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[Vozes de Tchernóbil] Semana #8

Acabou! Depois de dois meses de uma leitura intensa, chegamos ao final de Vozes de Tchernóbil. E você, o que achou do livro? Mande sua opinião para o e-mail blogachadoselidos@gmail.com. Na próxima semana, publicaremos por aqui as impressões dos nossos leitores.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Nos últimos posts sobre Vozes de Tchernóbil, destacamos o excelente trabalho de edição de Svetlana Aleksiévitch. O seu discurso na cerimônia do prêmio Nobel de Literatura, em dezembro do ano passado, é significativo para a narrativa, porque amarra alguns temas presentes nos diversos relatos, agora sob o seu ponto de vista.

Fechar o livro com essa fala da escritora também foi um grande acerto de edição, dessa vez da Companhia das Letras. O discurso é belo e tem o tom pessoal de Aleksiévitch que, por vezes, sentimos falta ao longo do livro. O capítulo final parece nos aproximar ainda mais da autora do que aquele início, em que ela entrevista a si mesma. Talvez seja porque depois de ouvir tantas vozes estejamos mais preparados para entender as inquietações que mobilizaram Aleksiévitch.

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[Vozes de Tchernóbil] Semana #7

Reta final de Vozes de Tchernóbil! Para a próxima semana, terminamos a leitura do livro.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

O medo de ter sua história apagada do mapa e da memória é um dos temas de destaque nos depoimentos desse último trecho que lemos. Se voltarmos lá para o comecinho do livro, no capítulo em que Svetlana Aleksiévitch reúne algumas notícias sobre o desastre, logo no primeiro parágrafo, já percebemos que impedir esse esquecimento foi um dos principais estímulos da escritora:

Belarús… Para o mundo, somos uma terra incógnita – uma terra totalmente desconhecida. “Rússia Branca”: é mais ou menos assim que o nome do nosso país soa em inglês. Já Tchernóbil todos conhecem; no entanto, relacionam-no apenas à Ucrânia e à Rússia. Um dia ainda deveríamos contar a nossa história.

Ao longo do livro, identificamos uma série de motivos que levou os entrevistados a expor seus relatos a Aleksiévitch – tristeza, necessidade de compartilhar, indignação, sede de justiça, culpa e, finalmente, o medo de ser esquecido. E não se trata de um receio de ser apagado apenas como indivíduo, mas também como povo:

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[Vozes de Tchernóbil] Semana #6

Infelizmente, a leitura está chegando ao fim! Para a próxima semana, vamos até a página 349.

Por Tainara Machado e Mariane Domingos

No último post, falamos aqui do trabalho primoroso de edição de Svetlana Aleksiévitch, de sua capacidade de sobrepor narrativas sem torná-las repetitivas e de nos conduzir, ao longo da história, pelos diferentes sentimentos com que foram confrontados os habitantes de Tchernóbil e arredores.

O trecho que lemos nesta semana traz com mais ênfase a visão de cientistas e pesquisadores que foram enviados ao reator pelas autoridades. Ao longo dos depoimentos, é levantado um traço muito interessante da relação dos soviéticos com a ciência: as zonas que foram atingidas pela explosão viviam, simultaneamente, em duas eras. A evolução, ou melhor, o salto tecnológico dessa nação foi brusco e setorizado. Não houve preparação. “O átomo e a pá” coexistiam:

Dentre os trabalhadores da central de Tchernóbil, muitos eram camponeses. De dia estavam nos reatores, e à noite, cuidando das suas hortas, ou na casa dos pais, na aldeia vizinha, plantando batatas com a pá ou espalhando esterco com a forquilha. (…) A sua consciência oscilava entre dois tempos, entre duas eras: a da pedra e a atômica. E o homem, como um pêndulo, movia-se de um extremo a outro.

Até entre os pesquisadores e cientistas, o nível de compreensão da extensão do acidente era desigual, mas não resta dúvida de que essas eram as pessoas que tinham mais clareza sobre as consequências perniciosas do desastre. O que você faz quando sabe o que está acontecendo e não tem nenhuma reação? Em um dos relatos, Aleksiévitch parece confrontar o narrador com essa questão.

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[Vozes de Tchernóbil] Semana #5

Para a próxima semana, vamos até a página 293, logo antes de começar o “Monólogo sobre o fato de que se deve somar algo à vida cotidiana para compreendê-la”.

