.

Com textos breves e sugestivos, que exploram com habilidade os silêncios, Tchekhov traz para ficção os raros instantes extraordinários da vida comum. Seus personagens, em sua maioria, carregam o desencanto que é estar no mundo. A partir de episódios aparentemente banais, em que o não-dito predomina, suas histórias lançam um olhar crítico sobre o comportamento humano.

Um bom exemplo é o conto Um Conhecido. Nessa narrativa de menos de cinco páginas, a “encantadora Vanda”, uma dançarina de clubes noturnos, se vê em situação de penúria, doente e na miséria. Ela decide, então, procurar um dos seus antigos clientes para emprestar-lhe dinheiro. O “conhecido” não apenas não a reconhece como ainda a trata com desdém:

Saindo para a rua, sentiu uma vergonha ainda maior que antes, mas não era mais da pobreza que se envergonhava. Não reparava mais em que não estava usando chapéu alto e casaquinho da moda. Caminhou pela rua, cuspindo sangue, e cada cusparada vermelha falava-lhe de sua vida, uma vida má, difícil, e das ofensas, que havia suportado e ainda haveria de suportar, no dia seguinte e dentro de uma semana, dentro de um ano, durante toda a vida, até a morte….

Que escrita poderosa, não? Nessa coletânea da Editora 34, estão 36 dos melhores contos de Tcheckhov, traduzidos diretamente do russo por Boris Schnaiderman.

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[Divã] Grandes (ou pequenos) spoilers da literatura

Alerta: esse texto contém (alguns) spoilers.

Um assunto que move paixões na internet são os spoilers. A expressão, que vem do verbo inglês “to spoil” e significa literalmente estragar algo, é levada bem a sério por quem faz maratonas de séries de televisão ou acompanha sua saga favorita no cinema.

Quer um exemplo? É só entrar no Twitter depois de um episódio de fim de temporada de Game of Thrones para ver a rede social se transformar em um palco de batalha mais sangrento que os da série.

Entre os maratonistas literários, os spoilers podem causar menos cizânia, mas ainda assim podem gerar debates acalorados. De um lado, aqueles que não suportam saber como termina uma narrativa. Do outro, quem não segura a curiosidade e já corre para a última página para saber o destino de seu personagem preferido.

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“Compreende, será que compreende, meu caro senhor, o que significa não se ter mais para onde ir? (…) porque é preciso que toda pessoa possa ir ao menos a algum lugar…”

 

Fiódor Dostoiévski em Crime e Castigo

[Lista] 5 razões para ler Dostoiévski

Neste mês de novembro, a revolução russa completa 100 anos! E já que esse país de dimensões e contradições continentais está na pauta, não podemos perder a oportunidade de trazer um pouco de literatura russa ao blog. A lista de hoje segue essa proposta, com um objetivo muito nobre: convencer você a ler o gênio Fiódor Dostoiévski!

1. Sua escrita alcança os mais recônditos meandros da consciência humana.

Os personagens de Dostoiévski são tão transparentes que chega a ser assustadora a empatia que eles despertam. Em Crime e Castigo, por exemplo, quando menos esperamos, já estamos mergulhados na angústia do atormentado Raskólnikov, tentando, junto com ele, encontrar saídas para o injustificável. Finda a leitura, parece até que dividimos com o personagem o fardo de um crime.

No livro O Fim do Homem Soviético, de Svetlana Aleksiévitch, há um trecho em que um dos seus entrevistados sintetiza muito bem essa marca das obras de Dostoiévski e da literatura russa em geral:

A misteriosa alma russa… Todos tentam entendê-la… Leem Dostoiévski… O que eles têm lá além da alma? Nós além da alma só temos mais alma.

A maestria de Dostoiévski para ouvir a consciência humana e colocar em palavras suas ambiguidades o torna universal e atemporal. Sua narrativa habita justamente o limite tênue entre o herói e o anti-herói, entre o louvável e o condenável, revelando, com clareza, que a matéria-prima da natureza humana é a contradição.

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[Resenha] O Duplo

Comecei este ano lendo um clássico. Em 2015, minha lista de leitura foi quase toda contemporânea, o que é sempre muito bom para lembrar que a literatura está aí firme e forte, mas os clássicos são os clássicos. Sempre achei mágica a ideia de ler algo que foi escrito há mais de um século. E, nesse sentido, Dostoiévski é um dos meus mágicos preferidos.

O duplo, minha escolha para inaugurar 2016, foi lançado pouco depois de Gente pobre (1846), livro de estreia do escritor russo. O herói é o senhor Golyádkin, um pequeno funcionário, pertencente à nona classe da escala burocrática russa (ou seja, sem nenhuma possibilidade de movimentação), que carece de habilidades para o convívio social e, ao mesmo tempo, sonha em transitar pelas altas esferas. Mais do que dinheiro, falta-lhe traquejo. Neste trecho, em conversa com seu médico, ele deixa isso claro:

…gosto da tranquilidade e não do burburinho da alta sociedade. Lá entre eles, digo, na alta sociedade, Crestian Ivánovitch, é preciso saber fazer rapapés (nisso o senhor Golyádkin roçou o chão com um pé), lá se cobra isso, e também se cobram trocadilhos… capacidade de fazer elogios inebriantes… é isso que lá se cobra. Mas isso eu não aprendi, Crestian Ivánovitch, não aprendi esses artifícios; faltou-me tempo. Sou um homem simples, sem rebuscamentos e sem brilho externo.

Depois de uma mal sucedida e humilhante tentativa de figurar nos círculos que desejava, Golyádkin encontra, em uma noite nas ruas de São Petersburgo, seu duplo. Mesmas feições, mesmo nome, mesma profissão, mas uma diferença: a personalidade. Golyádkin segundo tinha a máscara, “o brilho externo” que faltava ao nosso herói.

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