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[Resenha] A Amiga Genial

As primeiras páginas de A Amiga Genial, primeiro livro da “série napolitana” da italiana Elena Ferrante, é daquelas que a gente lê e deseja ter escrito. Tudo começa quando Elena Greco, a narradora, recebe uma ligação do filho de sua melhor amiga, Rafaella Cerullo, que informa o desaparecimento de sua mãe.

Faz pelo menos trinta anos que ela me diz que quer sumir sem deixar rastro, e só eu sei o que isso quer dizer. Nunca teve em mente uma fuga, uma mudança de identidade, o sonho de refazer a vida noutro lugar. E jamais pensou em suícidio, incomodada com a ideia de que Rino tivesse de lidar com seu corpo, cuidar dele. Seu objetivo sempre foi outro: queria volatilizar-se, queria dissipar-se em cada célula, e que ninguém encontrasse o menor vestígio seu. E, como a conheço bem – ou pelo menos acho que conheço -, tenho certeza de que encontrou o meio de não deixar sequer um fio de cabelo neste mundo, em lugar nenhum.

Elena, de fato, a conhecia. Lila, como só ela chama a amiga, evaporou. As roupas no armário sumiram, os sapatos desaparecem, ela recortou até as fotos em que aparecia ao lado do filho, ainda menino. O sumiço misterioso reacende na narradora a vontade, muito debatida pelas duas quando meninas, de escrever um livro.

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[Lista] 5 biografias que merecem lugar na estante

No mundo dos livros, as biografias são um gênero à parte. Na minha estante, por exemplo, elas ocupam uma prateleira inteira. Tem gente que torce o nariz e não vê muito valor estético nessas obras. Eu, pelo contrário, sou fã. Algumas histórias são até mais fascinantes do que ficção. E quando é um escritor que decide contar sua vida (ou ao menos parte dela), então, não me seguro. Aqui estão cinco biografias ou volumes de memórias que me marcaram e que merecem lugar na sua estante também!

1. Steve Jobs, por Walter Isaacson: Em 2004, quando soube que estava doente, o grande gênio da indústria de tecnologia quis um biógrafo a sua altura. Antes que qualquer um soubesse de seus problemas de saúde, Steve Jobs se aproximou de Isaacson e propôs que ele escrevesse sua trajetória.

Eu havia publicado recentemente uma biografia de Benjamin Franklin e estava escrevendo outra sobre Albert Einstein, e minha reação inicial foi perguntar, meio de brincadeira, se ele se considerava o sucessor natural nessa sequência.

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recuperação da adolescência

é sempre mais difícil
ancorar um navio no espaço

Ana Cristina Cesar em Cenas de Abril


cartilha da cura

As mulheres e as crianças são as primeiras que desistem de afundar navios.

Ana Cristina Cesar em A Teus Pés – Prosa/Poesia

[A Besta Humana] Semana #1

Todos prontos para o clássico francês? Vocês escolheram por meio de votação nas redes sociais o título do nosso terceiro Clube do Livro: A Besta Humana, de Émile Zola! Para a próxima semana, faremos a leitura dos dois primeiros capítulos, da página 21 a 82, se você tem a edição da foto.

Esse romance faz parte de um extenso projeto do escritor francês, intitulado Os Rougon-Macquart: História natural e social de uma família sob o Segundo Império. A Besta Humana é o 17º livro da série, que conta com 20 títulos no total.

Na introdução desta edição da Zahar, temos um ótimo texto de Jorge Bastos sobre o contexto da obra de Zola. Bastos explica que, embora a série dos Rougon-Macquart tenha um formato parecido com A Comédia Humana, de Honoré de Balzac, as teses literárias que guiaram os autores são diferentes.

Os dois projetos dispõem de romances que podem ser lidos em ordem aleatória, sem prejuízo de compreensão, mas enquanto Balzac, que era de uma geração anterior a Zola, aposta em uma abordagem social, o escritor de A Besta Humana trabalha com um viés mais científico. O realismo, que antes havia substituído o melodrama excessivo do romantismo, agora dá lugar ao naturalismo. Bastos reproduz o trecho de um texto bastante explícito que Zola escreveu em 1869 intitulado A Diferença entre mim e Balzac:

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[Resenha] Um Copo de Cólera

Antes de escrever este texto, li duas vezes Um Copo de Cólera. A primeira leitura durou uma semana, dividida em intervalos de outras atividades. Terminei com a sensação de que havia algo no texto que me escapava. A segunda tentativa foi em uma manhã, de forma ininterrupta e em voz alta. As duas experiências me deixaram com uma certeza: o personagem principal do livro de Raduan Nassar, escritor brasileiro recentemente agraciado com o Prêmio Camões, é a linguagem.

A força do vocabulário, milimetricamente escolhido e posicionado, faz dessa obra um daqueles sopros de originalidade da literatura. Não comece a leitura esperando um enredo mirabolante, do tipo que você precisa chegar à última página para unir todas as pontas e assimilar o sentido da história. Nassar significa suas ideias em cada palavra. Não há sequer um trecho supérfluo no livro. Talvez por isso ele não seja extenso – tem apenas 84 páginas. Seria impossível sustentar esse fôlego por muito mais.

A história é narrada por um homem recluso e com ares de “Narciso” – referência ao personagem da mitologia grega que definha admirando sua própria beleza no reflexo de um rio. Depois de uma noite de paixão, à mesa do café da manhã com sua amante, tudo parece seguir um caminho previsível, quando um fato aparentemente banal é o gatilho que coloca em cena outro personagem – a cólera:

… mas meus olhos de repente foram conduzidos, e essas coisas quando acontecem a gente nunca sabe bem qual o demônio e, apesar da neblina, eis que vejo: um rombo na minha cerca viva, ai de mim, amasso e queimo o dedo no cinzeiro, ela não entendendo me perguntou “o que foi?”, mas eu sem responder me joguei aos tropeções escada abaixo (o Bingo, já no pátio, me aguardava eletrizado), e ela atrás de mim quase gritando “mas o que foi?”, e a dona Mariana corrida da cozinha pelo estardalhaço, esbugalhando as lentes grossas, embatucando no alto da escada, pano e panelas da mão, mas eu nem via nada, deixei as duas para trás e desabalei feito louco, e assim que cheguei perto não me aguentei “malditas saúvas filhas da puta”, e pondo mais força tornei a gritar “malditas saúvas filhas da puta”, vendo uns bons palmos de cerca drasticamente rapelados, vendo uns bons palmos de chão forrados de pequenas folhas, é preciso ter sangue de chacareiro para saber o que é isso…

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