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“… eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida…”

 

João Cabral de Melo Neto em Morte e Vida Severina

[Vozes de Tchernóbil] Semana #6

Infelizmente, a leitura está chegando ao fim! Para a próxima semana, vamos até a página 349.

Por Tainara Machado e Mariane Domingos

No último post, falamos aqui do trabalho primoroso de edição de Svetlana Aleksiévitch, de sua capacidade de sobrepor narrativas sem torná-las repetitivas e de nos conduzir, ao longo da história, pelos diferentes sentimentos com que foram confrontados os habitantes de Tchernóbil e arredores.

O trecho que lemos nesta semana traz com mais ênfase a visão de cientistas e pesquisadores que foram enviados ao reator pelas autoridades. Ao longo dos depoimentos, é levantado um traço muito interessante da relação dos soviéticos com a ciência: as zonas que foram atingidas pela explosão viviam, simultaneamente, em duas eras. A evolução, ou melhor, o salto tecnológico dessa nação foi brusco e setorizado. Não houve preparação. “O átomo e a pá” coexistiam:

Dentre os trabalhadores da central de Tchernóbil, muitos eram camponeses. De dia estavam nos reatores, e à noite, cuidando das suas hortas, ou na casa dos pais, na aldeia vizinha, plantando batatas com a pá ou espalhando esterco com a forquilha. (…) A sua consciência oscilava entre dois tempos, entre duas eras: a da pedra e a atômica. E o homem, como um pêndulo, movia-se de um extremo a outro.

Até entre os pesquisadores e cientistas, o nível de compreensão da extensão do acidente era desigual, mas não resta dúvida de que essas eram as pessoas que tinham mais clareza sobre as consequências perniciosas do desastre. O que você faz quando sabe o que está acontecendo e não tem nenhuma reação? Em um dos relatos, Aleksiévitch parece confrontar o narrador com essa questão.

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[Resenha] Galveias

Com um enredo embalado pelo cotidiano e uma prosa que flerta com a poesia, o romance Galveias, do escritor português José Luís Peixoto, extrai beleza e sabedoria da simplicidade de um povoado esquecido no Alentejo, no interior profundo de Portugal.

O livro começa com um fato extraordinário. A pequena Galveias é acordada por estrondos misteriosos, vindos do espaço, em uma noite de janeiro de 1984. Uma “coisa sem nome” atinge a Terra e deixa na cidadezinha uma cratera que exala o cheiro forte de enxofre.

Ninguém tinha respostas. Do Queimado à Amendoeira, no Alto da Praça, na Deveza, na Fonte, as ruas estavam cheias de gente a expulsar de dentro de si o susto. Sob o trauma dos estrondos e o cheiro a enxofre, falavam sem parar. Perdiam o sentido, mas não perdiam a oportunidade. (…) Quando parecia que estavam compenetrados, não estavam realmente a ouvir, estavam só à espera de vez, à espera de um bocadinho vago para entrarem com o que tinham a dizer.

Em meio a essa afobação, é apresentado o povo galveense cujas histórias se desenrolam nas próximas páginas. São diversos personagens: o padre bêbado, o único médico da cidade, a prostituta padeira, a professora recém-chegada, os irmãos que não se falam há décadas, entre outros. Até os cachorros têm papel importante nos causos que afetam a vida no vilarejo! Cada capítulo dá conta de uma anedota que, em algum momento, desemboca na noite fatídica em que o cheiro de enxofre impregnou Galveias.

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[Lista] 5 livros para dar risada

Livros podem ser emocionantes, trágicos, dramáticos…  Mas às vezes tudo o que precisamos é dar risada! A lista desta semana é para nos colocar um sorriso na cara e ficarmos como bobos, rindo sozinhos para páginas abertas.  E nada de piadas prontas e fórmulas batidas! Humor também pode ser inteligente!

1. De Veludo Cotelê e Jeans, de David Sedaris: Conheci o David Sedaris em uma Flip há muitos anos, e desde então acompanho praticamente todos os seus textos na New Yorker. Vindo de uma família grande, com muitos irmãos e pais emocionalmente instáveis, como não poderia deixar de ser, Sedaris abusa da ironia ao retratar os costumes e manias de parentes e dos vizinhos da provinciana Saint Louis, sem nunca deixa de rir de si mesmo. O meu livro preferido dele é De Veludo Cotelê e Jeans, mas quase tudo o que li dele até hoje é engraçado, especialmente quanto o assunto é a sua infância – e os traumas que restaram dela.

Ao cabo de seis meses acordando ao meio-dia, queimando fumo e ouvindo mil vezes o mesmo disco de Joni Mitchell, meu pai me chamou para uma conversa e me disse que eu devia ir embora. Ele estava sentado muito formalmente numa cadeira alta e confortável, atrás da mesa, e me senti como se ele tivesse me demitido do emprego de filho.

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“Foi a época em que se amaram melhor, sem pressa e sem excessos, e ambos foram mais conscientes e gratos pelas vitórias inverossímeis contra a adversidade. A vida ainda havia de confrontá-los com outras provas mortais, sem dúvida, mas já não tinha importância: estavam na outra margem.”

Gabriel García Márquez em
O Amor nos Tempos do Cólera

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