[Divã] Retrospectiva literária 2016

31 livros, 5642 páginas. Meu ano literário foi muito mais que isso. O marco zero desta retrospectiva tão positiva não poderia ser outro: em 2016, nasceu o Achados & Lidos.

Com o blog, tornei-me uma leitora melhor. E me refiro mais à qualidade que à quantidade. As resenhas do Notas de Rodapé e principalmente o Clube do Livro me ensinaram a digerir o que eu leio. Também perdi a conta de quantas vezes vasculhei minhas prateleiras nos últimos meses em busca de títulos para escrever uma Lista da Semana, um Leitor no Divã ou um Marque a Página. Folheei os livros, reli trechos, lembrei-me de personagens. Minha memória literária nunca trabalhou tanto. E foi ótimo.

Também me engajei mais com temas literários. Na ânsia por compartilhar notícias relevantes desse universo com nossos leitores, redobrei a atenção para as novidades. Acompanhei premiações como se fossem final de Copa do Mundo. Vibrei com Raduan Nassar vencendo o Prêmio Camões, empolguei-me com o Julián Fuks ganhando o Prêmio Jabuti e estou até agora tentando entender o Nobel de Bob Dylan (confesso que esse último foi como assistir a um gol contra).

Nunca comprei tantos livros em pré-venda. A leitura que mais me impactou em 2016 estava nessa lista dos aguardados ansiosamente. Vozes de Tchernóbil, de Svetlana Aleksiévitch, foi lançado em abril e entrou, sem hesitação, para a segunda edição do nosso Clube do Livro.

Aleksiévitch lidera também uma outra lista que foi bastante produtiva neste ano: a dos escritores que li pela primeira vez. Além dela, foram mais treze descobertas memoráveis: Chimamanda Ngozi Adichie (já completei a coleção e assisti a todos os vídeos dela no YouTube), Vanessa Barbara (renovando a fé na literatura brasileira), Valeria Luiselli (A História dos Meus Dentes foi o romance mais original que li no ano), Émile Zola (ah, os clássicos franceses… <3), Thomas Mann (comecei uma coleção ma-ra-vi-lho-sa!), José Luis Peixoto (Galveias, que texto lindo!), Clarice Lispector (encontro tardio, mas inesquecível), Bill Clegg (obrigada, Flip), Albert Camus (melhor compra da viagem de férias), Milton Hatoum (fiquei com vontade de embarcar para Manaus no dia seguinte), Inés Bortagaray (muito amor pelas promoções da Amazon), Raduan Nassar (Prêmio Camões, obrigada por ter ligado o holofote) e Juan Rulfo (passei a ter uma missão: espalhar Rulfo pelo mundo).

2016 também foi o ano em que reeditaram Breves Entrevistas com Homens Hediondos, de David Foster Wallace. Eu já tinha procurado em sebos, tentado ler em inglês e até cheguei a deixar um comentário no melhor estilo “nunca te pedi nada, vai…” no site da Companhia das Letras. Minhas preces foram ouvidas. Não é uma leitura fácil e ainda preciso amadurecer minhas ideias antes de resenhá-lo, mas Wallace é sempre uma experiência literária.

Meia-Noite e Vinte, de Daniel Galera, foi outra grata surpresa de 2016. Depois de quatro anos de orfandade, desde Barba Ensopada de Sangue, ele voltou para minha prateleira. Meia-Noite não superou o Barba, mas reafirmou Galera como um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea.

Na categoria dos reencontros, dois me marcaram: Ian McEwan e Valter Hugo Mãe. Não lia McEwan há mais de cinco anos e, quando soube que ele viria ao Brasil, decidi que era hora de retomar contato. Apostei no título mais famoso e não me arrependi. Reparação é um romance por excelência – tem tudo que uma narrativa de sucesso exige.

Quanto a Hugo Mãe, recebi com entusiasmo a notícia do relançamento de sua obra pelo selo Biblioteca Azul. Embora eu tenha gostado muito de A Desumanização, fiquei mais de um ano sem ler nada dele. A Máquina de Fazer Espanhóis, que estamos quase acabando no Clube do Livro, é apaixonante. Como é possível alguém tão jovem escrever com tanta sensibilidade e domínio da linguagem?

Mais do que contato pelas páginas dos livros, tive o privilégio de, neste ano, ver esses dois escritores pessoalmente. E eles não foram os únicos. Conheci e ouvi também Mario Vargas Llosa, Karl Ove Knausgård, Benjamin Moser e Svetlana Aleksiévitch.

Esses últimos fizeram parte da minha experiência literária mais marcante do ano: a Flip. Eu sempre me planejava para ir, mas, no fim, aparecia outra prioridade. O blog me deu o incentivo que faltava. Foram três dias que reafirmaram minha paixão pela literatura. Os escritores que palestraram e o clima que vivenciei me mostraram que estou no caminho certo. Livros tornam as pessoas melhores.

Com o blog, evoluí como leitora. Redescobri a escrita. Ganhei uma válvula de escape. Vi que há espaço para literatura em nosso país. Me diverti pensando em pautas. Aprimorei minhas habilidades fotográficas (por favor, digam que sentiram uma melhora nas imagens dos posts, rs). Aprendi mais sobre disciplina (prazos de publicação são sagrados). Entendi a importância de ter um celular com bateria carregada (cobertura real time não é para blogueiras beginners).

O Achados & Lidos também me deu a oportunidade de valorizar ainda mais uma parceria que nasceu há quase dez anos. Não é sempre que encontramos na vida uma amizade em que discussões literárias, reflexões políticas e projetos robustos como este blog fluem com a mesma sintonia e leveza que comentários sobre partidas de tênis, Gilmore Girls e red carpets. A #mariblogueira não existiria sem a #tatablogueira, rs!

Temos ainda dezembro pela frente e, embora eu pretenda aumentar a lista de lidos, já posso dizer que 2016 foi um ano cheio de experiências e boas memórias que nasceram nos livros e foram muito além deles.

Mariane Domingos

Mariane Domingos

Eu amo uma boa história. Se estiver em um livro, melhor ainda. / I love a good story. If it has been told in a book, even better.
Mariane Domingos

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4 Comentários

  1. Graças ao blog considero a minha retrospectiva literária/2016 feliz e produtiva 🙂 A paixão por leituras e livros q vcs apresentam (nos ótimos textos e belas fotos) é contagioso. Tive a oportunidade de aumentar minha lista de livros lidos e passei a ter uma leitura mais atenta. Ah!!! Minha meta para 2017 só aumenta.

  2. Já de largada foram quatro livros com o Clube do Livro. Li muito mais este ano, e uma leitura mais atenta.
    Para 2017 já tenho uma lista de incríveis resenhas do blog.
    Parabéns pelo lindo texto de retrospectiva.

    • Mariane Domingos

      4 de dezembro de 2016 at 21:31

      Obrigada, Lilian! Foi muito prazeroso escrever esse texto – quando as histórias são boas, a caneta desliza com facilidade. Ficamos muito satisfeitas em ouvir que o blog tem incentivado a leitura. Estamos no caminho certo, então. Esperamos você por aqui em 2017! 🙂

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