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[Resenha] Quarenta Dias

A leitura de Quarenta Dias é como um abraço amigo. A ternura do texto de Maria Valéria Rezende incorpora aquilo que tanto procuramos na literatura: identificação.

Alice, personagem central do romance, é uma professora aposentada, que sai da Paraíba e se muda para o Rio Grande do Sul por pressão da filha. Aparentemente, nenhuma similaridade entre mim e Alice. No entanto, poucos personagens me inspiraram tamanha empatia.

O tom confessional da narrativa é propício para esse sentimento. Em um caderno velho, com a Barbie na capa, Alice despeja suas memórias, especialmente as mais recentes, desde sua mudança a contragosto para o sul.

Alice criou a filha sozinha depois que o marido desapareceu – ao que tudo indica, vítima da violência da ditadura. Não foram poucos os sacrifícios de mãe, mas o maior deles ainda estava por vir. Norinha casou-se com um gaúcho e se fixou em Porto Alegre. Quando decide engravidar, não o faz sem antes comunicar Alice e propor, em tom mais de exigência que de pedido, que a mãe se mude para o sul para ajudá-la com a criação do neto.

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“Casar, para ela, não era negócio de paixão, nem se inseria no sentimento ou nos sentidos; era uma ideia, uma pura ideia. Aquela sua inteligência rudimentar tinha separado da ideia de casar o amor, o prazer dos sentidos, uma tal ou qual liberdade, a maternidade, até o noivo. Desde menina, ouvida a mamãe dizer: ‘aprenda a fazer isso, porque quando você se casar’ (…) – e a menina foi se convencendo de que toda a existência tendia para o casamento.”

 

Lima Barreto em
Triste Fim de Policarpo  Quaresma

“Por que me atrai a voz que fraqueja, por que me encantam as pálpebras cheias, os olhos marejados, se toda a minha vida batalhei contra esse transbordamento inevitável, contra o excesso dos afetos, contra a fragilidade. Mas um adulto que chora não é frágil, isso aprendi com convicção, essa lição já não me escapa: o adulto que chora sem se envergonhar é de uma transparência invejável.”

 

Julián Fuks em A Resistência

[Resenha] Como se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas

Na semana passada, a literatura brasileira perdeu uma de suas vozes contemporâneas mais importantes. Elvira Vigna morreu aos 69 anos, depois de uma longa e secreta luta contra o câncer. Em meio a essa árdua batalha, Elvira publicou Como se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas pela Companhia das Letras. Se um título forte como esse já desperta a curiosidade dos leitores, as páginas seguintes atiçam ainda mais a mente de quem mergulha nesse livro.

Elvira Vigna, se percebe pelas primeiras linhas, não é uma autora qualquer. Suas frases são curtas, duras. Compreender seu significado exige do leitor entrega que é quase um processo de escrita, no esforço de buscar o não dito nas entrelinhas.

Está escuro e tenho frio nas pernas. No entanto, é verão. Outra vez. Deve ser psicológico. Perna psicológica.
Faço hora, o que pode ser dito de muitos outros momentos da minha vida.
Mas nessa hora que faço, vou contar uma história que não sei bem como é. Não vivi, não vi. Mal ouvi. Mas acho que foi assim mesmo.

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[Lista] 5 personagens trabalhadores

Para celebrar o 1º de Maio, comemorado em todo o mundo como Dia do Trabalho, prestamos homenagens a esses personagens que, assim como nós, pobres mortais, precisam enfrentar chefes, horários e as demais pressões da vida laboral.

Trabalhadores do mundo (da literatura), uni-vos!

1. Macabea, de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector: A “delicada e vaga existência” diária de Macabea, a personagem principal desse clássico da literatura brasileira, é preenchida por sua função como datilógrafa, habilidade adquirida em um “curso ralo de como bater à máquina”.

Macabea, uma nordestina de dezenove anos que migrou para o Rio de Janeiro, leva uma vida miserável e sem perspectivas, em um trabalho em que o chefe chega a ameaçar mandá-la embora, mas desiste por sua ingenuidade e delicadeza. Seus dias são preenchidos com pensamentos fantasiosos sobre a infância, a fome e a vontade de ser quem não era.

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