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[Divã] Feminismo virou palavrão?

Nas últimas semanas, tenho gostado muito de ouvir podcasts indo e vindo do trabalho. Já comentei aqui que cheguei atrasada nesta onda, mas estou tentando compensar o atraso. Um dos meus programas favoritos, neste breve período de vício, é o Maria vai com as outras, da revista piauí. Dedicado às mulheres e ao mercado de trabalho, a jornalista Branca Vianna traz, duas vezes por mês, entrevistas com algumas convidadas sobre o tema.

Nesta semana, para contar como é atuar em profissões historicamente masculinas, foram convidadas Adinaildes Gomes, dona de uma empresa de construção civil e motorista de aplicativo, e Karla de Souza, vigilante patrimonial. Anteriormente, para discutir o papel das mulheres na política, a jornalista conversou com as vereadoras Talíria Petrone e Patrícia Bezerra, e com a senadora Kátia Abreu.

São perfis bastante diferentes. Uma coisa apenas as une: todas elas, com a exceção de Talíria Petrone, responderam que não são feministas. Mesmo afirmando, como a senadora Kátia Abreu, que é necessário compensar a saia, o que não dá espaço para que as mulheres errem na política. Ou como Adinaildes, que enfrentou diversas barreiras e preconceitos para ser respeitada como empresária da construção civil.

O que nos leva, fatalmente, a uma pergunta: por que o feminismo virou um palavrão, que mais afasta do que aglutina, mesmo a quem claramente luta por direitos iguais?

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[Lista] 15 escritoras que você precisa ler

Um blog escrito por duas mulheres não poderia passar a semana do Dia Internacional da Mulher sem uma lista como esta, não é mesmo? Como disse Rebecca Solnit, em um dos ensaios da coletânea A Mãe de Todas as Perguntas, “a história do silêncio é central na história das mulheres”. Acreditamos que a literatura, enquanto espaço de fala, tem um papel fundamental na virada desse jogo. Vamos, então, ler mais mulheres e contribuir para um futuro com menos vozes femininas silenciadas? O que não faltam são opções!

1. Alice Munro: a canadense, Nobel de Literatura, é considerada a “mestra do conto contemporâneo”. Os personagens fortes, quase sempre mulheres, e a linguagem precisa de Munro garantem que seus textos, mesmo que breves, tenham a profundidade de um romance. Por aqui, já publicamos a resenha de Fugitiva.

2. Chimamanda Ngozi Adichie: quem acompanha o blog há um tempo dispensa a apresentação dessa autora nigeriana, de quem tanto falamos por aqui. Nosso primeiro Clube do Livro foi com um título dela, Hibisco Roxo, e a Tatá também já escreveu um pots bastante esclarecedor do porquê essa escritora tem que fazer parte da sua lista de leituras: 5 razões para ler e amar Chimamanda Ngozi Adichie.

3. Clarice Lispector: dona de uma prosa poderosíssima, que escancara a alma humana e desafia os limites da linguagem, Lispector é um dos maiores nomes da literatura mundial. Nós, brasileiros, ainda temos a sorte de poder lê-la no original e captar toda beleza e profundidade da sua escrita. Aqui no Achados, já resenhamos A Paixão Segundo G.H.

4. Margaret Atwood: descobri a literatura de Atwood no ano passado, quando lemos Dicas da Imensidão, sua coletânea de contos, em nosso Clube do Livro. Nessa mesma época, foi lançada a série baseada em seu romance O Conto da Aia. Com uma linguagem precisa e cortante, Atwood se destaca por colocar em pauta fortes embates e dilemas morais sob uma narrativa fluida e bem construída.

5. Maria Valéria Rezende: uma das melhores descobertas que a Flip 2017 me proporcionou! Talento da literatura brasileira contemporânea, bem-humorada e sem papas na língua, essa freira missionária de 76 anos, que vive em João Pessoa e dedicou grande parte da sua vida à educação e aos direitos humanos, tem uma literatura que expressa as cores do nosso país, sem perder de vista nossos problemas mais urgentes e a condição da mulher na sociedade. Veja a resenha do seu romance Quarenta Dias.

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[Resenha] A Mãe de Todas as Perguntas

Ler Rebecca Solnit é ter a sensação de que o emaranhado de percepções que você tem sobre o mundo de repente se organiza em uma narrativa clara, que dá vontade de sair contando para todo mundo, tamanha a urgência das suas reflexões. A Mãe de Todas as Perguntas, livro recém-lançado pela Companhia das Letras, reúne ensaios da escritora e historiadora norte-americana sobre os novos feminismos, resgatando as premissas desse movimento e identificando, de maneira objetiva, as forças que tentam neutralizá-lo.

Um dos temas que perpassa quase toda a coletânea é o silêncio. A partir de exemplos passados e atuais, Solnit mostra como a história das mulheres é marcada pelo não dito. Privar-nos dos lugares de fala é, há séculos, a principal estratégia do patriarcado para forjar a legitimidade do seu discurso:

O silêncio é o que permite que as pessoas sofram sem remédio, o que permite que as mentiras e hipocrisias cresçam e floresçam, que os crimes passem impunes. Se nossas vozes são aspectos essenciais da nossa humanidade, ser privado de voz é ser desumanizado ou excluído da sua humanidade. E a história do silêncio é central na história das mulheres.

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[Resenha] Os Homens Explicam Tudo Para Mim

Recentemente, estava almoçando com um grupo de amigos e um deles, uma mulher, nos contava sobre um duro e competitivo processo seletivo que ela participou no mês passado. A última etapa consistia em painéis com mais três competidores e uma banca formada por nomes de peso da área de negócios. Uma das concorrentes então começou a falar de seu tema e apresentou dados consistentes em sua argumentação, baseados em uma matéria do jornal inglês The Guardian. Um dos figurões contestou os números de forma constrangedora, sem permitir que a garota seguisse com seu raciocínio a partir das informações que ela tinha frescas na memória. Ao fim do debate, ela checou o celular e, como esperava, os dados que havia citado para embasar sua apresentação estavam certos.

A situação é bastante familiar para a maior parte das mulheres: em uma discussão, um dos homens do grupo assume o protagonismo no debate e impede, ou invalida, a argumentação feita por uma mulher. Mesmo quando elas eram as palestrantes. Mesmo quando elas eram as convidadas. Mesmo quando elas estavam se apresentando para conseguir uma bolsa de estudos.

Em Os Homens Explicam Tudo Para Mim, um ensaio sobre o silêncio como (mais uma) uma forma de opressão das mulheres, Rebecca Solnit narra várias experiências desse tipo. A que a levou a escrever esse texto e, posteriormente, publicá-lo ao lado de outros ensaios como um livro, é emblemática: certa vez, com uma amiga em um evento em Aspen, ela se sentou para conversar com um “homem importante que já havia ganhado muito dinheiro”.

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