Cada vez mais, pistas nos levam ao desfecho trágico que iniciou Canção de Ninar. Curiosos? Para a próxima semana, vamos até a página 72 (capítulo 14).

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Mariane Domingos e Tainara Machado

Depois de um início arrebatador, seguido por capítulos amenos, a tensão volta à narrativa de Slimani. O retrato da família feliz, com a babá perfeita, começa a ruir.

Myriam mergulha de cabeça no trabalho e parece cada vez mais à vontade fora de casa. Sua volta ao mercado de trabalho lhe devolve ao convívio social longe da família. Ela passa a se questionar se a sua liberdade havia sido roubada com o casamento e com o nascimento dos filhos. Esse pensamento não vem sem culpa.

Percebeu que jamais poderia viver sem o sentimento de estar incompleta, de fazer as coisas mal, de sacrificar uma parte de sua vida em função da outra. Tinha feito um drama ao se recusar a renunciar ao sonho dessa maternidade ideal.

O discurso que emana da propaganda, da mulher como super-heroína, capaz de acumular tarefas e se sair bem em todas delas, só exacerba esse sentimento. Para piorar, ela ainda enfrenta os comentários cheios de julgamento do marido, da sogra e da diretora da escola, todos discursos que ecoam uma sociedade patriarcal, que joga sobre a mulher a parte mais pesada da responsabilidade pela criação dos filhos.

Louise é a sua tábua de salvação. Essa tábua, no entanto, se mostra, a cada página, menos estável. A disponibilidade incondicional e a paciência sem limites com as crianças são tão atípicas que chegam a assustar. Seus gestos parecem ensaiados, mecânicos, pouco naturais.    

A construção da personalidade de Louise para nós, leitores, inevitavelmente deriva da primeira cena do livro, em que a babá é encontrada ensanguentada ao lado das duas crianças. Procuramos enxergar os sinais de loucura, de mania, que a personagem já demonstrava, para conseguir encaixar os fatos relatados. Por isso, a cena em que ela brinca de esconde-esconde com as crianças, levando o jogo um pouco a sério demais, parece indicar algum desequilíbrio emocional mais profundo.

Outras passagens reforçam essa percepção. O capítulo em que Slimani volta no tempo para retratar Louise ao lado da filha ainda pequena é peça importante nesse quebra-cabeças, por mostrar a tendência à abnegação de Louise, que fazia sempre muito mais do que lhe era pedido. Ao assumir o posto de babá, a mulher abraçava também as demais obrigações da casa, sem ruído, um gesto que a filha observa, e que a incomoda. Louise parece satisfeita com e necessitar dessa constante aprovação, mas ainda não conhecemos o que verdadeiramente pensa a personagem sobre sua condição.

Com Louise, Slimani parece querer demonstrar que o mal é banal, e que o limite entre loucura e sanidade é bastante tênue. Será que terminaremos convencidos?

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