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[Resenha] O Peso do Pássaro Morto

Primeiro livro da escritora paulistana Aline Bei, O Peso do Pássaro Morto (Editora Nós, 168 páginas) cativa pela originalidade de sua estrutura narrativa bem ancorada em uma prosa poética surpreendentemente madura para um romance de estreia.

A trama parece simples à primeira vista: uma narradora em primeira pessoa relata perdas marcantes de sua vida dos oito aos 52 anos. No entanto, a forma como Bei decide organizar e desenvolver essa narrativa é o que a destaca em meio a outras obras do mesmo gênero.

São nove capítulos, todos intitulados com a idade da personagem no momento do relato – oito, 17, 18, 28, 37, 48, 49, 50 e 52 anos. Em cada trecho, a linguagem reflete a maturidade da narradora. No primeiro capítulo, por exemplo, fica a clara imagem de uma criança contando uma história.

O fio condutor dessa narrativa é a perda, não só de companhias queridas, mas também da inocência, da fé e da esperança:

claro. – respondi.

entendendo que o tempo
sempre leva
as nossas coisas preferidas no mundo
e nos esquece aqui
olhando pra vida
sem elas.

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[Resenha] Orlando

Obra-prima da escritora britânica Virginia Woolf, Orlando (Editora Penguin-Companhia, 337 páginas) é magistral não apenas pela trama, bastante inventiva, mas também pela sofisticação e sensibilidade do texto de Woolf, capaz de descrever com naturalidade os sentimentos e percepções mais complexos.

Orlando é um nobre da corte inglesa, que tem ótimas relações com nomes poderosos, até mesmo com a rainha, que parece hipnotizada pela sua aparência estonteante. As mulheres se dobram aos desejos do jovem. O que não faltam são pretendentes dispostas a dividir riqueza e prestígio com ele. Os homens, por sua vez, também não deixam de admirá-lo e respeitá-lo pelas suas posses e influência. No entanto, Orlando não opta pelo caminho fácil. Ele se apaixona por uma nobre russa, de temperamento forte, e o romance não termina como ele gostaria.

Sentindo-se preterido, sensação que não lhe era comum, Orlando se enclausura em seu castelo, disposto a se dedicar à literatura, gosto que cultivava há muito tempo, mas que não era considerada atividade digna para nobres. A paixão pela arte acaba por decepcioná-lo também:

Cedo, no entanto, se deu conta de que as batalhas que Sir Miles e os demais haviam travado contra cavaleiros de armadura para se apoderar de um reino não foram nem de longe tão árduas quanto a que agora empreendia contra a língua inglesa para conquistar a imortalidade.

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[Lista] 24 livros para ler em 2018 (parte 1)

Mais poesia e mais mulheres: esse é o tom da minha lista de leituras para 2018! Hoje, eu trago 12 livros que quero ler neste ano e, na próxima semana, é a vez de a Tatá listar os escolhidos dela.

1. Amiga de Juventude, de Alice Munro, será meu reencontro com essa canadense Nobel de Literatura e rainha das narrativas breves. O livro reúne dez contos em que episódios cotidianos versam sobre a delicadeza dos relacionamentos, como amizades, casamentos e relações entre pais e filhos.

2. As Alegrias da Maternidade, de Buchi Emecheta, veio no kit de outubro da Tag Livros, indicado pela maravilhosa Chimamanda Ngozi Adichie. Esse é o primeiro livro de Emecheta publicado no Brasil. Seu trabalho aborda temas como escravidão, independência feminina, maternidade e liberdade. Alguma dúvida de que será uma ótima descoberta?

3. Bel-Ami, de Guy Maupassant, está aqui para reafirmar meu compromisso com os clássicos e com a literatura francesa. Mestre da narrativa curta, Maupassant publicou também seis romances, entre eles Bel-Ami, que é um dos mais célebres e tem como cenário a Paris da belle époque.

Quando do seu lançamento, o escritor confidenciou a um amigo: “Espero que ele satisfaça aqueles que me cobram algo mais extenso”. Considerando que, 133 anos após sua publicação, o romance ainda aparece em listas de leituras, podemos dizer que Maupassant mais do que satisfez as cobranças!

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“O homem feliz é o que não tem passado. O maior dos castigos, para o qual só há pior no inferno, é a gente recordar. Lembrança que vem de repente e ataca como uma pontada debaixo das costelas, ali onde se diz que fica o coração. (…) O passado te persegue, como um cão perverso nos teus calcanhares. Não há dia claro, nem céu azul, nem esperança de futuro, que resista ao assalto das lembranças.”

 

Rachel de Queiroz em Memorial de Maria Moura

[Lista] 5 escritoras para ler mais mulheres

Ler mais mulheres é sempre um objetivo aqui no Achados e Lidos. Para incentivar nossos leitores na semana em que o mundo celebra o Dia da Mulher, listamos cinco escritoras que, em suas obras, contam histórias de personagens femininas fortes e interessantes, seja com base em relatos reais ou fictícios!

1. Xinran: A chinesa Xinran nasceu em Beijing em 1958 e escolheu uma profissão particularmente difícil em um país controlado por um partido pouco afeito à liberdade de expressão: o jornalismo. Em seus livros, entre os quais os mais conhecidos são Testemunhas da China e As Boas Mulheres da China, Xinran parte dos relatos de pessoas comuns para contar a história de um país que passou por transformações traumáticas nos últimos 50 anos, que trouxeram desenvolvimento ao mesmo tempo em que deixaram uma parte dos cidadãos à margem do progresso. 

A escritora, que passou pelo Brasil em 2009, se preocupou, especialmente, em dar voz às mulheres esquecidas nesse processo. Grande parte desses relatos foram colhidos durante o período em que Xinran apresentou um programa de rádio muito popular, Palavras na Brisa Noturna, no qual entrevistava mulheres de diferentes condições sociais para tentar entender como viviam essas personagens em um ambiente opressivo, humilhante e miserável.

A maioria das pessoas que me escreviam na rádio eram mulheres. Geralmente eram cartas anônimas ou assinadas com um nome fictício. Muito do que diziam me causava um choque profundo. Eu achava que compreendia as chinesas. Lendo as cartas, percebi como estava enganada. Elas viviam uma vida e enfrentavam problemas com que eu nem sequer sonhava.

O livro é de uma sensibilidade aguçada e mostra, além das agruras do mundo material, a falta de convívio sentimental que prevalecia na China. 

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