Leitor no divã (página 4 de 13)

Nós, leitores, somos seres cheios de manias. Queremos sentir que não estamos sozinhas no mundo com nossas, digamos, peculiaridades. Leia, identifique-se e comente!

[Divã] Mais poesia, por favor

Ler mais poesia é uma das minhas metas literárias para 2018. Comecei o ano bem, com Rabo de Baleia (Alice Sant’anna) e Um Amor Feliz (WisławaSymzborska). Parece pouco, mas esses dois títulos já são uma vitória, considerando que, para mim, poesia é um gênero extremamente desafiador.

Interpretação é uma habilidade necessária a qualquer tipo de leitura. No entanto, para poesia, ela é vital. Entre um verso e outro cabem mais possibilidades de compreensão do que entre a primeira e a última página de um grande romance.

A concisão do formato em versos exige certos malabarismos com a linguagem que trazem, ao mesmo tempo, beleza e abertura ao texto. A escassez de palavras na poesia, quando comparada à prosa, faz com que elas ganhem muito mais força nesse gênero. Embora pareçam jogadas ao vento, são escolhidas milimetricamente, levando em conta a multiplicidade de significados. Carlos Drummond de Andrade em seu Consideração do Poema, descreve bem essa tarefa:

Não rimarei a palavra sono
Com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convêm.
As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre, por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.

Concordo com quem diz que ler poesia é mais sentir do que entender. Eu costumo demorar bem mais em dez versos do que em dez páginas de um romance. Leio e releio, em busca de sentido. Mas às vezes, só consigo enxergar a beleza das palavras e ouvir o ritmo das rimas, descobrindo uma nova possibilidade a cada leitura.

Antes, essa oscilação me frustrava, mas tenho aprendido a apreciá-la. Confesso que os poetas que flertam com a prosa, como João Cabral de Melo Neto e a própria Wisława Szymborska, são ainda os que mais me atraem, mas tenho tentado diversificar esse leque.

Sobre essa separação entre gêneros literários, aliás, a poeta polonesa Nobel de Literatura tinha uma opinião bastante contundente. Ela não acreditava em uma divisão drástica entre prosa e poesia. Em uma entrevista de 1975, Szymborska disse: “Parece-me que esses críticos que acham que eu às vezes escrevo como que novelinhas em miniatura, que são na verdade pequeninas histórias com alguma ação – talvez tenham razão.” Em seu poema Medo do Palco, ela vai ainda mais longe:

Poetas e escritores,
É assim que se diz.
Logo, poetas não são escritores, então o quê –

O caminho contrário também pode acontecer: em vez de “novelinhas em miniatura”, versos encadeados formando longas novelas. Temos a sorte de um dos grandes nomes contemporâneos da prosa poética ser da literatura portuguesa. Poder ler o texto original de Valter Hugo Mãe é não perder a beleza de versos disfarçados de frases, como estas que aparecem em Homens Imprudentemente Poéticos:

Esperaram pelo sono para se mudarem para o dia seguinte. Havia sempre esperança na travessia nocturna. Cada deus revia a criação no quieto da noite, acender os dias era sempre a possibilidade de uma nova criação. Era importante dormir com esperança.

E você, gosta de poesia ou prosa poética? O que mais chama sua atenção? Deixe aqui nos comentários suas dicas de leitura!

[Divã] O que você faz com o seu tempo?

Tenho me feito a pergunta do título desse post com frequência: para onde vai o tempo que antes eu conseguia dedicar à leitura?

A reflexão, claro, tem a ver com o fato que chegamos aos últimos dias de janeiro e eu li… só um livro até agora (a resenha de O Deus das Pequenas Coisas está aqui). A confissão um pouco embaraçosa para quem mantém um blog literário cujo propósito é justamente estimular as pessoas a ler mais serve justamente para me fazer pensar no que está atrapalhando minha rotina de leitora.

Bom, o primeiro culpado, sem dúvida, são as redes sociais. Vocês já devem ter esbarrado por matérias mostrando como você poderia ler 400 livros por ano se não perdesse metade da sua vida divagando pelo Instagram, não é?

O pior é que elas são, em grande parte, verdadeiras. Antes do advento do celular com internet, eu levava um livro para todos os lugares, no melhor estilo Rory, de Gilmore Girls. Hoje em dia, muitas vezes me pego divagando pelo celular na espera pela consulta, ou no ônibus, em vez de me dedicar ao livro que viaja comigo.

Essa perda de tempo incessante já ganhou até sigla: foma (fear of missing out, ou medo de estar por fora, em uma tradução livre). Se você checa o Facebook a cada cinco minutos ou rola a timeline do seu instagram até não ter mais novidades, é provável que você se encaixe no perfil.

