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[Resenha] Salões de Paris

A cidade de Paris e o texto de Marcel Proust são sinônimos de sofisticação. A coletânea de crônicas que revela o lado jornalista do célebre escritor francês encontrou a combinação perfeita de forma e conteúdo nesta luxuosa edição da Carambaia. Salões de Paris reúne 22 textos de Proust, publicados entre o final do século XIX e início do XX, a maioria deles no Le Figaro.

As festas requintadas que atraíam a alta burguesia e a nobreza remanescente da França imperial são o principal tema dessas crônicas. A minuciosidade da prosa proustiana é capaz de transportar o leitor ao salão da princesa Mathilde ou ainda ao ateliê da sra. Madeleine Lemaire.

O escritor não economiza nas adjetivações quando retrata os ambientes, tampouco quando introduz os anfitriões e convidados dessas reuniões. Suas observações são carregadas da postura bajuladora que caracterizou tanto o Proust jornalista, quanto o Proust escritor. Sobre a princesa Mathilde, tia do príncipe Luís Napoleão, ele diz:

Essa rudeza um pouco máscula da princesa se tempera a um extrema doçura que transborda de seus olhos, de seu sorriso, de toda a sua hospitalidade. Mas por que analisar o charme dessa anfitriã? Prefiro tentar fazê-los sentir isso, mostrando a princesa no momento em que recebe.

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[Divã] Jornalismo e literatura

O Dia do Jornalista, comemorado na última sexta-feira, 7 de abril, me fez pensar em grandes escritores que também atuam no jornalismo. Uma tentativa, talvez, de compreender por que, há dez anos, quando prestei vestibular, escolhi essa formação, rs. A lista, bem extensa, revelou uma variedade de épocas e estilos que mostram as nuances da relação entre as duas profissões.

O escritor francês Honoré de Balzac foi o primeiro que lembrei. Ele exerceu intensamente na juventude a atividade jornalística, com artigos sobre política, literatura, filosofia e mais duas outras áreas em que poucos o imaginam. Balzac foi crítico pioneiro de moda e de gastronomia na Paris dos anos 1820-30. O livro Tratado da Vida Elegante, publicado ano passado pela Penguin Companhia no Brasil, reúne esses textos.

O jornalismo era tão presente na realidade de Balzac que aparece quase como um personagem em um de seus romances mais famosos, Ilusões Perdidas. Nele, o jovem poeta Lucien abandona sua vida provinciana e vai para Paris, onde realiza o sonho de ser jornalista e é definitivamente corrompido pela vaidade social. Sua ascensão na profissão acompanha sua decadência moral:

Uma vez admitido no jornalismo e na literatura em pé de igualdade, Lucien percebeu as enormes dificuldades a serem vencidas no caso de querer se elevar: todos consentiam em tê-lo como igual, ninguém o queria como superior. Imperceptivelmente, ele renunciou, pois, à glória literária, acreditando que a fortuna política era mais fácil de ser obtida.

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[Lista] 5 livros com narradores marcantes

No Clube do Livro do Achados, estamos lendo Enclausurado, de Ian McEwan. O ponto alto desse romance é, sem dúvida, o irreverente narrador – um feto que testemunha, de seu casulo, o plano de assassinato do pai, arquitetado pela mãe e o amante. Embalada por essa trama, resolvi fazer uma seleção com os melhores narradores que encontrei em minhas leituras.

17.03.02_lista_narradores_barbery1. A Morte do Gourmet, de Muriel Barbery: Pierre Arthens, um famoso crítico de gastronomia, tenta em suas últimas horas de vida, na solidão de seu quarto, relembrar um sabor que o marcou, mas ficou nos limbos da memória.

Ele é apenas um dos narradores desse romance composto por múltiplas vozes – o próprio Pierre e pessoas que o conhecem reconstroem os caminhos desse personagem que sacrificou tudo para viver o prazer da boa mesa.

O texto de Barbery, na voz de Pierre, se destaca pela experiência sensorial que proporciona ao leitor. Sabores, culpas, memórias e aromas encontram a combinação perfeita nas palavras desse narrador:

Vou morrer em quarenta e oito horas – a não ser que esteja morrendo há sessenta e oito anos, e que só hoje tenha me dignado a notar. (…) Que ironia! Depois de decênios de comilança, de torrentes de vinho, bebidas alcóolicas de todo tipo, depois de uma vida na manteiga, no creme, no molho, na fritura, no excesso a toda hora sabiamente orquestrado, minuciosamente paparicado, meus mais fiéis lugares-tenentes, o sr. Fígado e seu acólito, o Estômago, portam-se maravilhosamente bem e é meu coração que me abandona. Morro de insuficiência cardíaca. Que amargura também! Recriminei tanto os outros por não o terem em sua cozinha, em sua arte, que nunca pensei que talvez fosse a mim que ele fizesse falta, esse coração que me trai tão brutalmente, com um desprezo mal disfarçado, tal a rapidez com que se afiou o cutelo…

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[Lista] 5 resoluções literárias de ano-novo

É hora de fazer a lista mais famosa de todas: a de resoluções para o ano-novo! Se vamos cumprir ou não, pouco importa. A graça é planejar e ficar com aquela sensação de que vai dar tudo certo! Listei aqui embaixo cinco metas literárias para 2017. Algumas ainda estão em aberto, por isso conto com sugestões e dicas nos comentários!

1. Calhamaços, aí vou eu!

2016 foi um ano em que li vários livros e conheci muitos escritores novos, mas senti falta de uma leitura extensa, daquelas que nos acompanham por meses e nos fazem chorar de saudade dos personagens quando viramos a última página.

Eu sempre acho que esse tipo de empreitada funciona melhor quando há um grupo de apoio. Afinal, você passa tanto tempo imerso na história que precisa de alguém com quem compartilhar o seu mundo paralelo. Maratonistas de séries do Netflix sabem do que estou falando!

Já tenho algumas opções na estante: volumes 1 e 2 de Minha Luta, do Karl Ove Knausgård; Graça Infinita, do David Foster Wallace (como veem, falhei na meta de terminá-lo ainda neste ano); Pureza, de Jonathan Franzen. Aceito recomendações e convites para grupos de apoio, rs!

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Eternos começos

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Dia desses, em um café, conversávamos sobre o que é, talvez, a obra mais falada e menos lida de todos os tempos. Em Busca do Tempo Perdido, do francês Marcel Proust, é universalmente conhecido pelas frases longas, pelo texto rebuscado e pela dificuldade que é passar das 100 primeiras páginas de O Caminho de Swann – que dirá atravessar os sete volumes que compõem a obra.

Não à toa, o trecho mais popular da história é o momento em que o narrador morde uma “madeleine”, um biscoito francês, e o sabor o leva a reminiscências de sua infância em Combray.

A cena está logo nas primeiras páginas, onde a maioria dos mortais consegue chegar. Não muitos conseguiram ir além disso. Chegar a O Tempo Recuperado, então, é tarefa hercúlea – pessoalmente, não conheço ninguém que tenha completado esse trabalho.

Todo esse preâmbulo é apenas para compartilhar uma das minhas maiores aflições literárias: ficar presa no começo de um livro. Acontece com certa frequência e nem sempre porque o livro é difícil ou um grande clássico.

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