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“A verdadeira divisão da humanidade é esta: os que possuem a luz e os que só têm trevas.

Diminuir o número dos últimos, aumentar o número dos primeiros, eis a verdadeira finalidade das coisas. É por isso que gritamos: – Ensino! ciência! – Aprender a ler é iluminar com fogo; cada sílaba é uma centelha.”

 

Victor Hugo em Os Miseráveis

[A Máquina de Fazer Espanhóis] Semana #8

A morte de um querido amigo foi um golpe duro para António, mas uma nova ideia parece, mais uma vez, lhe despertar de seu estupor e o colocar de frente para a vida. Continuamos a acompanhar as reviravoltas no Lar da Feliz Idade, em A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe. Na próxima semana, avançamos mais dois capítulos – até a página 198, se você tem a edição da Biblioteca Azul, ou até a página 186, se você tem a edição da Cosac Naify.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

a morte do joão da silva esteves, glorioso esteves cheio de metafísica, foi um duro golpe.

O início do capítulo treze de A Máquina de Fazer Espanhóis nos relembra que, na guerra contra a morte, uma hora ou outra vamos levar a pior. Mesmo assim, Esteves sem metafísica cairia de pé, se é possível assim dizer.

A morte, conta doutor Bernardo a António, o encontrou sorrindo, no meio de uma história. O que Esteves contava eram justamente os acontecimentos da noite passada, quando um pesadelo no qual uma máquina de roubar a metafísica dos homens lhe perseguia acabou levando-o a encerrar a noite no quarto de António. O personagem fica profundamente abalado pela notícia da morte do amigo que acabara de completar cem anos.

a longevidade dele foi uma demorada marcha contra a derrota.

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[Resenha] A Vida dos Elfos

A união é a urgência dos nossos tempos. Essa ideia, tão simples quanto necessária, ganha vida nas criaturas e terras mágicas do belo romance A Vida dos Elfos, da autora francesa Muriel Barbery.

Depois do sucesso mundial de A Elegância do Ouriço, Barbery deixa o realismo e se arrisca na literatura fantástica, sem perder o requinte e a profundidade que já são marcas da sua escrita.

Na trama, duas jovens órfãs, Clara e Maria, têm uma ligação misteriosa que se esclarece à medida que são desvendados os segredos em torno das origens de cada uma.

Maria vive em uma região rural da Borgonha e é cercada por pessoas de pouca instrução, mas que têm a sabedoria que apenas a pureza do contato diário com a natureza pode prover. A comunidade acolheu a menina ainda bebê, quando ela foi abandonada nas redondezas, em um dia de muita neve. Desde a chegada de Maria, a região não conhece a escassez da terra. Os pomares e a caça se mantêm abundantes durante as quatro estações do ano. A relação simbiótica de Maria com a natureza é uma das chaves da narrativa:

Compreendera muito cedo que os outros se moviam no campo como cegos e surdos para quem as sinfonias que ela ouvia e os quadros que contemplava não passavam de ruídos da natureza e paisagens mudas.

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Literatura engajada

Meia-Noite e Vinte, o romance mais recente de Daniel Galera, resume a sensação que temos quase todos os dias ao abrir o jornal: em algum momento na última década, o mundo deu errado (você encontra resenha do livro aqui). O pessimismo dos personagens, especialmente de Aurora, parece crescer na esteira de um período de razoável satisfação que começou a ruir com o ataque às torre gêmeas em 2001.

O fim da história, como Francis Fukuyama uma vez batizou o período pós-guerra fria, não durou muito. O desalento crescente com as catástrofes que parecem cada vez mais iminentes, da excessiva polarização política até ameaças de terrorismo e mudanças climáticas, transparecem no livro de forma clara, sob a forma de violência ou desespero que dominam as ações dos personagens. Em um entrevista recente para o blog Livros Abertos, Daniel Galera falou um pouco sobre a questão:

De um lado, há quebras sucessivas e crescentes daquelas expectativas gestadas no fim do milênio. De outro, a sensação de um excesso de conhecimento, sobretudo científico, a respeito das tendências destrutivas da civilização, mas sem uma capacidade de ação correspondente.

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“Meu avô morreu quando meu pai tinha catorze anos. A imagem que tenho dele é a de meia dúzia de fotografias, ele sempre com a mesma roupa, o mesmo terno escuro e o cabelo, a barba, e não tenho ideia de como era a voz dele, e os dentes eu não sei se eram brancos porque ele nunca apareceu sorrindo.”

Michel Laub em Diária da Queda

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