A oitava edição do Clube do Livro do Achados & Lidos nos levou a conhecer um pouco mais sobre a trágica  história de um país afogado em uma guerra civil. Em Nossa Senhora do Nilo, Scholastique Mukasonga narra a história de um liceu e de suas alunas, mas na verdade ela nos mostra um cenário muito mais amplo. Por meio de histórias fragmentadas, aos poucos Scholastique compõem um mosaico da crescente tensão política e forte intolerância étnica que marcaram a história de Ruanda na segunda metade do século XX. Por meio desse panorama, o livro nos mostra como pode germinar o ódio que levaria ao assassinato de 800  mil tutsis cerca de duas décadas depois do momento em que se passa essa narrativa.

Nos comentários que recebemos de nossos leitores, são esses os componentes que mais se  destacam, assim como o grande poder da literatura  de nos colocar de cara com realidades importantes, mas distantes do nosso cotidiano.

Foi uma ótima leitura, mas ainda temos uma surpresinha para nossos leitores, antes de partirmos para a leitura de Laços, de Domenico Starnone. Scholastique Mukasonga, que já tinha mostrado sua gentileza e simpatia ao fazer uma palestra nas ruas de Paraty, enquanto a ouvíamos falar sentados no chão de pedras da cidade histórica, mais uma vez demonstra sua vontade de se aproximar de seus leitores e a contínua busca por espalhar uma história que a marcou profundamente. Gentilmente, ela aceitou nosso pedido e nos concedeu uma entrevista por e-mail, que publicaremos na próxima semana! Estamos muito felizes, e esperamos que vocês gostem do resultado!

Stephany Tiveron

Confesso, Nossa Senhora do Nilo me surpreendeu! Havia visto alguns comentários a respeito de Scholastique Mukasonga por conta da FLIP, mas só fui conhecer um pouco mais sobre seu universo por meio do Achados & Lidos, quando vocês propuseram a leitura de uma de suas obras recém-lançadas no Brasil aqui no clube.

Para mim, e acredito que para boa parte do mundo, a África ainda é um continente a ser desvendado – de modo geral, temos informações escassas, registros truncados e uma visão um tanto retorcida sobre sua história e seus costumes, tão marcados pela influência estrangeira. Ainda bem que o interesse pelo assunto esteja aumentando e, que maravilha, autores oriundos de países como Ruanda estejam chegando às nossas prateleiras com mais frequência!

Quando comecei Nossa Senhora do Nilo, com linguagem simples e texto fluido, esqueci por algum tempo das trágicas notícias de genocídio que se sucederam no país onde o liceu está localizado. Esse jeito poético, as pequenas descrições místicas misturadas a costumes europeus e o modo singelo para falar de temas tão pesados me fez lembrar autores como Mia Couto e Chimamanda Ngozi Adichie. Imagino que isso tenha relação direta com a forte tradição oral da cultura africana, que na narrativa é retratada por meio de personagens como a feiticeira. Esse resgate, ao que parece, vai de encontro com uma frase de Scholastique: “Escrevo para salvaguardar memória”. Achei linda e simbólica, tomando como referência, por exemplo, o que se sabe sobre Ruanda desse lado do Atlântico!

Mas foi nos últimos capítulos, que senti a tensão e a força dos acontecimentos reais chegarem ao romance com tudo. Ainda que os personagens sejam fictícios, ficou muito clara a maneira como o ódio nasce e se espalha no cotidiano; também ficaram mais evidentes as disputas de poder e a falta de interesse de belgas, franceses e ingleses, por exemplo, em se envolverem. No fim, o exílio de Virginia parece refletir os caminhos da vida da própria autora.

Gostei muito de poder acompanhar esse clube com vocês! Dessa vez consegui seguir (mais ou menos) as indicações de capítulo e as discussões semanais e fiquei feliz pelas reflexões. Deixo aqui o meu super obrigada! <3″

 

Debb Cabral

Quando li a sinopse de Nossa Senhora do Nilo me deparei com um fato triste: o quanto nós desconhecemos a história da África. Sabemos sobre as grandes guerras mundiais, os conflitos separatistas no norte da Europa, os atentados nos Estados Unidos, mas sobre a realidade africana ignoramos quase tudo.

Ironicamente foi uma obra de ficção que me trouxe de encontro à esta triste realidade.

Nossa Senhora do Nilo é um livro comovente. Ao mesmo tempo em que ri das conversas das adolescentes, não consegui deixar de me preocupar com a segurança delas, de suas famílias, de seu povo, de seu país.

Confira a resenha completa no blog da Débora, aqui

 

Meire Domingos

O que mais gostei em Nossa Senhora do Nilo foi o formato de pequenas histórias se unindo para contar uma grande história. Conforme avançávamos na leitura, percebíamos como os episódios se conectavam.

O capítulo que mais chamou minha atenção foi aquele em que Gloriosa quebra o nariz da santa. Além de todo contexto social que esse trecho representa, há também muita ação na narrativa. Não conseguia largar a leitura, porque queria saber o que aconteceria em seguida!

Foi muito bom participar desse clube com o Achados & Lidos, porque não só conheci a ótima escrita de Scholastique Mukasonga, mas também aprendi sobre Ruanda e sua história.

 

Marcos Alvito

A conclusão de vocês é perfeita: no desfecho, Mukasonga dá  uma aula acerca  do funcionamento do poder e do caminho natural de uma política baseada na oposição identitária e no  maniqueísmo. Discursos sobre pureza, autenticidade e destino histórico podem muitas vezes encobrir um projeto de extermínio. Neste sentido, a comparação que vocês fizeram com os nazistas no post anterior foi extremamente válida. Foi muito enriquecedor ler os comentários de vocês, agradeço muitíssimo e espero que eu possa desfrutar disso em outros livros. Obrigado. 🙂

 

Gabriela Domingos

Através da literatura podemos viajar para outras realidades, culturas e tempos. Scholastique Mukasonga faz justamente isto ao contar este importante relato sobre o povo ruandês. Seu texto é atual, necessário e brilhante.

A leitura do livro e as excelentes análises do blog (que foram além das páginas lidas) permitiram conhecer a triste história de um povo. Além disso, os personagens e suas ações destacam elementos, como a dominação, a ganância pelo poder, a intolerância e a violência, que permitem uma urgente reflexão sobre o presente.

 

Lilian Cantafaro

Quando chegamos à FLIP, a mesa da escritora ruandesa Scholastique Mukasonga já tinha acontecido, porém tínhamos a esperança de que, em algum momento, ela autografasse nossos livros. Ficamos sabendo que ela faria uma palestra extra na casa de sua editora: a ”Nós”.

Devido ao número elevado de leitores, esse evento teve que ser improvisado na rua, com as pessoas em pé ou sentadas no chão. O evento intimista teve o pôr do sol como testemunha.

Ficou claro pra mim que Mukasonga não estava só sendo simpática com seus fãs. Era muito mais. Ela tem a real necessidade de contar a história de seu povo; o genocídio de mais de 800 mil tutsis mortos pelos hutus. 

Porém, depois do término da leitura de  Nossa Senhora do Nilo, percebi que esta história pode ser a de qualquer povo e que estas 260 páginas servem como um alerta ao mundo, sobre como o funcionamento do poder baseado em mentiras pode provocar uma situação incontrolável de intolerância e preconceito através do ”nós contra eles”.

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