Reconheço meu problema, mas isso não me livra  do vício. Enquanto escrevia esse texto, por exemplo, parei diversas vezes para checar minha redes, mesmo sabendo que eu tinha outras prioridades para o dia (também poderíamos dizer que eu estava procrastinando, mas essa é outra discussão).

A concentração para a leitura também fica mais difícil. Seja por cansaço, desatenção ou as mil tarefas do dia a dia, anda difícil conseguir ler, ainda mais clássicos, como me propus no início deste ano. Para superar esse momento, andei vasculhando outros blogs em busca de dicas para ler mais. Tem quem tenha suporte para ler almoçando, ou quem aproveite qualquer situação para avançar algumas páginas. Mas o que mais me surpreende é que muitos têm horários e metas bastante exigentes de leitura ao longo da semana. Uma hora de leitura antes de ir para o trabalho, mais uma durante o almoço, duas no fim do dia. Não há como não admirar a autodisciplina, mas acho que esse plano nunca funcionaria pra mim.

A leitura, como já disse aqui várias vezes, é uma atividade prazerosa, uma porta de escape da rotina, do trabalho, do mundo de prazos, metas e cobranças a que somos submetidos diariamente. Por isso, sempre foi uma atividade livre, descomprometida.

No entanto, notei que nos últimos tempos isso tem me levado a escolher romances menos desafiadores (o que não significa piores, que fique claro), menores e de linguagem mais acessível.

Como a meta para o ano é voltar para os clássicos, que andam meio escanteados há um tempinho, vou precisar de técnicas para ler mais!

Querem sugerir por aqui?

 

[Divã] Literatura além dos livros

“Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” Será que a arte segue a máxima de Lavoisier? Recentemente, tive uma ótima (e produtiva!) discussão entre amigos sobre esse tema, e resolvi trazê-lo para o blog.

Quantas adaptações – musicais, cinema, teatro – você já viu de Os Miseráveis, de Victor Hugo? E de Romeu e Julieta? Quais histórias habitam tanto a sua estante de livros quanto sua prateleira de DVDs? O intercâmbio entre a literatura e outras formas de arte não é incomum. Embora os resultados nem sempre sejam satisfatórios (sou do time que sempre prefere o livro), há diversas adaptações bem-sucedidas.

Quando falamos de cinema, e ainda mais de televisão, essa troca desempenha um importante papel na popularização de obras literárias e no incentivo à leitura. No entanto, alguns limites têm que ser observados, para que a referência não se perca em algum momento. Afinal, é tênue e bastante delicada a linha que separa as releituras dos plágios.

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[Divã] Retrospectiva literária de 2017

39 livros e contando. Terminei meu 2017 literário muito satisfeita, não só com as 9202 páginas lidas, mas pelos achados, reencontros e experiências que esse ano me proporcionou.

O blog já tem um ano e nove meses de vida e seguimos firmes e fortes, com um ritmo alucinante de publicações. Já tivemos por aqui quase 100 resenhas, 50 listas e 50 textos no Leitor no Divã, além do Marque a Página semanal e do Clube do Livro, que já vai para sua décima edição. Cada texto que publicamos tem em média uma página e meia do Word. Deixo as contas com vocês, porque não sou muito boa nisso, rs, mas sei que é muito conteúdo.

Eu e Tatá tivemos mudanças profissionais em 2017 e confessamos que não foi nada fácil conciliar o blog com as demandas do trabalho. Não foram poucas as semanas em que parecia que não ia dar tempo de terminar a leitura ou escrever o texto. Nossa parceria e o orgulho pelo que construímos aqui manteve aceso nosso compromisso.

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[Divã] Um continente, diferentes perspectivas

Sempre falamos por aqui que a literatura é uma porta aberta para o mundo. Os livros estão sempre nos fazendo enxergar novos ângulos, fronteiras e personagens. Isso acontece porque também a literatura está em constante mutação, abrindo espaço para vozes que antes não reverberavam mundo afora.

Essa transformação parece ter acontecido, de certa forma, com a literatura africana que ganhou as prateleiras brasileiras nos últimos tempos. Essa é, claro, uma opinião que parte de uma experiência pessoal. Mas se até pouco tempo a produção ficcional sobre o continente era predominantemente masculina e escrita do ponto de vista do colonizador, começamos a ver autoras que falam sobre o conflito entre herança colonial e o conhecimento tradicional de forma aberta, passando por questões como racismo e o lugar da mulher na sociedade de um modo que não víamos até então.

Isso não quer dizer, obviamente, que devemos desmerecer a ficção de nomes como Le Clézio e J. M. Coetzee. Embora tenha nascido em Nice, Le Clézio cresceu em uma família fraturada pela guerra e viveu por alguns anos na Nigéria, quando era bastante jovem. Sobre esse período, escreveu um lindo relato sobre a busca por sua origem, por um pai desaparecido que poderia estar em todos os lugares, por uma identidade que já não encontrava.

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