Como prometido pela Mari na semana passada, continuamos a listar as melhores leituras do ano, todas ótimas dicas de presente para este Natal (confira a primeira parte da lista aqui)! De lançamentos a livros que já estavam na estante, essas leituras nos levam a um passeio guiado pelos prédios do centro de São Paulo, pela dura Brasília tomada pela ditadura militar, por Nápoles e até mesmo ao útero de uma mulher grávida! 

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1. O Tribunal da Quinta-Feira, de Michel Laub: Terceiro livro de uma trilogia sobre a capacidade de adaptação individual a traumas coletivos, este romance de Michel Laub explora o verdadeiro tribunal encenado cotidianamente nas redes sociais e fóruns virtuais. José Victor, um publicitário de 43 anos, recém-divorciado, que vê boa parte de suas conversas eletrônicas com o melhor amigo expostas na internet de forma parcial e inescrupulosa, tem de lidar com esse vazamento e, principalmente, com a sombra da doença que marcou a sua geração, a AIDS. Na linguagem arrebatadora de Laub, esse foi um dos grandes achados de 2017. Veja a resenha completa aqui.

2. História da Menina Perdida, de Elena Ferrante: Esse era, sem dúvida, um dos livros mais aguardados do ano. O volume final da tetralogia napolitana de Ferrante, que arrebatou milhares de fãs por todo o mundo, não decepcionou, mas deixou um travo amargo na boca: depois de três livros centrados na infância, na adolescência e na juventude de Elena e Raffaella, ou Lenú e Lila, como nos habituamos a chamá-las, o quarto volume da série alcança as duas na maturidade e, depois, na velhice, em um vivo retrato sobre a finitude das relações e de nossa passagem por aqui. Veja a resenha completa aqui.

3. Enclausurado, de Ian McEwan: Autor de livros já clássicos, como Reparação (leia resenha aqui), Ian McEwan mais uma vez surpreendeu seus leitores com essa releitura de Hamlet, obra-prima de Shakespeare. Enclausurado parte de uma impossibilidade física e biológica: o narrador é um feto que opina sobre o mundo e a sua ansiedade, enquanto testemunha os planos da mãe e do amante para o assassinato de seu pai. Em passagem pelo país no início do ano, o autor comentou que teve a ideia da narrativa, e até formulou mentalmente a primeira frase do livro, enquanto conversava com a sua nora grávida. A partir daí, ele usou toda sua habilidade como romancista para explorar a riqueza do realismo na literatura. O título também foi selecionado para o Clube do Livro do Achados e Lidos. Leia a série de posts aqui.

4. O Conto da Aia, de Margaret Atwood: Não se falou de outra coisa em 2017: a sensação literária do ano sem dúvida foi Margaret Atwood e sua distopia, adaptada para a televisão por MGM e Hulu. No livro, Atwood imagina um pavoroso mundo no qual as mulheres são divididas em categorias, não podem mais ler nem escrever sob pena de ter a mão cortada, e no qual o amor e a paixão são crimes contra o objetivo primordial do Estado: a reprodução. O que é mais sombrio no livro de Atwood, contudo, é o modelo de sociedade que emerge de uma civilização afundada em um mal estar coletivo e generalizado. Diante de tanto interesse, o título foi reeditado e ganhou linda capa pela Rocco! Ótima dica de presente, não? Veja a resenha completa aqui.

5. São Paulo Nas Alturas, de Raul Juste Lores: Com este lançamento, o jornalista Raul Juste Lores preencheu uma lacuna, ao nos guiar por um passeio por prédios icônicos do centro de São Paulo, assinados por grandes nomes da arquitetura brasileira, como Paulo Mendes da Rocha e Oscar Niemeyer. Mas, mais do que isso, Raul Juste Lores fornece um panorama da ocupação da cidade, das pensões e cortiços sem janelas e banheiros aos edifícios mais modernos que ainda marcam a paisagem da cidade, contribuindo para o nosso entendimento dos caminhos escolhidos pelos cidadãos  e o poder público do município. Nem sempre, logo nos mostra Lores, foram feitas as escolhas mais inteligentes. Veja a resenha completa aqui.

6. Doze Contos Peregrinos, de Gabriel García Márquez: Voltar a ler Gabo, um dos meus autores favoritos, é sempre um prazer. Neste livro de contos, indicado pela Mari, doze histórias orbitam em torno de um mesmo tema: se concentram em latino-americanos peregrinos pela Europa, trazendo consigo o colorido de suas terras para paisagens mais áridas. A habilidade de García Márquez para construir personagens complexos e profundamente empáticos não sofre nenhum abalo ao migrar dos romances, sua especialidade, para as histórias curtas, fazendo deste um dos melhores livros do colombiano. Veja a resenha completa aqui.

7. No Seu Pescoço, de Chimamanda Ngozi Adichie: Mais um livro de contos, mais um título de uma de minhas autoras favoritas. Em No Seu Pescoço, Adichie expõe nossa vulnerabilidade perante o desconhecido em doze histórias curtas, verdadeiras joias raras. Nesses contos, demonstra mais uma vez sua enorme capacidade de escrever sobre injustiça social, desigualdade de gênero, racismo e preconceito contra imigrantes de forma combativa, mas nunca panfletária, partindo da universalidade dos dramas humanos. Veja a resenha completa aqui.

8. A Noite da Espera, de Milton Hatoum: Lançamento fresquinho na seleção de melhores livros do ano, o novo título de Milton Hatoum, depois de nove anos de interregno literário, é arrebatador. Parte da trilogia O Lugar Mais Sombrio, a obra narra um rompimento familiar em uma época marcada por tensões e desaparecimentos, em plena ditadura militar. Martim, o jovem narrador deste romance, é levado a se mudar para Brasília na companhia do pai, depois da separação deste de sua mãe. Deixando o ambiente que lhe é familiar, a transferência para a capital recém-criada, ainda quase vazia e marcada pela agressividade do golpe militar de 64, é reflexo do cotidiano árido que Martim enfrenta em casa. Veja a resenha completa aqui.

9. Intérprete de Males, de Jhumpa Lahiri: Um casal compartilha verdades inconfessáveis à luz de velas. Uma jovem mulher decide revelar um segredo a um desconhecido. Uma menina descobre noções de identidade e pertencimento por meio de visitas cotidianas na hora do jantar. Em Intérprete de Males, livro de contos da inglesa de origem indiana Jhumpa Lahiri, os personagens precisam aprender a conviver com um mundo que lhes parece estrangeiro, mas que precisa ganhar contornos familiares. Já coloquei outras obras da autora na lista de leituras para 2018! Veja a resenha completa aqui.

10. Os Fatos – A Autobiografia de um Romancista, de Philip Roth: Lançado em 1988, mas editado no Brasil apenas no ano passado, não se poderia esperar que a autobiografia de um dos maiores romancistas americanos obedecesse a convenções do gênero. Com sua habitual ironia, Roth subverte padrões e explora, nesta obra, o limite tênue entre ficção e realidade, uma estratégia narrativa interessante para um autor que muitas vezes foi criticado justamente por ser excessivamente autobiográfico. Veja a resenha completa aqui.

Tainara Machado

Tainara Machado

Acredita que a paz interior só pode ser alcançada depois do café da manhã, é refém de livros de capa bonita e não pode ter nas mãos cardápios traduzidos. Formou-se em jornalismo na ECA-USP.
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