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Lemos, gostamos (ou não) e indicamos (ou não). Aqui, colocamos nossas impressões sobre livros que, de alguma forma, nos marcaram. Tem opinião, mas não tem spoiler!

[Resenha] O Melhor Tempo é o Presente

Uma união proibida: Jabulile Gumede é negra, Steven Reed é branco. Na África do Sul segregada pelo apartheid, essa relação só podia ser vivida na clandestinidade. É a partir dessa tensão que se desenrola O Melhor Tempo é o Presente (Companhia das Letras, 499 páginas), da ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura Nadine Gordimer.

Jabulile e Steven vêm de contextos diferentes, mas encontram um destino comum no sonho da liberdade para todos. Jabulile é filha do diretor da escola local e pastor da igreja metodista da província de KwaZulu, uma região dominada pelas mineradoras. Seu pai lutou por sua educação e apostou na continuidade dos seus estudos mesmo quando isso envolveu a mudança de país, para a Suazilândia, diferentemente do contexto da época, em que a prioridade era dada para a educação dos filhos homens.

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[Resenha] O Apocalipse dos Trabalhadores

Maria da Graça e Quitéria são duas amigas que compartilham, além da profissão, a desilusão de uma vida monótona. Elas passam os dias a trabalhar fazendo faxina e, esporadicamente, arrumam bicos como carpideiras, chorando em velórios de desconhecidos. Os descaminhos dessas duas personagens compõem o enredo de O Apocalipse dos Trabalhadores (Biblioteca Azul, 201 páginas), romance de um dos escritores mais relevantes da literatura contemporânea, o português Valter Hugo Mãe.

Com a prosa poética que é sua marca, Hugo Mãe mergulha no cotidiano das duas amigas para trazer uma temática universal e atemporal: o sentido da vida. Vítimas claras da invisibilidade social, Maria da Graça e Quitéria buscam mil subterfúgios para despistar o vazio de uma existência dedicada a sobreviver mais do que a viver.

Maria da Graça é casada com Augusto, que passa longas temporadas longe de casa, a trabalho, mas nunca contribui para as despesas da família. Ambos encaram esses períodos de afastamento como um alívio. Claramente, Augusto aproveita muito mais sua liberdade por contar com o olhar indulgente da sociedade patriarcal em relação aos homens. À Maria, sobram as responsabilidades cotidianas e o peso da imagem de esposa fiel que aguarda o marido trabalhador.

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[Resenha] A Trégua

Prestes a se aposentar, Martín Santomé não sabe bem o que fará com seu tempo ocioso. Em um diário, ele faz planos para a sua liberdade permanente, que ao mesmo tempo parece uma espécie de prisão: entre a jardinagem, o violão e a escrita, Santomé sabe, intuitivamente, que estará confinado à solidão dos dias.

Viúvo e pai de três filhos com os quais mantém um relacionamento distante, apesar de habitarem o mesmo teto, Santomé é o personagem central de A Trégua, (Alfaguara, 180 páginas), do uruguaio Mario Benedetti. Prestes a completar 50 anos, a vida maçante de Santomé é transcrita em um diário que reúne impressões, reflexões e a observações do cotidiano, de um jeito tão direto quanto cativante, pela franqueza de seu relato.

Se um dia eu me suicidar, será num domingo. É o dia mais desalentador, mais sem graça, Quem me dera ficar na cama até tarde, pelo menos até as nove ou as dez, mas às seis e meia acordo sozinho e já não consigo pregar o olho. Às vezes penso o que farei quando toda a minha vida for domingo.

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[Resenha] Meu Livro Violeta

No último mês, o autor inglês Ian McEwan completou 70 anos. Para comemorar a data, a Companhia das Letras publicou, em edições primorosas, duas obras inéditas do autor.

Meu Livro Violeta (Companhia das Letras, 125 páginas) é uma dessas publicações. Ela reúne duas breves histórias que comprovam que o talento do britânico cabe tanto em narrativas curtas quanto longas. Para quem já conhece a escrita de McEwan, é leitura para aumentar a admiração pela versatilidade do autor. Quem ainda não teve contato com sua literatura, é uma ótima oportunidade para engatar os romances mais famosos, como Reparação e Enclausurado.

O primeiro conto, que intitula o livro, foi originalmente publicado na seção de ficção da revista The New Yorker, em 2016 (nesse post, há inclusive o áudio do autor lendo a história). A narrativa, conduzida em primeira pessoa pelo personagem Parker Sparrow, revela duas grandes marcas da escrita de McEwan: a ironia e o humor negro, tipicamente britânicos.

Logo no início, o narrador avisa que seu relato se trata de uma espécie de confissão de um crime, do qual, ao que parece, ele não se orgulha, tampouco se arrepende:

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[Resenha] A Viagem do Elefante

Em 1551, o rei português dom João III, e sua mulher, Catarina d’Áustria, decidiram oferecer um presente inusitado ao arquiduque Maximiliano II, por seu casamento com a filha do imperador Carlos V: um elefante.

A história real do mamífero que saiu de Goa, passou por Portugal, Espanha, Itália, atravessou os Alpes para enfim chegar na Áustria ganha ares de fábula nas mãos de José Saramago, em A Viagem do Elefante (Companhia das Letras, 260 páginas).

Confesso que o enredo, normalmente, não atrairia minha atenção, mesmo sendo uma obra do consagrado autor português, de quem gosto muito, embora ele tenha aparecido pouco aqui no blog. Mas, em um aeroporto, acabei seduzida pela caligrafia de Wagner Moura, que assinou a capa para a edição especial vendida exclusivamente pela Livraria Saraiva.

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