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[Lista] 5 livros para se emocionar

Se vocês me perguntarem quantos filmes me fizeram chorar, certamente lembrarei dois ou três, no máximo. Com livros, no entanto, a história é outra. A literatura me emociona mais frequentemente e intensamente que o cinema. Resolvi, então, listar cinco livros emblemáticos que, além de ótimas leituras, me renderam muitas lágrimas.

1. A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe: a prosa poética do escritor português já é, por si só, um convite às lágrimas. Quando o enredo trata da solidão e da saudade, sua escrita fica ainda mais poderosa.

Em A Máquina de Fazer Espanhóis, que lemos na quarta edição do nosso Clube do Livro, acompanhamos a história de António, que é abandonado pelos filhos em um asilo, depois de perder a esposa, companheira de tantos anos. O trecho em que o personagem recebe a notícia da morte de Laura, logo no primeiro capítulo, já é de cortar o coração:

só depois gritei, imediatamente sem fôlego, porque aquela teoria de que existe oxigénio e usamos os pulmões e fica feito também não é cem por cento verdade. entrei em convulsões no chão e as mãos do homem e da mulher que ali me assistiam eram exactamente iguais às bocas dentadas de um bicho que me vinha devorar e que entrava por todos os lados do meu ser. fui atacado pelo horror como se o horror fosse material e ali tivesse vindo exclusivamente para mim.

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“Fabiano seguiu-a com a vista e espantou-se: uma sombra passava por cima do monte. Tocou o braço da mulher, apontou o céu, ficaram os dois algum tempo aguentando a claridade do sol. Enxugaram as lágrimas, foram agachar-se perto dos filhos, suspirando, conservaram-se encolhidos, temendo que a nuvem se tivesse desfeito, vencida pelo azul terrível, aquele azul que deslumbrava e endoidecia a gente.”

Graciliano Ramos em Vidas Secas

Orgulho brasileiro

Na última quinta-feira, compartilhamos, em nossa página no Facebook, uma notícia sobre a escritora britânica Ann Morgan, que se desafiou a ler, em um ano, um livro de cada país do mundo. No dia seguinte, tiveram início os Jogos Olímpicos, competição esportiva entre nações, famosa por instigar o orgulho de pertencer. Tudo isso me fez pensar sobre minha relação com a literatura brasileira.

Me peguei imaginando quais títulos eu indicaria a Morgan, para que ela visse o crème de la crème de nossa produção literária, ou quais escritores compatriotas despontariam no meu quadro de medalhas. Vários nomes me passaram pela cabeça, mas também percebi, com um misto de vergonha e tristeza, uma defasagem de representantes brasileiros contemporâneos em minha lista de achados e lidos.

Indicar clássicos brasileiros não é difícil. Quem lê meus posts por aqui sabe da minha paixão por Machado de Assis, por exemplo. A biblioteca da minha escola era predominantemente de literatura nacional. Quem se lembra da Série Bom Livro, da Editora Ática? Ela fez parte da minha adolescência e construiu minhas primeiras memórias de leituras de alta qualidade. Desde os romances água com (muito!) açúcar de Joaquim Manuel de Almeida e José de Alencar até as incomparáveis obras machadianas. Eu, que estava acostumada à estrutura narrativa tradicional, com heróis e anti-heróis, de repente sou apresentada ao defunto autor, de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Imaginem meu encantamento diante da originalidade desse escritor:

Algum tempo hesitei se devia abrir estas Memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.

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