Nesta semana, minha casa ganhou uma prateleira nova, e não há desculpa melhor do que essa para enfileirar aqueles livros lindos que são verdadeiros xodós. Por isso, a lista dessa semana é temática: escolhi cinco clássicos em edições especiais que deixam qualquer estante mais bonita! Curioso? Confira a lista abaixo e, claro, não deixe de comentar qual é o livro que você guarda  com tanto carinho  que acaba até virando enfeite?

1. As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino (Companhia das Letras, 200 páginas): Bom, para começar, essa é uma edição ilustrada, o que automaticamente configura um livro muito especial. Matteo Pericoli elaborou uma ilustração para cada cidade do imenso império mongol descrita pelo viajante veneziano Marco Polo a Kublai Khan, imperador dos tártaros. Os desenhos estão escondidos e precisam ser desdobrados para ser vistos, em uma bela alusão ao título. Além disso, eles são destacáveis  e podem virar um lindo quadrinho enfeitando a sua estante. É ou não para amar? Por último, mas não menos importante, esse é um dos livros mais marcantes do mestre italiano Italo Calvino, no qual o tom de fábula é predominante e as cidades são apenas símbolos da grandeza da existência humana.

Uma descrição de Zaíra como é atualmente  deveria conter todo o passado de Zaíra. Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das  ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos para-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras. 

2. A Besta Humana, de Émile Zola (Editora Zahar, 367 páginas): A série especial da Zahar de clássicos é toda linda, mas esse livro guarda um lugar especial na estante por ter sido um dos primeiros títulos que lemos no Clube do Livro do Achados e Lidos (já estamos no décimo!) e por ter sido um dos meus primeiros contatos com esse grande romancista francês. O mais  legal desta edição é que, além de ilustrada com desenhos da época, ela é também comentada, com referências ao clima político, econômico e social da França de 1870, nos permitindo mergulhar no clima do livro. Nesta trama, em que homem e máquina se misturam, a maldade intrínseca a todos os seres humanos guia o rumo dos acontecimentos, a partir do envolvimento de Séverine com o maquinista Jacques Lantier.  

Que importância tinham as vítimas que a máquina esmagaria no caminho? Não seguia, de um jeito ou de outro, rumo ao futuro, indiferente ao sangue derramado? Sem condutor, em meio às trevas, besta cega e surda solta no campo da morte, ela rodava, rodava, carregada de bucha de canhão, de soldados já tontos de cansaço que, bêbados, continuavam a cantar.

3. Fábulas Completas, de Esopo (Cosac & Naify, 563 páginas): Esse livro faz parte de uma coleção muito especial na minha estante: a de livros da saudosa Cosac & Naify. Praticamente uma obra de arte, a capa com alusões às fábulas contidas no volume, em cores contrastantes, enfeita qualquer estante e ganhou espaço de destaque na prateleira nova (ao lado de outro livro lindo da Cosac, Novelas Exemplares, do Miguel de Cervantes). Além das aparências, a edição da Cosac trouxe 26 fábulas inéditas em português desse clássico fundador da literatura mundial, que influenciaria um sem número de escritores nos séculos seguintes, com suasfábulas em que os animais simbolizam aspectos morais e éticos da humanidade.

Os bois e o eixo

Enquanto os bois puxavam a carroça, o eixo rangia. Então eles se voltaram e lhe disseram: “Ei, meu caro, nós carregamos todo o peso e você é que fica resmungando?”

Assim, também certos homens, enquanto outros fazem força, fingem que são eles que estão se esfolando.

4. Bartleby, o Escrivão, de Herman Melville (Ubu, 48 páginas): Uma das melhores novidades no mercado editorial para quem gosta de livros editados com extremo zelo é a Ubu.  Como a Mari escreveu neste post sobre edições primorosas,  este livro de menos de 100 páginas, com projeto gráfico de Elaine Ramos, “concretiza a essência da obra de Melville já no momento de abrir o livro. Costurado dos dois lados, é preciso puxar as linhas para acessar as páginas. Em seguida, é necessário rasgar as bordas das páginas para encontrar o texto. O livro é tão impenetrável quanto a personalidade de Bartleby e, a todo momento, a iminência de um passo em falso, que pode arruinar a folha, traz à mente a frase ‘Acho melhor não’”.

A verdade é que sua extrema mansidão não apenas nos desamava, mas também me intimidava. Pois considero uma covardia que alguém permita tranquilamente que um empregado lhe dê ordens e que o expulse de seu próprio escritório.

5. Cem Anos de Solidão,, de Gabriel García Márquez (Alfaguara, 606 páginas): Há muitos anos, quando eu estudava espanhol no Colégio Miguel de Cervantes, aqui em São Paulo, eles realizavam todo semestre uma feira de livros em espanhol. Para mim, como todo evento do  tipo, era uma perdição. Qual não foi minha surpresa quando encontrei, em meio às edições padrão da Debols!llo, um título que muito me interessou: uma edição comemorativa da Real Academia Espanhola de Cem Anos de Solidão, revisada pelo próprio autor. Foi amor à primeira vista, o que me levou a ignorar o fato de que já tinha uma versão em português da obra-prima de Gabo em casa. A história da família Buendía, com seu início marcante, merecia.

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.

Tainara Machado

Tainara Machado

Acredita que a paz interior só pode ser alcançada depois do café da manhã, é refém de livros de capa bonita e não pode ter nas mãos cardápios traduzidos. Formou-se em jornalismo na ECA-USP.
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