Na leitura desta semana, Lord Henry se aproxima ainda mais de Dorian Gray e Wilde nos brinda com boas reflexões sobre o poder, para o bem ou para o mal, da influência. Para a próxima semana, avançamos mais dois capítulos (5 e 6) na leitura de O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, até a página 87 se você tem a edição da foto, da Penguin-Companhia das Letras.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Lord Henry não mede esforços para se acercar a Dorian Gray e saber mais detalhes de sua história. Com um velho tio, ele descobre que a mãe do belo jovem havia sido uma moça também exuberante e de posses, que se apaixonara por um homem pobre a quem o pai não aprovava. O romance não terminou nada bem e o pequeno Dorian logo ficou órfão, sob a tutela de um avô amargurado.

Todas as informações que pudesse obter eram valiosíssimas para que Lord Henry colocasse em ação o seu plano: fazer com que Dorian ficasse tão hipnotizado por ele quanto Hallward havia ficado pelo jovem.

Ele não poupava esforços para frequentar os mesmos lugares que seu alvo e encantá-lo com conversas sobre o estilo de vida hedônico, e bastante egoísta, que orgulhosamente ele levava:

Ele era brilhante, fantástico, irresponsável. Fazia com que os ouvintes saíssem de si, e eles seguiam sua flauta aos risos. Dorian Gray não tirava os olhos dele, estava sentado como alguém enfeitiçado, com sorrisos seguindo-se uns aos outros em seus lábios, com a admiração crescente, seria, em seus olhos que se tornava sombrios.

Mais uma vez, Wilde traz à tona o tema da influência. A maneira como ele descreve a intenção de Lord Henry em relação a Dorian não é lisonjeira. Wilde vê a influência como uma atividade prazerosa para quem a pratica, mas devastadora para quem a recebe. Trata-se de uma forma de dominação sutil em que o influenciador busca no outro uma extensão de sua própria identidade, mesmo às custas da identidade alheia.

Ao exaltar seu modo de vida despreocupado e extravagante, Lord Henry captava a atenção de Dorian, sedento por descobrir os prazeres da vida sem se preocupar demasiado pelo passado e, menos ainda, pelo futuro. A exaltação que Lord Henry faz da vida livre de dúvidas ou de remorsos, à mesa da casa de sua tia, para diversos convidados, entre eles Dorian Gray, logo surtirá efeito sobre o rapaz. Em um trecho marcado por uma série de aforismos, que vão da compaixão até a velhice, Lord Henry afirma:

“Hoje em dia a maioria das pessoas morre de uma espécie de senso comum rasteiro e descobre tarde demais que os nossos erros são as únicas coisas de que nunca nos arrependemos.”

O jovem Dorian Gray parece levar essa lição bem a sério, à medida que evoluiu o romance. Incentivado pelo elogio à loucura e ao hedonismo de Lord Henry, Gray divaga por Londres em busca de novas sensações e experiências:

Sentia que a nossa Londres cinzenta e monstruosa, com sua miríade de pessoas, seus pecadores sórdidos, e seus pecados esplêndidos, como você uma vez expressou, deveria ter algo guardado para mim.

E de fato tinha. Gray encontra, em um teatro decadente, uma jovem atriz, Sibyl Vane, pela qual ele logo se apaixona. O relato desse amor súbito de certa forma espanta Lord Henry, que vê sua influência sobre o amigo surtindo efeito com mais rapidez até do que o esperado. A natureza de Dorian Gray, observa ele, está se “desenvolvendo como uma flor”, dando espaço para sua alma e para o seu desejo.

De maneira bastante impulsiva, no entanto, Gray toma uma decisão inesperada e anuncia seu noivado com a jovem atriz, a qual conhece há menos de semanas. Será que há a chance de o feitiço virar contra o feiticeiro, como o próprio Lord Henry já havia previsto?

“Acontece com frequência que, ao pensarmos que fazemos experiências com os outros, na verdade as fazemos com nós mesmos.”

Compartilhe conosco sua opinião aqui nos comentários!

Achados & Lidos

Achados & Lidos

Um blog para quem não perde um boa leitura!
Achados & Lidos

Últimos posts por Achados & Lidos (exibir todos)