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“Toda prova tem um ritmo certo, é preciso medir a força e ficar atento ao estilo, ao desenho das braçadas, à frequência das pernadas e acima de tudo se concentrar e manter a concentração no nado até que mente e corpo sejam uma coisa só, o que inaugura condições para que ele e a água se tornem uma coisa só e não haja mais necessidade de se concentrar. Todos os momentos anteriores pareciam tê-lo preparado para isso. É a prova para a qual treinou a vida toda.”

 

Daniel Galera em Barba Ensopada de Sangue

[A Besta Humana] Semana #6

Estamos na reta final de A Besta Humana! Para a próxima semana, avançamos mais dois capítulos, até a página 332 (se você tem a edição da foto).

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

O instinto assassino está de novo à solta em Le Havre.

Envolvidos direta ou indiretamente no assassinato de Grandmorin, o evento central do livro, os três personagens principais de A Besta Humana passam por uma incontestável degradação moral depois desse acontecimento.

A mais visível, embora talvez não a mais intensa, sem dúvida é a de Roubaud. O subchefe de estação é consumido pelo vazio da vida desde o assassinato do presidente Grandmorin. Embora as investigações tenham sido encerradas e ele tenha conseguido, com a esposa, se livrar da culpa, a distância criada entre ele e Séverine o leva a uma degradação moral e física impressionante, privado de sono, engordando a olhos vistos, uma sombra do que já fora. Sua dedicação ao trabalho já não é a mesma e ele passa quase todo o tempo disponível no Café de Commerce, ponto de jogatina.

E não que o remorso o atormentasse com qualquer necessidade de esquecimento, mas na confusão do seu casamento abalado, no meio da sua existência deteriorada, havia encontrado um consolo, a vertigem da felicidade egoísta, passível de se desfrutar sozinho. E tudo naufragava nessa paixão que acabava de transtorná-lo.

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[Resenha] Solar

A constatação de que o mundo está cada vez mais quente e que o planeta está ameaçado pode suscitar comoção e interesse em muitas pessoas, mas não em Michael Beard, o chefe do Centro Nacional de Energia Renovável e personagem principal de Solar, excelente romance de Ian McEwan.

O inglês não costuma ser muito generoso com seus personagens. Beard é um típico anti-heroi.  Ganhou o prêmio Nobel de Física pela Conflação Beard-Einstein há mais de duas décadas, por uma confluência de fatores em que seu talento não necessariamente teve grande peso. Desde então, “aspergido com o pó mágico de Estocolmo”, leva uma vida fácil de  palestras, conferências e pareceres, como descreve McEwan com a ironia que caracteriza seu estilo ácido de escrita:

Uma coisa era certa: duas décadas haviam transcorrido desde que pela última vez sentara sozinho e em silêncio por horas a fio, com um lápis e um bloco nas mãos, para pensar, para examinar uma hipótese original, para brincar com ela, estimulá-la a ganhar vida própria.

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Orgulho brasileiro

Na última quinta-feira, compartilhamos, em nossa página no Facebook, uma notícia sobre a escritora britânica Ann Morgan, que se desafiou a ler, em um ano, um livro de cada país do mundo. No dia seguinte, tiveram início os Jogos Olímpicos, competição esportiva entre nações, famosa por instigar o orgulho de pertencer. Tudo isso me fez pensar sobre minha relação com a literatura brasileira.

Me peguei imaginando quais títulos eu indicaria a Morgan, para que ela visse o crème de la crème de nossa produção literária, ou quais escritores compatriotas despontariam no meu quadro de medalhas. Vários nomes me passaram pela cabeça, mas também percebi, com um misto de vergonha e tristeza, uma defasagem de representantes brasileiros contemporâneos em minha lista de achados e lidos.

Indicar clássicos brasileiros não é difícil. Quem lê meus posts por aqui sabe da minha paixão por Machado de Assis, por exemplo. A biblioteca da minha escola era predominantemente de literatura nacional. Quem se lembra da Série Bom Livro, da Editora Ática? Ela fez parte da minha adolescência e construiu minhas primeiras memórias de leituras de alta qualidade. Desde os romances água com (muito!) açúcar de Joaquim Manuel de Almeida e José de Alencar até as incomparáveis obras machadianas. Eu, que estava acostumada à estrutura narrativa tradicional, com heróis e anti-heróis, de repente sou apresentada ao defunto autor, de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Imaginem meu encantamento diante da originalidade desse escritor:

Algum tempo hesitei se devia abrir estas Memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.

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“A beleza não é o objetivo dos esportes de competição, mas o esporte de alto nível é um palco privilegiado para a expressão da beleza humana. É a mesma relação existente, em termos gerais, entre a coragem e a guerra.”

David Foster Wallace

em Ficando Longe do Fato de já Estar Meio que Longe de Tudo

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