Por Tainara Machado e Mariane Domingos

O que é preciso para caracterizar uma catástrofe? No caso de Tchernóbil, a explosão e o incêndio da central nuclear já seriam suficientes para que essa palavra pudesse ser usada. Mas estes não são o único componente do desastre.

A resposta das autoridades soviéticas, como já discutimos no post anterior, aumentou a magnitude do sofrimento da população local, com o uso de “robôs humanos” para apagar as chamas do reator, algo que nem as máquinas conseguiam fazer, porque acabavam “enlouquecidas” pela força da radiação.

Além dessas atrocidades que ficaram ainda mais evidentes no trecho desta semana, desponta ainda, nos relatos, um terceiro elemento que tornou Tchernóbil um desastre tão grande: o  temperamento do povo eslavo. Submissos, patrióticos, preparados para o desastre iminente e para a guerra, os bielorrusos estavam dispostos a acreditar nas autoridades e a abraçar a narrativa oficial de que o acidente demandava atos de heroísmo. Em um dos depoimentos, o entrevistado compara o desastre em Tchernóbil com outro acidente bastante conhecido, exemplificando bem o cenário:

Eu assisti várias vezes ao filme sobre o naufrágio do Titanic. O filme me lembra de coisas que vi com meus próprios olhos. O que se passou nos primeiros dias de Tchernóbil… O comportamento das pessoas era muito semelhante. A mesma psicologia. Eu comparava com o filme. O casco no navio já estava perfurado, a água inundava os andares inferiores, tonéis, caixões… A água avançava, ia ocupando todos os espaços, mas lá em cima as luzes continuavam acesas, tocavam música, serviam champanhe, prosseguiam as disputas familiares, iniciavam-se novas histórias de amor. E a água avança… Alcança as escadas, penetra nos camarotes.

Tal qual os tripulantes e passageiros do Titanic, que acreditavam cegamente na grandiosa e invencível construção do homem, os soviéticos, mesmo diante de Tchernóbil, também tinham uma crença inabalável:

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[Vozes de Tchernóbil] Semana #4

Para a próxima semana, vamos até o final da segunda parte, na página 237.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Lembranças, memórias e a necessidade de seguir em frente mesmo sem saber exatamente como lidar com o passado. Nessa segunda parte, intitulada A Coroa da Criação, Aleksiévitch nos mostra que mais difícil que assimilar o alcance geográfico da radiação é compreender seu alcance no tempo.

A catástrofe de Tchernóbil não viajou apenas de um espaço a outro. Ela viaja por gerações, seja por meio dos traumas que marcam famílias inteiras, seja pelo sofrimento físico manifestado em doenças nunca vistas. A impossibilidade de entender essa espécie de eternidade do desastre está entre as reflexões de um dos entrevistados dessa segunda parte:

Recordo uma conversa com um cientista. “Isso é para mil anos”, ele me explicava, “o urânio se desintegra em 238 semidesintegrações. Se traduzirmos em tempo, significa um bilhão de anos; e no caso do tório, trata-se de 14 bilhões de anos.” Cinquenta. Cem. Duzentos anos. E depois? Depois é puro estupor. Mais que isso, a minha mente não dá conta de imaginar. Deixa de compreender o que é o tempo. Onde estou?

Um dos relatos mais impressionantes dessa parte do livro é o de Larissa Z., uma mulher que se tornou mãe depois do desastre. Ela vivia em um povoado que deveria ter sido evacuado, mas não foi, porque “o Estado não tinha dinheiro”. A bebê do jovem casal nasceu como um “saquinho vivo, costurado por todos os lados, não tinha nem uma fenda sequer, só os olhos abertos”, descreve a mãe. Todos os orifícios tiveram que ser construídos por uma série de cirurgias. Ainda assim, a menina não conseguia fazer xixi, precisava ser forçada pela mãe. Acostumada aos hospitais, sem saber o que é levar uma vida normal – uma vida antes de Tchernóbil – a garota já havia superado todas as expectativas e chegado aos quatro anos de idade. Quatro anos que em nada se assemelham à ideia que temos de infância:

…brinca de forma diferente, não brinca de lojinha, de escolinha, brinca de hospital com as bonecas, dá injeções, põe o termômetro, prescreve gotinhas; se a boneca morre, ela cobre com um lenço branco.

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